Os segredos da “bruxa” do Pego
Maria Arminda, vidente e espírita, atende gente de todos os estratos sociais no seu consultório
Maria Hermínia Lopes Correia, mais conhecida como bruxa do Pego, é analfabeta mas tem fama de saber ler o futuro dos seus clientes. Pelo seu consultório já passaram advogados, doutores e até padres, assegura. O pagamento das consultas fica ao critério de cada um. A terapia passa por rezas e mezinhas.
Quando as dúvidas assolam as suas vidas, padres, advogados e muitas outras pessoas com mais ou menos instrução não conseguem resistir às consultas de Maria Hermínia Lopes Correia, conhecida em todo o Ribatejo por “bruxa do Pego”. A vidente e espírita tem a missão de lhes ler o passado e antecipar o futuro e não liga ao estatuto social de cada um. “Vêm cá todos. Os doutores e advogados na rua não me conhecem, mas aqui conhecem-me todos”.Dizem os espanhóis que não acreditam em bruxas, mas que as há, há. Maria Arminda - o nome por que é tratada em família, já que o Maria Hermínia foi erro de registo - é uma mulher do campo de sobrancelhas grossas, olhos pequenos e escuros. A sua fama vem de adivinhar o que se passa com quem a procura ou o que lhe poderá acontecer. Não tem sofisticação, não veste roupas exuberantes, nem tão pouco recorre a acessórios habitualmente associados à actividade. No seu consultório não há bolas de cristal, cartas ou mesmo vísceras de animais. Basta-lhe olhar para as pessoas, ou para fotografias que lhe levam. Depois faz as suas rezas e desenha num papel arabescos que só ela entende. “Escrevo através dos meus guias e tenho vários, mais estrangeiros do que portugueses”. Maria Arminda não sabe ler nem escrever. Na sua casa à entrada do Pego, para quem vem de Abrantes, Maria Arminda atende toda a gente. E vêm clientes de todo o país e até do estrangeiro. “A semana passada esteve cá um padre. Doutores e advogados também vêm cá”. A “bruxa” do Pego tem fama de acertar nas curas e no futuro. Fá-lo através dos guias que incorpora e que falam através dela: “Eu não sei ler nem escrever, como é que podia dizer as coisas que digo. Não me importo que me chamem bruxa. Estou aqui para ajudar as pessoas”.O pagamento das consultas fica com a consciência de cada um. “Não há ninguém que diga com verdade que eu levei dinheiro por uma consulta. Dão aquilo que quiserem. E ajudo toda a gente que precisa”. Diz quem a conhece que é verdade. Maria Arminda acolhe os desprotegidos da sorte: “O que eu gosto mesmo é de dar esmolas”.Sobre a secretária estão várias imagens de santas e um crucifixo com que se benze antes de iniciar as consultas. Na pequena sala há armários com produtos de ervanária e outras imagens, um grande crucifixo, suposta água benta e numa das estantes um quadro a carvão com a figura de Cristo. “Aquele quadro fala comigo, maneja os olhos. Foi desenhado por um espanhol”, esclarece. Naquele compartimento não há cheiros ou ambientes demasiado místicos. É tudo “quase” natural, onde gente de todos os dias tenta perceber o que se passa consigo. “Uns visitam-me por egoísmo, outros por mera curiosidade, outros porque estão apoquentados”. Os males, diz, vêm muitas vezes dos espíritos que entram nas pessoas.Maria Arminda é consultada pelos mais diversos motivos: negócios, amores, doenças. Os clientes querem saber e estar preparados para o que há-de vir. “Tenho visões pois claro. O que é que quer saber?”. Pelo sim pelo não o melhor o melhor é mudar o rumo da conversa para assuntos mais genéricos.As incorporações vêm sem ser anunciadas e a meio da conversa Maria Arminda começa a falar com maior rapidez. Não estrebucha, nem entra em transe. Quando acaba tem um ligeiro arrepio, abre os olhos e sorri. Parece que regressou ao mundo vinda de outra dimensão.Aconteceu alguma coisa? “Sim, aconteceu”, responde com enorme calma: “Era um homem, que foi muito inteligente na terra e era sábio, embora não tivesse visões porque se calhar também não entendia… Era advogado. Sou analfabeta, não sei ler, mas tenho os meus guias”.A frontalidade que assume leva-a a criticar a concorrência. “Eu respeito o trabalho de toda a gente, só não respeito a ignorância e a maldade. Sei que há muita gente que se aproveita do dinheiro dos outros. Eu tenho uma ervanária e uma loja dos 300, a minha nora tem um pequeno supermercado e não cobro dinheiro a ninguém”.Reforçando que não gosta de “desfazer em ninguém”, aceita pronunciar-se acerca de Linda Reis e dos espectáculos televisivos: “A Diana é uma pessoa que não incorpora em qualquer um e o doutor Sousa Martins não ia concentrar-se numa pessoa escandalosa. Ele era um homem sábio não ia incorporar assim”.Mãe de sete filhos, com vários netos e bisnetos, Maria Arminda, aliás Maria Hermínia, aliás “bruxa do Pego”, casou a primeira vez ao 15 anos. Depois divorciou-se e voltou a viver com um militar de Tancos que “era muito leviano”. Hoje está sozinha e sente-se bem: “Sofro muito, mas posso ajudar os outros”.Margarida Trincão
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