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Fumadores da pesada

Rastreio do tabaco passou pela região e o resultado assustou quem o fez

Santarém é um distrito de fumadores “duros”. O rastreio do tabaco, realizado em duas cidades – a capital de distrito e Tomar - provou que os fumadores não brincam em serviço. E que nas suas veias corre monóxido de carbono a níveis muito superiores aos verificados noutras zonas do país.

“Aperte os lábios e sopre com força senão o aparelho não funciona”, diz a recém-formada enfermeira Olga Pérola para a senhora na casa dos 50 anos que na sexta-feira, dia 14, quis saber até que ponto o fumo do tabaco estava a prejudicar o seu organismo. Iniciativa do laboratório farmacêutico Novartis, o rastreio do monóxido de carbono existente no organismo, por via do tabaco, está a ser efectuado a nível nacional e passou pelo distrito de Santarém na semana passada.Um rastreio que, em Tomar, deixou Olga Pérola e a colega de profissão Maria José Salgueiro quase em estado de choque, devido aos altos valores registados. “Já fizemos praticamente toda a zona centro e foi aqui (Tomar) e em Santarém que detectámos níveis assustadoramente altos”.Olga Pérola não irá esquecer facilmente a cara de espanto que fez quando verificou o nível de monóxico de carbono existente no organismo de uma mulher na casa dos 30 anos. “Nem queria acreditar quando apareceram 71 valores. A própria pessoa ficou tão assustada com a nossa cara que só faltou chorar”.Stress, solidão, trabalho nocturno e/ou por turnos são motivos que Olga Pérola encontra para as pessoas não largarem o vício do cigarro. De acordo com a enfermeira, os grandes fumadores que fizeram o teste no distrito convivem diariamente com uma ou mais situações destas. O segundo valor mais alto – 53 – também foi detectado em Tomar, num homem de 51 anos. E em Santarém a grande maioria dos fumadores que fizeram o teste obtiveram níveis superiores a 20. “Isto não é ficar no vermelho, é quase negro”, refere a enfermeira.Apesar do cenário sombrio, a boa disposição reinava entre os companheiros de fumo que aguardavam a sua vez na fila da Praça da República. Mas o semblante ia-se modificando à medida que saíam da carrinha, após o teste. “Tenho 29 valores, já calculava”, diz em jeito de desabafo a secretária do presidente da Câmara de Tomar a um amigo que também tinha feito o teste.Um teste muito simples. Inspira-se o mais que se conseguir, aperta-se com os lábios um tubo de um pequeno aparelho e sopra-se com toda a força. O valor de monóxido de carbono que corre nas veias aparece então no ecrã. “Tem 16 valores, já está bem no vermelho”, diz Olga Pérola.O vermelho é a cor escolhida para os níveis superiores a dez. Quem registar valores entre os zero e os cinco fica no verde e o amarelo representa um nível intermédio, entre cinco e dez valores.Os valores referem-se ao número de moléculas por milhão que transportam monóxido de carbono em vez de oxigénio. Isto é, no caso da senhora a quem foi detectado 71 valores, isso quer dizer que em um milhão de moléculas que transporta oxigénio ela tem 71 moléculas que transportam monóxido de carbono.“Nós explicamos sempre às pessoas como o circuito funciona, a partir do glóbulo vermelho”, diz Olga, adiantando que quando o glóbulo vermelho apanha monóxido de carbono é para sempre, ele só sai quando o glóbulo vermelho morrer. Quanto mais moléculas de monóxido de carbono existirem, menos oxigénio anda em circulação e chega ao cérebro, coração e músculos. O resultado são as dores de cabeça, as falhas de memória e o aumento do cansaço. “Essas coisas de que os fumadores tanto se queixam”, alerta a enfermeira.Na fila, há quem desespere por um cigarro, mas resista à tentação para não “inflacionar” os valores. Enquanto distribui um prévio questionário, a enfermeira Maria José Salgueiro apela à honestidade das respostas, que vão ditar qual o grau de dependência do fumador (teste Fägerstrom) e a motivação para deixar o cigarro (teste de Richmond).No nosso caso, o veredicto não foi famoso – fortemente dependente e com fraca motivação para deixar de fumar...Margarida Cabeleira

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