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“Só queria dormir enxuta”

“Só queria dormir enxuta”

Maria Fernanda Almeida vive numa barraca em condições miseráveis

Duas pessoas vivem em condições miseráveis em Alpiarça. O telhado da barraca onde habitam não veda a água da chuva. Casa de banho não existe. Electricidade também não. As almejadas obras tardam em começar.

Uma mulher de 54 anos vive em condições miseráveis na Rua José António Simões, em Alpiarça. Maria Fernanda Almeida não tem electricidade nem casa de banho. Dorme numa barraca de madeira sem as mínimas condições e onde chove como na rua. Para fazer a comida acende fogueiras no chão, debaixo de um telheiro cheio de madeira, o que constitui um enorme perigo. O chão do espaço em que vive é em cimento. As tábuas que fazem de parede do quarto estão a apodrecer. O telhado é em chapas de zinco presas com tijolos e pedras colocadas por cima da cobertura. As paredes estão negras da humidade e da água da chuva. Cheira a mofo e a degradação. No mesmo espaço mora um sobrinho numa cama a cair de podre com tijolos a servirem de pés. Nos dias de chuva a água cai em cima da cama como se estivesse na rua. As necessidades são feitas num buraco ao fundo do quintal, infestado de moscas e mosquitos. O cheiro a fezes é nauseabundo.Maria Fernanda Almeida sobrevive do dinheiro que vai ganhando a caiar paredes ou a fazer limpeza. Só arranja trabalho alguns dias por semana e apenas na Primavera e no Verão. Em média consegue arranjar no máximo 150 euros mensais que mal chegam para a comida. Muitas das vezes tem que pedir alimentos às vizinhas aos quais junta umas folhas de couve ou nabos que semeia no quintal. Carne ou peixe são produtos que só raras vezes entram nas refeições. Maria Fernanda, que tem problemas de alcoolismo, diz que sempre viveu em más condições. E que a cada dia que passa as coisas vão piorando. “Só queria que me arranjassem o telhado. É a única coisa que peço para que no Inverno consiga dormir enxuta”, diz resignada. Há quatro anos, lembra, depois de ter contactado a assistência social, a câmara foi lá colocar materiais de construção. Mas desde essa altura nunca houve obras. Os barrotes de madeira estão a apodrecer no quintal e as louças sanitárias continuam à espera de uma casa de banho. Alguns azulejos já estão partidos e as telhas, colocadas na rua em frente às barracas, vão desaparecendo.Cansada de esperar pelas obras, Maria Fernanda Almeida já não tem esperanças de algum dia ter, pelo menos, as mínimas condições de habitabilidade. “Acho que vou morrer sem ter experimentado viver numa casa normal”, desabafa.O vereador da Câmara de Alpiarça, António Coelho, garantiu que vai resolver a situação até ao final deste ano, mostrando-se sensibilizado para o problema. O autarca considera que a melhor solução era colocar Maria Fernanda e o sobrinho num lar, mas reconhece que isso não é fácil. Quanto aos materiais de construção, justificou que estes foram doados pela autarquia ao abrigo de um programa de recuperação de habitações degradadas, mas pressupunha que fossem as pessoas a fazer as obras. Como estas não foram realizadas, António Coelho assegurou que a câmara vai tentar executá-las. Não o fez até agora, justifica, porque o terreno pertence a vários herdeiros, sendo necessárias autorizações. É preciso também garantir que, após a realização dos trabalhos, a família em causa tenha o usufruto do espaço enquanto for viva.
“Só queria dormir enxuta”

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