João Gaitas é um verdadeiro ribatejano, daqueles que sempre lidaram com touros e cavalos. Calcorreou meio Portugal em busca de trabalho bem pago, mas espera acabar os seus dias na Azinhaga, aldeia que adoptou depois de casar com uma filha da terra.O corpo franzino e conservado esconde bem a idade. “Sou como os carros em segunda mão, bonitos por fora e todos estragados por dentro”, diz reinadio. Desde os oito anos que João Gaitas, natural no Mouchão da Casa Velha, uma quinta junto a Vale de Cavalos, sabe o que custa ganhar o pão de cada dia. Foi lá que trabalhou até aos 27 anos, a trabalhar na lavoura, a lidar com touros e cavalos.Já casado, ainda fez uma incursão por uma herdade em Salvaterra de Magos, onde se dizia que se pagava mais e se trabalhava menos. Um dia chateou-se e rumou ao Vale de Santarém, onde trabalhou cinco anos com éguas. “Foi até o patrão morrer”.De Sul para Norte, chegou à Casa Veiga, de onde se reformou há apenas quatro anos, já depois de ter feito 73 anos. “Sempre a trabalhar com touros e cavalos, que não sei fazer outra coisa”. E com a preciosa ajuda da mulher, que trabalhava no campo de enxada na mão.Diz que nunca teve medo dos cavalos mas com os touros mantinha uma relação mais “respeitosa”. A pouco e pouco perdeu o medo e ganhou-lhes o respeito.Só parou por causa de um enfarte cardíaco. “Ah, se não fosse isso, ainda hoje lá andava, em cima dos cavalos, que era a coisa que mais gostava”, diz, adiantando estar farto de estar em casa a olhar para as paredes.“Tenho muitas saudades desse tempo, mas ele não volta para trás”. Os olhos ganham novo brilho quando fala da campinagem, das grandes viagens que fazia a transportar o gado bravo, que nessa altura não havia camionetas.“Hoje já não há campinos por aqui, pelo menos profissionais”, diz, rematando a conversa com uma frase de desdém – “Há por aí uns gajos que se dizem campinos mas que nem sabem vestir uma jaqueta nem montar a cavalo”.