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Carros velhos e fardas rotas

Vigilantes da Natureza queixam-se das condições em que trabalham e da falta de meios

Os guardas e vigilantes da natureza trabalham em condições precárias, queixam-se da falta de material e dizem que não há formação nem meios visando o combate a incêndios.

É numa carrinha Renault 4L a cair de podre que os dois únicos Guardas e Vigilantes da Natureza patrulham os 875 hectares do sítio classificado da Agolada e Monte da Barca, em Coruche. A situação exemplifica bem a falta de meios, mas serve também de mote para criticar a falta de preparação para a vigilância, prevenção e primeiro combate a fogos florestais. A Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza (APGVN) está preocupada com as consequências que a situação pode ter no próximo Verão. O presidente da associação, com sede em Coruche, mete o dedo na ferida e fala de desinteresse do Instituto da Conservação da Natureza (ICN), que tutela o sector. “Já devíamos ter sido chamados para se fazer um planeamento da actuação em termos de incêndios. Só quando começam os fogos é que se lembram. Depois chamam-nos para ir fazer rescaldos de áreas ardidas ou para ajudar os bombeiros e nem sequer perguntam se temos meios”, denuncia José Alberto Carvalho. Mas este é só o rastilho de um monte de problemas que se arrastam há muitos anos. Os rádios usados pelos vigilantes para comunicar entre si e para dar o alerta à GNR ou aos bombeiros estão completamente ultrapassados. Alguns já nem funcionam e os profissionais a maior parte das vezes têm que usar o seu telemóvel pessoal. O fardamento também está no rol das situações que estão a indignar os homens que têm por missão guardar e preservar os parques naturais e áreas protegidas. “A maioria dos vigilantes anda com a farda rota. Quando nos mandam um par de calças novas já temos a camisa gasta. Isto dá uma má imagem da nossa profissão, do ICN e de Portugal”, sublinha o presidente da APGVN. No que toca a equipamento individual de protecção a questão assume uma gravidade maior. Os guardas e vigilantes não têm botas contra fogo, casacos anti-chamas, luvas... Isto apesar de nos últimos incêndios, em que ardeu um total de 22 mil hectares de área protegida no país, terem andado em cima de autênticos braseiros a apagar pequenos focos de incêndio. Das viaturas pouco há para dizer porque elas não chegam nem para as necessidades mínimas. O caso do Sítio Classificado da Agolada e Monte da Barca (Coruche) é o mais gritante. Há uma carrinha que tem de ser dividida por dois elementos. E o pior é que a viatura não está preparada para terrenos acidentados nem tem equipamento de primeira intervenção para fogos (kit com tanque de água, moto-bomba, mangueiras e ferramentas). Nos outros parques classificados da região - Parque Natural das Serras D’Aire e Candeeiros (PNSAC), Reserva do Paúl do Boquilobo e Reserva Natural do Estuário (na zona de Vila Franca de Xira) - as viaturas existentes já têm mais de 10 anos de serviço. “Muitas vezes somos chamados para intervir em fogos e aparecemos em viaturas sem o mínimo de condições em que as bombas de água não funcionam”, diz José Alberto Carvalho. No que toca a falta de pessoal, o PNSAC é o mais carenciado, dispondo apenas de 10 vigilantes que têm a seu cargo 80 mil hectares de terreno. “Devia haver no mínimo três equipas de três elementos diariamente, até porque o parque tem bastantes problemas respeitantes ao despejo ilegal de lixos. Mas isso não é possível porque as pessoas não podem estar a trabalhar 24 horas por dia, também têm que descansar”, sublinha. Na área do Estuário do Tejo, que vai de Lisboa a Vila Franca de Xira, com uma área total de 50 mil hectares, só existem quatro guardas e vigilantes. Para além da área florestal estes têm também a seu cargo a fiscalização fluvial. No mínimo dos mínimos, pelas contas da associação, eram precisos mais um profissional para Coruche e quatro para a Reserva do Estuário do Tejo. Com este cenário, e passados seis meses após a tragédia dos últimos incêndios, a APGVN teme que o próximo Verão seja ainda mais escaldante em termos de fogos florestais. Por isso a associação já alertou o ICN, o Ministério do Ambiente e recorreram mesmo à Comissão Europeia. Mas até agora nem novas nem mandadas, num sector que está a bater no fundo. O abandono de uma área vital é comprovado pelo próprio cartão de identificação dos profissionais que, pasme-se, caducou há oito anos. O MIRANTE contactou telefonicamente e através de fax o Instituto da Conservação da Natureza, expondo estas preocupações. Mas até ao fecho desta edição não chegou nenhuma resposta.

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