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Presos ao domingo, libertados à segunda

Comandante e dois ex-directores dos Bombeiros de Salvaterra detidos por suspeitas de favorecimento pessoal

O comandante e dois ex-dirigentes dos Bombeiros de Salvaterra de Magos, todos militantes do PS, foram detidos pela GNR. Depois de passarem uma noite na cela, foram ouvidos pela juíza de instrução criminal e foram libertados.

O comandante dos Bombeiros Voluntários de Salvaterra de Magos e os ex-directores da associação, Gameiro dos Santos e Joaquim Mário Antão foram detidos no domingo, 23 de Maio, pelo Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da GNR devido a suspeitas de favorecimento pessoal na gestão da associação.Os três homens, com ligações ao PS, foram presentes à juíza de instrução criminal do Tribunal de Vila Franca de Xira na segunda-feira e, depois de pouco mais de uma hora de interrogatórios, foram libertados com a medida mínima de coacção, o termo de identidade e residência. À saída do tribunal, o presidente da concelhia do PS de Salvaterra de Magos, Joaquim Mário Antão disse que os três arguidos foram vítimas de um complot da presidente da câmara, Ana Cristina Ribeiro, eleita pelo Bloco de Esquerda. “É um complot contra todos os arguidos. Um complot da presidente da câmara”, disse. “Não entendo porque a senhora presidente nos persegue desta forma”, acrescentou.Além de Joaquim Mário Antão, a juíza Cristina Carvalho ouviu o ex-presidente da Câmara de Salvaterra de Magos que também liderou a direcção dos bombeiros em 1994, Gameiro dos Santos, e o comandante dos bombeiros, Carlos Leonel, que foi dirigente da associação e até há cerca de dois meses vereador socialista na Câmara de Salvaterra de Magos. Os três são suspeitos da prática de várias irregularidades durante o período em que foram directores da associação.O MIRANTE apurou que vários cheques emitidos pela direcção da associação foram depositados na conta pessoal de Gameiro dos Santos, quando este foi presidente da direcção dos bombeiros. O arguido confirmou a situação, mas disse que os cheques serviram para pagar empréstimos que fez à associação em períodos de maior dificuldade. E acrescentou que outros directores o fizeram. “Era uma situação normal, transparente e sustentada com documentos que estão no processo”, disse. Outra irregularidade apontada aos outros dois arguidos é a ausência de mapas de combustível no período em que Joaquim Mário Antão era presidente dos bombeiros. Ambos confirmaram que deixaram de elaborar mapas a partir do momento em que a câmara começou a pagar o combustível e as viaturas eram abastecidas no estaleiro municipal. “Não fazia sentido e não seria correcto receber o combustível da câmara e o subsídio do Serviço Nacional de Bombeiros para a combustível”, disse o comandante Carlos Leonel que está no comando, como voluntário e sem remuneração, há 24 anos (ver caixa). Quanto ao desaparecimento do livro de actas das reuniões da direcção e de outros documentos de gestão, todos os arguidos alegaram desconhecer o seu paradeiro e admitiram que os mesmos tivessem desaparecido, quando a direcção liderada por João Casimiro (o homem que denunciou os factos ao Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Coruche) geriu a associação em 2002.À saída do tribunal, e sempre acompanhado dos dois filhos, Gameiro dos Santos disse ter saído mais tranquilo do que entrou e considerou que o interrogatório foi esclarecedor. “Estive lá dentro 15 ou 17 minutos. Tive o cuidado de ser claro, de explicar tudo, não esconder nada. Clarifiquei tudo. Entrei tranquilo, mas saio ainda mais tranquilo”, afirmou.O comandante dos Bombeiros de Salvaterra de Magos, Carlos Leonel, estranhou ter sido questionado por muito menos matérias do que quando foi ouvido, há dois anos, por elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Coruche, que coordenaram esta operação a que deram o nome de “Sirene Oculta”.“Fui ouvido há dois anos no âmbito deste processo. Curiosamente, hoje fui questionado em matérias muito mais reduzidas do que quando fui ouvido há dois anos. E isso é sintomático de alguma coisa”, sublinhou. O advogado que acompanhou os três arguidos, Ferreira Mourão, frisou que não existem indícios claros que sustentem uma eventual acusação de peculato e confirmou que não há novidades no processo desde que os clientes foram ouvidos pelo NIC, em Dezembro de 2002. No final da audição, todos os arguidos criticaram o facto de terem sido conduzidos a tribunal sob detenção e salientaram “a influência da presidente da câmara” neste processo. Há cerca de um mês, Ana Cristina Ribeiro denunciou alegadas irregularidades ao Governador Civil do Distrito de Santarém e ao coordenador distrital do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil e disse, a uma rádio local, que não queria estar no lugar do comandante dos bombeiros.O MIRANTE sabe que estão previstas mais detenções no âmbito deste processo e que as investigações continuam no terreno na busca de novos indícios. Entretanto, o funcionamento do corpo activo dos bombeiros está a ser avaliado pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. Nelson Silva Lopes

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