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Ao volante do autocarro

Gertrudes Trigueiro Costa é motorista do Casba, em Alverca

Gertrudes Trigueiro Costa é a mulher que conduz o autocarro do Centro de Apoio Social Bom Sucesso e Arcena, em Alverca. Aos 46 anos decidiu tirar a carta de pesados de passageiros e iniciou-se na arte da condução. Há um ano que passa o dia a transportar crianças. O trabalho é de responsabilidade, mas a motorista sente-se realizada.

Ainda não são nove da manhã quando Gertrudes Trigueiro Costa, 47 anos, sai de casa e parte em direcção à garagem onde está guardado o autocarro do Centro de Apoio Social Bom-Sucesso e Arcena (Casba), em Alverca. É ao volante do autocarro de 28 lugares que a condutora passa a maior parte do seu dia.Os percursos variam diariamente. A condutora enche o autocarro e leva os meninos do Casba do Atelier de Tempos Livres até à ginástica, natação ou vai buscá-los à escola. Ontem foi dia de levar as turmas do Jardim de Infância até à biblioteca.Quando o número de meninos é pequeno a condutora pega numa das carrinhas de nove lugares. O autocarro fica reservado para os habituais passeios que deliciam os mais novos.Numa das últimas viagens a motorista levou os alunos da instituição a ver uma peça a Lisboa. “Deixei as crianças em frente ao edifício do teatro e fui procurar um sítio para estacionar. Quando acabou deram-me um toque no telemóvel e voltei para os ir buscar. É tal qual como os motoristas”, descreve.Para a motorista já não é difícil manobrar o autocarro de seis metros de comprimento. Ao volante da colorida viatura, equipado com televisão, leitor de Cd’s e ar condicionado, Gertrudes Costa sente-se em casa. A maior dificuldade foi durante a instrução com um autocarro de algumas dezenas de anos que tinha mudanças muito antigas e difíceis de manipular. “O que custou mais foi habituar-me a olhar para os espelhos. Olhava para os lados, mas como estão em cima, não via nada. Mas depois de dois dias ganha-se a prática”, garante.A motorista desenrasca-se bem e quando há algum problema com outra viatura é a Gertrudes Costa que acorrem. “No outro dia uma das carrinhas não funcionava, mas fui buscar os cabos e o problemas resolveram-se”, diz orgulhosa.A motorista encarrega-se também de gerir a frota de quatro veículos da instituição. Leva os carros à oficina, marca as inspecções, trata dos seguros e vai comprar os selos. Sempre que é necessário, Gertrudes Costa vai fazer alguns serviços da instituição aos correios, ao banco ou às finanças. Durante o dia tem um intervalo de três horas, entre as 13h30 e as 16h30, e por isso aproveita para ir a casa. Fica ao serviço da instituição até às 19h30, hora a que saem do centro os últimos meninos. Antes de regressar a casa, no Bom Sucesso, ainda vai levar o autocarro à garagem. Há cerca de seis anos, depois do marido falecer, Gertrudes começou a trabalhar. Após trabalhar a meio tempo durante dois anos na instituição decidiu tirar a carta de pesados e aceitar o desafio de conduzir, diariamente, os meninos do Casba. Era a única mulher da escola de condução inscrita para tirar a carta de pesados de passageiros. “Quando o instrutor me viu na sala ficou a olhar muito espantado. Admirou-se com a idade que tinha”. Passou à primeira em todos os testes, mesmo no exame de mecânica.As duas filhas, de 23 e 18 anos, apoiam-na incondicionalmente e admiram o dinamismo da mãe. Ao sábado de manhã, Gertrudes Costa ainda arranja energia para vender farturas ao lado da sua mãe no mercado de Alverca. Quando passa no autocarro do Casba toda a gente lhe acena. “Sou conhecida como a mulher das farturas”, explica.Gertrudes nunca pensou que viria a sentar-se ao volante de um autocarro, mas agora sente-se realizada no papel que desempenha. “É uma grande responsabilidade. São crianças ainda muito pequenas filhos de muitos pais e muitas mães. Ao princípio acho que ficaram um pouco temerosos, mas agora penso que confiam em mim”.Gosta de trabalhar com crianças, mas garante que se fossem idosos, ou pessoas com deficiência, faria o seu trabalho da mesma maneira. O trabalho é compensador, mas Gertrudes só tem pena que a profissão de motorista não seja justamente remunerada. Apesar de tudo, a motorista recomenda o trabalho de motorista e assegura que nunca é tarde para começar.Ana Santiago

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