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Ministério Público arquivou processo

Motard feriu sete pessoas num baile de carnaval em Samora

Um desmaio súbito foi a razão apontada como causa do insólito acidente que feriu sete pessoas num baile de Carnaval em Samora Correia quando o condutor da moto entrou desgovernado no pavilhão. O Ministério Público arquivou o processo. Duas das vítimas solicitaram a reabertura e exigem ser compensadas pelos danos sofridos.

No dia 5 de Março de 2003, uma moto descontrolada rompeu pelo meio de um pavilhão onde decorria um baile de Carnaval e feriu sete foliões, cinco dos quais com alguma gravidade. O acidente aconteceu na sede da Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora (Arcas), na madrugada de quarta-feira de cinzas. O condutor que estava lúcido e sem o efeito de álcool, não conseguiu justificar a situação. Jorge Manuel Ribeiro de 29 anos, operário fabril, residente em Samora Correia, foi detido, mas depois de ser presente ao juiz, ficou a aguardar o inquérito em liberdade, enquanto os feridos recuperaram das lesões provocadas. Dois deles, duas jovens actrizes da associação teatral “Revisteiros”, ainda não estão recuperadas e devem ficar com sequelas para o resto da vida.O Ministério Publico (MP) de Benavente investigou o insólito acidente e concluiu que o acidente foi causado por um desmaio súbito do condutor. Segundo o MP, não existiam indícios dos crimes de condução perigosa e ofensa à integridade física das vítimas. O procurador Jorge Mateus mandou arquivar o inquérito e a moto que estava apreendida foi devolvida ao arguido. Duas das vítimas, Gisela Santos e Nádia Rodrigues não se conformaram com a decisão e requereram a abertura da instrução para tentar que o caso vá a julgamento e que sejam ressarcidas das despesas de saúde e outros prejuízos causados. “Isto não pode ficar assim. Ainda não estou recuperada e continuo a sofrer. Já gastei muito dinheiro e ainda não recebi nenhum”, disse.Gisela Santos, 26 anos, queixa-se de dores na cabeça, tronco e membros inferiores. A companhia de seguros que tinha a responsabilidade civil da moto assumiu a assistência médica, mas insatisfeita com o tratamento dos médicos da seguradora, Gisela Santos procurou apoio num neurocirurgião que está a acompanhar a situação. A jovem já gastou centenas de euros e a sua vida ainda não recuperou a normalidade.Uma situação semelhante está a afectar Nádia Rodrigues, 18 anos, que necessita de uma intervenção cirúrgica para corrigir um defeito que tem na perna, que a seguradora não está a querer assumir. Os pais esperam que com a reabertura do processo possam ser ressarcidos dos montantes gastos em tratamentos e deslocações. Os outros feridos: André Guerra, Mário Pereira e Fernando Oliveira, os dois últimos actores dos “Revisteiros”, sofreram lesões menos graves e já estão recuperados. O condutor da moto disse ao Ministério Público que quando se dirigia ao baile perdeu os sentidos, que só recuperou quando embateu na primeira pessoa. Uma versão que segundo os investigadores não foi colocada em causa por nenhuma das testemunhas ouvidas e por isso foi considerada uma explicação “plausível” para o sucedido. Estranho é que no dia do acidente várias testemunhas disseram a O MIRANTE que o condutor estava a acelerar a moto e perdeu o controlo entrando com uma velocidade elevada no pavilhão. Segundo apurámos as vítimas que solicitaram a reabertura do processo vão juntar agora novas testemunhas.O Ministério Público considerou ainda que o arguido “parece ser pessoa responsável, profissional e familiarmente integrada e sem antecedentes criminais”. Podia ter sido uma tragédiaUm jornalista de O MIRANTE estava no pavilhão onde aconteceu o acidente e constatou que podia ter sido uma tragédia porque estavam no local dezenas de pessoas, entre as quais várias crianças. Na altura várias testemunhas garantiram ao nosso jornal que o condutor da moto (uma Honda CBR 600 cc) estava a acelerar no espaço de estacionamento frente ao pavilhão quando perdeu o controlo da moto e lamentaram a ausência da GNR no local. Isaura Ferreira, residente em Benavente, foi a primeira pessoa a ser atingida e nem queria acreditar no que estava a acontecer. “Eu estava aqui à porta e vejo vir a moto com velocidade, ainda tentei desviar-me, mas não consegui. Bateu-me de raspão e depois foi apanhar um homem que estava aqui ao lado. A moto continuou a andar e só parou quando bateu naquela placa de madeira”, contou. Pelo caminho ficaram seis corpos estendidos no chão. Dos sete feridos, cinco apresentavam ferimentos considerados graves.Três minutos depois do alerta chegou ao local a primeira ambulância dos Bombeiros Voluntários de Samora Correia e sete minutos volvidos estavam no local cinco ambulâncias e mais de 20 bombeiros. Entretanto alguns socorristas que estavam no local já tinham iniciado o socorro das vítimas. Os feridos foram todos transportados para o Hospital de Vila Franca de Xira. Gisela Santos, 25 anos, foi transferida horas depois para o Hospital de São José em Lisboa por se queixar de dores nas costas e perda de sensibilidade nos membros inferiores. José Ribeiro que estava junto ao bar, a dois metros do local onde a moto passou, explicou o que viu. “Ele entrou aqui com muita velocidade e a moto só parou quando bateu naquele placard. Se mais gente aqui estivesse, mas ele teria levado à frente”, disse. “Não cabe na cabeça de ninguém fazer uma coisa destas. Ele podia ter morto aqui mais de 20 pessoas”, reforçou Leonel Oliveira que também testemunhou o insólito acidente. Joaquim Salvador, director da Associação Teatral “Os Revisteiros” lamentou o acidente e manifestou indignação pela atitude “irresponsável” do condutor da moto. “Ficámos indignados porque estava tudo a correr tão bem e ninguém iria pensar que isto pudesse acontecer. Mesmo assim dei graças a Deus porque poderia ser uma grande tragédia”, disse.O actor incentivou as vítimas a apresentarem queixa contra o condutor da moto. “Ele terá de ser responsabilizado pelo que aconteceu”, referiu. Manuel Parracho, presidente da associação organizadora do baile (Arcas) lamentou o acidente. “Nós não podíamos fazer nada numa situação destas. Ninguém iria pensar que isto pudesse acontecer”, disse. A associação admitiu a hipótese de apresentar uma queixa crime contra o responsável pelo acidente, mas nunca avançou.Nelson Silva Lopes

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