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Forcados divididos em Associação

Forcados divididos em Associação

Pegar toiros já não é como era dantes

Os forcados criaram uma associação que obriga os grupos a praticarem uma tabela de preços conforme a categoria da praça onde vão actuar. Aparentemente, num mercado onde todos discutem tudo, os forcados deixaram de ser os únicos amadores para começarem a ser os únicos profis-sionais.

A corrida de touros que abriu a época no Cartaxo, no dia 1 de Maio, tinha anunciado uma competição de seis grupos de forcados, mas no dia da corrida apenas o Grupo de Forcados Amadores da Chamusca se apresentou em praça para pegar os seis touros.As razões da desistência dos outros cinco grupos prendem-se com o facto do Grupo da Chamusca não estar inscrito na recém criada Associação Nacional de Forcados e os estatutos proibirem misturas entre grupos. A explicação oficial é que o cartaz anuncia-va a actuação de um grupo de Forcados Juvenis. A verdade é que os forcados estão mais divididos do que nunca depois da criação de uma associação que deveria servir para unir.Nuno Marques, cabo do Grupo da Chamusca, e João Poutier, presidente da Associação Nacional de Forcados, não quiseram “pegar de caras” as grandes questões que dividem a forcadagem e, em conversa com um jornalista de O MIRANTE, preferiram fazer declarações que tentam esconder as divisões e as antigas rivalidades entre grupos de forcados.Marginalizado parece estar a ser, cada vez mais, o Grupo de Amadores da Chamusca. Há cerca de dois anos o forcados da terra branca sofreram na pele a decisão do empresário da praça de Santarém que resolveu preterir o grupo, porque os Forcados Amadores de Santarém continuam a recusar, como é tradição desde há muitos anos, pegarem com os da Chamusca. A prova de que os Amadores da Chamusca são alvo de uma forte rivalidade de alguns grupos mais importantes, como é o caso de Santarém, Lisboa e Évora, é que não conseguem entrar para a associação.Numa das últimas assembleia gerais, a entrada do grupo da Chamusca foi mais uma vez recusada com um significativo número de votos contra. As razões para a recusa não foram explicadas.Questionado sobre a aparente dualidade de critérios e a falta de justificação para a recusa da entrada na associação de um grupo que tem 30 anos de actividade, e um currículo que não fica atrás de outros grupos prestigiados, a resposta do presidente da direcção da associação é a de que os associados é que têm sempre a última palavra. “Posso dizer que o Grupo da Chamusca, esteve connosco até ao dia da constituição da Associação, na altura não aceitou filiar-se, porque não concordava com alguns pontos dos estatutos. Agora passados dois anos resolveu pedir a sua filiação, Mas as novas adesões são sufragadas em assembleia geral, e a maioria dos filiados presentes votou contra, foi uma decisão tomada por maioria, não se passou nada mais do que isso”, limitou-se a esclarecer.Nuno Marques, por sua vez, também não ripostou quando confrontado com a aparente discriminação que o grupo está a sofrer. Na conversa com O MIRANTE limitou-se a dizer que concorda com a existência da associação e a lamentar o facto de ainda não ter conseguido a adesão.A associação do mais fortesQuem não tem papas na língua é um antigo forcado que explicou a O MIRANTE aquilo que aparentemente os responsáveis procuram esconder. Esta associação foi criada para que os grupos mais influentes possam impor o seu poder junto dos empresários. A recusa em aceitar o grupo da Chamusca é o maior sinal de força desta associação. Eles só aceitam os grupos que querem e aqueles que se rendem às suas exigências.Para provar a força da asso-ciação a nossa fonte explicou ainda que todos os empresários que aceitem incluir nas suas organizações grupos que não estejam associados são vetados de forma a que nenhum dos grupos associados aceite pegar em praças dirigidas por essas empresas.Neste capítulo, João Poutier, em declarações a O MIRANTE, diz que não se trata de veto mas de uma recomendação por parte da direcção da associação.Nos meios taurinos, a associação de forcados e as guerras que estão a nascer também não deixam insensíveis alguns dos protagonistas mais importantes. O MIRANTE falou com um conhecido ganadero que brincou com a situação dizendo que “agora os únicos profissionais das corridas são os forcados, já que até aqui eram eles os únicos amadores”.O desabafo prende-se com o facto da associação ter imposto um preço a cobrar pelos grupo de forcados, conforme a importância da praça. Os grupos não são livres de negociarem a sua participação nas corridas. A associação criou uma tabela de preços que os grupos têm que respeitar. Não o fazendo correm o risco de serem expulsos. Na opinião do nosso interlocutor, “todos negoceiam a sua participação numa corrida de toiros: os ganaderos discutem o preços dos animais, os cavaleiros e os toureiros a pé sobem ou descem o preço de cada actuação conforme as suas conveniências, só os forcados é que têm tabela de preços e são obrigados a cumprirem ou correm o risco de serem marginalizados”.“É uma situação absurda”, desabafa outro dos nossos interlocutores que, habitualmente, assiste às corridas nas trincheiras das maiores e mais prestigiadas praças do país. “Impor uma tabela de preços para a actuação dos forcados é tão absurdo como vetar a entrada de um grupo de forcados numa associação só porque existem rivalidades antigas”. “Não há nenhum artista da festa de toiros que tenha um preço estipulado para actuar numa corrida. Como é que é possível impor uma tabela de preços para a actuação dos forcados”, pergunta ainda, com espanto no rosto, o nosso entrevistado.Para o antigo forcado, que ouvimos no inicio deste texto, “a associação tem-se portado de uma forma que não deixa esconder os seus verdadeiros objectivos: impondo tabelas de preços os grupos mais prestigiados ficam com as melhores corridas pois ninguém lhes pode fazer concorrência. As corridas que eles não querem entregam aos grupos mais fracos e com menos nome. É o preço que recebem por aceitarem as regras de pertencerem à associação dos mais fortes”.O história que contamos ao lado, que impede o grupo do Aposento da Chamusca de aceitar pegar com os Amadores, é um bom exemplo da estranha rivalidade entre grupos de forcados e daquilo a que o associativismo se pode prestar.
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