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Um laboratório genético com 167 hectares

Um laboratório genético com 167 hectares

Centro de Experimentação dos Soidos garante a preservação de espécies para melhorar a agricultura

Num espaço a perder de vista, recortado por várias tonalidades de verde, estende-se um enorme laboratório genético de oliveiras e videiras. No Centro de Experimentação e Formação Profissional dos Soidos luta-se pela preservação de espécies.

No meio de um caminho onde mal cabe um carro, na zona de Soidos, Freguesia de Abitureiras, Santarém, encontra-se uma herdade da Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste. À primeira vista os 167 hectares do Centro de Experimentação e Formação Profissional dos Soidos (CEFPS) parecem ser apenas uma manta de retalhos, com vários tipos de culturas. Mas no imenso terreno, guarda-se um valioso património genético, sobretudo de olival, e uma pequena parcela de vinha. A grande preocupação dos responsáveis pelo centro é evitar a erosão genética das espécies, sobretudo das oliveiras, que ocupam grande parte do espaço da herdade. Até porque, no entender do coordenador dos centros da Direcção Regional de Agricultura, Paulo Monteiro, a olivicultura “é um dos pilares da agricultura portuguesa”. “Temos boas condições a nível nacional para a produção de azeite, apesar de haver um problema com a falta de mão-de-obra”, revelou aquele engenheiro. E apesar da produção ter vindo a descer no país - de 150 mil toneladas, nos anos 50, para menos de metade actualmente - os técnicos acreditam que esta pode ser a cultura do futuro. Por isso vão fazendo um esforço para que não se perca a variedade de oliveira característica do País, que é a galega. Até porque dá um azeite de boa qualidade e distinto dos restantes oriundos de variedades espanholas. Por isso, no centro insiste-se ao longo do ano na multiplicação das oliveiras que posteriormente são vendidas ao público. Para isso recorre-se às árvores existentes na herdade. Através de uma poda radical que consiste no corte de toda a ramagem, ficando apenas os troncos principais que não atingem uma altura superior à cintura humana, potencia-se o rebentamento de pequenos ramos. Estes são cortados em pedaços do tamanho de um palmo, a que se chama estacas. Numa estufa existem três bancadas, levando cada uma cerca de 33 mil estacas colocadas ao alto. Através da adição de hormonas de enraizamento, de uma temperatura regular e de regas controladas surgem pequenas novas oliveiras. Árvores que vão garantir a renovação do olival. Segundo Paulo Monteiro, já se começa a assistir a um interesse, por parte dos agricultores, na produção de azeite. “O olival foi sempre uma cultura desprezada. Há outras culturas que ocupam mais as pessoas que acabam por deixar os seus olivais para segundo plano”, diz o engenheiro, acrescentando que já se está a verificar uma mudança, embora lenta. Outro património valioso situa-se na parcela de terreno ocupado por vinha, onde existe uma casta típica da região e que acabou por se extinguir. Trata-se da casta Preto Martinho que tem vindo a ser preservada pelos técnicos do centro experimental. “Guardamo-la porque pode vir a ser procurada e, nessa altura, temos o material genético para fornecer aos agricultores”, explicou. Num espaço de terreno a perder de vista, detectam-se ainda outras espécies que foram sendo plantadas na herdade com o objectivo de se fazerem estudos de adaptação ao clima e solo português. É o caso das nogueiras americanas e dos pistácios. Neste enorme laboratório genético, adquirido pelo Ministério da Agricultura há 20 anos, pode encontrar-se ainda um rebanho de ovelhas e carneiros. Em tempos, os ovinos foram usados para técnicas de melhoramento da raça (Merino Branco). Mas, neste momento, o efectivo de 233 animais é usado apenas como factor de rentabilização do centro, de modo a fazer face às despesas da herdade. No entanto, os técnicos esperam que um dia o rebanho venha a ser usado para outros fins através de protocolos com associações do sector. Paulo Monteiro dá o exemplo do que se está a fazer no Centro Experimental de Pegões, onde vai ser instalado um centro de inseminação artificial e melhoramento da raça de ovelha saloia. Nesta herdade, que parece igual a tantas outras, afinal há particularidades que muita gente se calhar desconhecia. Mas não se julgue que o CEFPS é um espaço fechado. Aliás, há todo o interesse em abrir as portas à comunidade seja para colaborar em projectos, seja para simples visitas. No ano passado o centro recebeu a visita de mais de 500 pessoas que estavam a tirar cursos de empresários agrícolas, para além de agricultores e alunos de escolas.
Um laboratório genético com 167 hectares

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