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Um industrial que defende os trabalhadores

Diamantino Ramalho, presidente da Junta de Freguesia do Couço, é autarca há 28 anos
“Não sirvas quem já serviu”, diz o povo. Mas há excepções. O presidente da Junta de Freguesia do Couço, Diamantino Ramalho (CDU), um antigo operador de máquinas que integrou o comité da reforma agrária, emprega sete pessoas na sua pequena empresa de extracção de inertes lavados e escolhidos e garante que continua a defender os interesses dos trabalhadores.O Presidente da República atribuiu ao autarca a Medalha Honorária da Ordem da Liberdade no dia 10 de Junho de 2000. A distinção encheu de orgulho a população e fez chorar alguns dos que lutaram ao lado de Diamantino Ramalho “por um país livre e com mais justiça social”.Aos 67 anos, viúvo, com três filhos, seis netos e uma bisneta, o autarca dedica-se de corpo e alma às funções para que foi eleito com uma maioria de mais de 70 por cento.O Couço é um bastião do PCP e na freguesia os comunistas somam maiorias absolutas. Antes de ser eleito para a junta, Diamantino Ramalho esteve na câmara como vereador durante 13 anos (1977/89). No último mandato na edilidade (1985/89) foi forçado a assumir a presidência devido à renúncia do presidente.Diamantino Ramalho é um homem de convicções. Diz que ninguém nasce comunista, mas dificilmente deixaria o partido que abraçou em 1958 quanto esteve preso em Caxias por causa de ter feito uma greve no Monte Novo (Santa Justa) onde trabalhava como operador de máquinas agrícolas. “Fui preso no dia 23 de Junho de 1958 para interrogações e estive lá seis meses”, recorda, porque há datas que nunca se esquecem. Foram os seis meses mais difíceis da sua vida “porque a liberdade vale ainda mais que a comida” e quando foi preso já estava habituado a comer pão com atum durante uma semana. Conta que num quartel velho estavam 83 homens que dormiam num colchão de palha de centeio.Filho de trabalhadores rurais, foi na terra que Diamantino Ramalho começou por ganhar a vida. Um dia a “Dona Maria Padeira”, uma proprietária de terras, impressionou-se com o seu trabalho na condução de um tractor e convidou-o a ir trabalhar para as suas propriedades perto de Peniche. Foi lá que fez a escola da vida.Desde muito novo que revelou ser um rapaz rebelde e “com vontade de lutar por um mundo melhor”. A sua ligação à política começou cedo e foi com naturalidade que foi eleito vereador da Câmara Municipal de Coruche em 1976, nas primeiras eleições autárquicas. Hoje, quase 28 anos depois, a dedicação a tempo inteiro à freguesia, deixa pouco tempo livre. Diamantino Ramalho gosta de futebol, foi sócio do Benfica, mas cansou-se de ver a falta de dignidade que rodeia o mundo da bola. Já pescou e caçou, mas prefere dedicar o tempo a apoiar os caçadores e pescadores da sua freguesia e lamenta que não tenham melhores condições. “Gostava que se cumprisse a promessa de limpar o rio e criar uma praia fluvial e que a caça fosse para todos e não privilegiasse quem tem mais posses”, diz.Tem um rádio sintonizado na Rádio Voz do Sorraia (emissora do concelho) na secretária, devora jornais e revistas e compra tudo o que sejam colecções, embora, por vezes, não lhes toque com o argumento da falta de tempo. A televisão é uma fonte de informação, mas muitas vezes é forçado a ver os filmes dos desenhos animados com os netos. Aprecia romances e ficção científica, mas longe vão os tempos em que ia ao cinema com regularidade.Amigo de petiscar, elogia o bucho e o toucinho à moda do Couço, o feijão frade com morcela e a sopa de bacalhau, algumas das especialidades da freguesia que dá cartas no doce de mel com pinhão e no bolo de pinhão. Diamantino Ramalho não se considera um bom garfo e confessa que é incapaz de fazer quilómetros para procurar um bom retiro gastronómico, mas todos os dias faz longas caminhadas para poder estar perto dos seus eleitores.

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