Começo por propor um voto de louvor ao bombeiro de Constância que comeu a namorada no meio da parada lá do quartel. Melhor: um para ele e outro para ela. Assim é que é justo. Até agora havia a anedota bombeiral do “Estica-me a mangueira”. Eles concretizaram o que fazia parte do imaginário erótico português. O comandante, que também é homem, deve balançar entre um castigo e uma recompensa. Mas é fácil. Ele que faça uma sondagem na corporação. Voto secreto para não haver constrangimentos. Vais ver que o resultado é favorável ao louvor e condecoração por bons serviços.O fruto proibido é o mais apetecido. Todos sabemos e todos tentamos papá-lo. Der lá por onde der. O Adão comeu a maçã da Eva. Perdeu o Paraíso mas deve ter gozado à bruta. O meu avô atirou-se à romã da minha avó que nem um leão um dia que a apanhou de rabo para o ar na apanha da azeitona. Eu próprio, confesso, já tenho a minha cota parte de prevaricações. O cinema inspira. No “Nove semanas e meia” era numas escadas, à chuva. N’ O carteiro toca sempre duas vezes”, em cima da mesa da cozinha. São umas atrás das outras. À missionário, à canzana, ao sol, na neve, nos elevadores, em cima de fotocopiadoras. Um regabofe fantástico.O mais tímido e apagado dos cidadãos tem uma ou duas aventuras do género para contar. Na praia, no campo, na piscina, no banco traseiro do carro, no confessionário da Igreja lá da terra. Eu não estou a delirar. Nem a inventar. E até vou mais longe. Quem só o fez entre os lençóis que atire a primeira pedra. E se atirar vá de seguida ao psiquiatra porque está com problemas há muito tempo. Desde a primeira vez, pelo menos.O valente bombeiro de Constância e a sua namorada não merecem castigo. Não podem ser bodes expiatórios da saudável depravação erótica mundial. Eu sei que o Papa e a Santa Madre Igreja me atirariam para uma fogueira bem grande se eu estivesse a escrever isto no século XVI, mas não estou. O mais que pode acontecer é o director receber uma carta de um leitor mais circunspecto a pedir para ser desarriscado da lista de assinantes. E posto isto vamos a outros delírios. Li um dia destes, não sei em que jornal, que entre as grandes ideias dos responsáveis pela Câmara de Santarém para o futuro está um funicular que ligará a zona da Ribeira ao planalto. Eu digo que li, mas confesso que não consegui ler tudo. Comecei-me a rir no início do parágrafo e já não cheguei ao fim.Esta coisa de ir ao sótão das velharias buscar umas idiotices para apresentar como inovações é mesmo de político que se preze. O senhor Miguel Noras, quando era presidente da Câmara de Santarém, anunciou que ia tratar do funicular. D. João II quando vinha para estes lados caçar e correr atrás das aias da rainha também deve ter prometido o mesmo ao bom povo escalabitano. Já não sei o que te diga, Serafim. Se calhar sou eu que estou a perceber mal. Se calhar funicular quer dizer outra coisa. Um funil no ar, por exemplo. Um funil de cu p’ró ar. Se souberes algo que eu não saiba, diz.Não podia despedir-me de ti sem uma referência ao grelo. A polícia de Santarém anunciou com pompa e circunstância que tinha deitado a mão ao perigoso terrorista do site www.grelo.com. Tudo feito à boa maneira dos filmes americanos. Através de uma manobra de diversão. Aproveitaram um fait-divers e uma troca de mimos entre o homem e um agente da autoridade, arrancaram uma suposta vítima de assédio de um autocarro de passageiros e com esse pretexto revistaram o carro do suspeito. Pimba. Lá estavam os cartazes a dizer Santarém capital do grelo e outros materiais do género. O executivo municipal de Santarém pode respirar de alívio. A cidade passa a ser respeitada nos meios intelectuais e elitistas. Volta a ser Capital do Gótico decadente. Nada de grelo. Nada de brejeirices saloias. Nada de foleiroso popular. Um dia destes apanham um quinquelheiro com uma carrinha cheia de camisolas do Benfica contrafeitas e acusam o homem da má gestão do clube. Vais ver. O Vale e Azevedo pode estar safo.Um abraço do Manuel Serra d’Aire