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Vandalismo contra o fascismo

Uma cruz suástica e palavras de ordem estão pintadas no busto de general do antigo regime

Uma enorme suástica pintada a amarelo, um borrão de tinta vermelha e expressões pouco abonatórias são os mimos com que alguns habitantes de Tomar decidiram brindar o busto de um general do antigo regime, instalado recentemente num jardim da cidade.

O busto do general Fernando de Oliveira, ex-presidente da Câmara de Tomar e antigo comandante nacional da PSP durante o Estado Novo, foi inaugurado há poucas semanas sob polémica e continua a motivar reacções de desagrado. Situado no jardim da Várzea Pequena, o monumento apresenta agora uma enorme cruz suástica amarela e um borrão de tinta vermelha feitos numa das noites da quadra natalícia. Em cima e de cada lado do busto do general aparece a palavra “fascista” pintada a negro, pela mesma mão que terá também executado uma cruz na testa do antigo presidente da câmara. Na parte lateral esquerda do monumento de mármore uma frase que demonstra o ódio contra os que pactuaram com o regime de Salazar – “filhos da puta fascistas”.Ninguém sabe quem ou quantos vandalizaram o busto de Fernando de Oliveira, colocado no jardim da Várzea Pequena a 21 de Dezembro, numa iniciativa da Casa do Concelho de Tomar, sediada em Lisboa.O alerta para a devassa do monumento foi feito através de um telefonema anónimo para a PSP de Tomar, por volta das oito horas da manhã do último sábado. Como qualquer acto de vandalismo público é considerado crime de natureza pública, carecendo assim da obrigatoriedade de apresentação formal de queixa, a polícia de Tomar tomou conta da ocorrência, denunciando a situação ao Ministério Público.“Desde que a autoridade tenha conhecimento de uma situação deste género tem obrigatoriamente de avançar com o processo para as entidades competentes, neste caso o Ministério Público”, referiu ao nosso jornal o comandante da PSP de Tomar.Quatro dias após o alerta, tanto o executivo camarário como os responsáveis pela Casa do Concelho de Tomar desconheciam a situação. Foi o nosso jornal quem deu a notícia a Nuno Cruz, responsável pela associação que tomou a iniciativa de prestar homenagem a Fernando de Oliveira.Visivelmente revoltado com a situação, o presidente da Casa do Concelho de Tomar preferiu não fazer nenhum comentário “a quente”, remetendo para o final da semana uma posição oficial sobre o assunto.Também o vice-presidente da Câmara de Tomar foi apanhado desprevenido. Em declarações a O MIRANTE, Corvelo de Sousa referiu que “não são admissíveis quaisquer actos de vandalismo”, adiantando que a câmara irá agora tentar limpar o monumento.Nunca em Tomar uma homenagem, mesmo a título póstumo, gerou tanta polémica e controvérsia. Se os responsáveis da Casa do Concelho de Tomar adivinhassem o que se iria passar pensariam duas vezes antes de colocarem o busto de Fernando de Oliveira num jardim público da cidade.Logo no dia da homenagem, que decorreu no domingo, 21 de Dezembro, o Bloco de Esquerda fez questão de colocar uma faixa de desagrado à iniciativa. Na Imprensa local surgiram cartas abertas e opiniões mais ou menos ofensivas aos promotores da iniciativa e a todos quantos a apoiaram ou simplesmente deram o seu aval. As posições esquerdistas não pouparam também os membros do executivo camarário, particularmente os vereadores da oposição socialista. O que levou mesmo a que, na última reunião de câmara, o vereador Fernando Santos respondesse na mesma moeda a quem publicamente o apelidou de, entre outros mimos, oportunista.Na última sexta-feira, pela calada da noite, passou-se das palavras aos actos. Tal como se fazia no Portugal de Salazar.Margarida Cabeleira

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