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O homem das mobílias

O homem das mobílias

Eugénio Estrela dedica-se hoje a fazer miniaturas
Aos 75 anos, Eugénio Estrela já pouco mais pode fazer do que miniaturas das tradicionais mobílias de quarto que dantes fabricava para as noivas das aldeias do concelho do Sardoal.Nasceu e cresceu no Sardoal e só saiu da sua terra para cumprir o serviço militar: “Fui tropa em Elvas e em Torres Novas, de resto nunca saí daqui”, diz.Andou no campo, a apanhar azeitona, mas não gostou - diz que “lhe fazia doer a espinha”. Por isso, aos 14 anos, preferiu ir trabalhar para a indústria das malas, que na época tinha significativa importância económica no concelho. “Comecei por forrar malas a ganhar 25 tostões por dia”, recorda. Por lá ficou 22 anos. Depois, segundo conta, apareceu uma fábrica muito maior do que as 12 ou 13 pequenas unidades fabris que existiam e acabou com elas todas. “Puxou o pessoal e as outras tiveram que fechar. E essa também fechou e acabaram-se as malarias por aqui”.O trabalho que lhe surgiu foi numa marcenaria e Eugénio Estrela agarrou-o. “Trabalhei como marceneiro 24 anos e gostava mais de fazer móveis do que trabalhar nas malarias”.Fazia o mobiliário para as noivas das aldeias. “Vinham sete ou oito mulheres, as convidadas do casamento, fazer a encomenda e depois o patrão com uma camioneta ia distribuí-las pelas aldeias. Havia trabalho com fartura, cheguei a sair da marcenaria à meia-noite”.O mobiliário, quase todo em pinho, “às vezes lá se fazia um em mogno”, era reduzido. “Fazíamos o quarto completo, com cama, mesas de cabeceira e guarda-vestidos, e para a casa de jantar um guarda-pratasito, uma mesa de quatro pernas com duas gavetas e umas cadeiras e estava a mobília feita”, recorda.O custo, ao valores actuais, era também reduzido: “Um quarto completo custava cinco contos e pouco, mas era dinheiro naquela altura. Eu quando casei ganhava 20 escudos por dia e tinha que dar para tudo”.O gosto de cortar a madeira permaneceu e apesar da idade e das dores nas pernas, “que não me deixam”, continua a fazer móveis, agora em miniatura, que vende nas festas do concelho em Setembro. “Faço uma remessa delas e depois vendo-as a dois contos e quinhentos, custam quase tanto como custavam as que eram a sério dantes”.A colcha que cobre o colchão de esponja é invariavelmente vermelha. “Sou do Benfica sempre e de Os Lagartos, mas raramente vou aos jogos”.
O homem das mobílias

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