uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Património sem abrigo

Património sem abrigo

Peças históricas dos séculos XV e XVI depositadas nos estaleiros da Câmara de Almeirim

Algum espólio histórico que se encontrava no museu etnográfico de Almeirim, entretanto desactivado, foi depositado nos estaleiros do município sem qualquer abrigo ou protecção.

Algumas peças de valor histórico foram descobertas por O MIRANTE nos estaleiros da Câmara de Almeirim. Uma delas, um banco com azulejos do século XV, apresentava sinais evidentes de degradação. Esta peça e mais três pedras tumulares estavam colocadas no chão, sem qualquer protecção, convivendo lado a lado com manilhas e tijolos. O presidente da Associação de Estudo e Defesa do Património de Almeirim, Eurico Enriques, ficou indignado com a situação.As peças foram retiradas pela autarquia do museu etnográfico no início de Dezembro. Altura em que a sala que guardava vestígios históricos do concelho, situada no edifício da Casa do Povo, entrou em obras para alargamento do serviço locais de Segurança Social. O município já tinha sido avisado há dois anos que as peças tinham de sair do local, mas como as obras foram sendo adiadas só há cerca de um mês é que a autarquia se viu forçada a encontrar um abrigo para as peças. A situação em que se encontravam as peças nos estaleiros municipais, na zona industrial da cidade, não salvaguardava a sua preservação. Na sexta-feira, altura em que O MIRANTE descobriu o caso, uma das pedras tumulares, pertencente a um nobre e datada do século XVI, tinha água da chuva acumulada. Uma situação que deixou o presidente da Associação de Estudo e Defesa do Património de Almeirim indignado. “Isto é incrível. A câmara devia ter arranjado um espaço condigno e abrigado. A água tem um efeito de desagregação da pedra, que se vai operando através de infiltração. Se as lajes continuarem ao ar livre não vão resistir por muito tempo”, sublinhou Eurico Enriques. E acrescentou: “As pedras estiveram durante muitos anos dentro de uma sala com um clima próprio. Colocá-las de repente ao ar livre cria um efeito químico que leva à sua degradação”. Recorde-se que as peças foram objecto de uma limpeza em 1986, com vista à sua preservação. Atendendo a que Almeirim tem poucos vestígios do passado, Eurico Enriques desabafou ser “frustrante saber estas coisas”. E criticou o facto de a autarquia raramente contactar a associação para pedir conselhos, informações, ou para em conjunto encontrarem soluções para a salvaguarda do património concelhio. O banco revestido com azulejos hispano-árabes foi retirado do paço real de Paço dos Negros, freguesia de Fazendas de Almeirim. O monumento foi construído no século XVI, restando apenas a portada que daria acesso ao pátio e que é coroada por 6 merlões da época manuelina. As lajes tumulares são oriundas do Convento da Serra, situado entre Almeirim e Raposa. O convento foi mandado construir por D. Manuel I em louvor a Nossa Senhora do Convento da Serra.Segundo o vereador da Cultura da Câmara de Almeirim, as peças tiveram que ir para a zona industrial “numa situação de desespero”. No entanto, garantiu João Torres, havia indicações para que estas fossem colocadas debaixo de telha, o que não aconteceu. O vereador, que após ter sido contactado por O MIRANTE ordenou a transferência das peças para local coberto, salientou ainda que a sua primeira preocupação foi assegurar que as mesmas não fossem roubadas. João Torres esclareceu ainda que a autarquia está empenhada em arranjar um local para mostrar estes e outros vestígios históricos às pessoas.
Património sem abrigo

Mais Notícias

    A carregar...