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Marta Évora é delegada de informação médica

Há um ano que a vida de Marta Évora tem sido uma correria. Foi desde que respondeu a um anúncio para delegada de informação médica. Na altura, tinha apenas uma noção da actividade, hoje sente-se muito mais enriquecida sobre as questões da saúde.

O que mais gozo lhe dá é comunicar, falar para massas. Foi por isso que Marta Évora tirou o curso de jornalismo e comunicação, no Politécnico de Portalegre. Trabalhou um ano (com estágio incluído) no gabinete de comunicação da Câmara de Tomar, tirou o diploma de mediadora oficial de seguros, actividade que exerceu até Abril do ano passado. Sempre teve o público como alvo.Quando se cansou do negócio dos seguros o mais natural era que procurasse algo que a preenchesse profissionalmente. Quando viu num jornal um anúncio a pedir uma delegada de informação médica nem hesitou - concorreu e acabou por ficar com o lugar.Na altura tinha apenas uma pequena noção da profissão. Mas pensou que tivesse menos trabalho. Não que se queixa das centenas de quilómetros que faz por dia. Ao contrário, Marta Évora diz que gosta do seu ritmo.“Ainda hoje me levantei às 06h30 da manhã e cheguei agora (18h30)”, diz, enquanto se refastela no sofá, porque lhe doem as costas. “É de andar muito de carro”, queixa-se.Para Marta não há horários, há uma carteira de quatro mil médicos a visitar na zona que lhe foi destinada – concelho de Ourém e metade do distrito de Leiria – e o cumprimento de uma agenda estipulada semanalmente.Há médicos que preferem receber os delegados antes de começar as consultas, outros depois de verem o último doente. É com isso que a delegada de informação médica residente em Tomar joga todos os dias. “Entre as dez da manhã e as três da tarde é um corrupio infernal”, refere, adiantando que muitas vezes não há tempo para pensar em almoço. Quanto muito, diz, almoça-se e lancha-se ao mesmo tempo.Nenhum delegado de informação médica apanha “desprevenido” os clínicos. Em cada centro de saúde que visita existe uma agenda de marcação, num máximo de três delegados por dia. Sim, porque o médico também precisa de consultar os doentes.Pergunta-se se um delegado de informação médica é uma espécie de vendedor. Marta diz que não vende nada. Apenas promove e dá informações sobre os produtos que o laboratório a que está ligada produz. Mediante a informação disponível de cada produto comercializado pelo seu laboratório, o médico acaba por prescrever o medicamento que considera mais adequado para o problema do seu doente. Mas os clínicos têm um imenso leque de opções, na hora da prescrição. Para que a escolha recaia sobre o produto do seu laboratório, a delegada costuma dar ao médico o que apelida de recordatórios – canetas, pisa papéis, e toda uma panóplia de brindes que geralmente estão destinados a ficar em cima da secretária do clínico, perto da vista.Falar diariamente dos mesmos produtos parece ser monótono e até cansativo. Marta Évora também já teve essa opinião, quando se iniciava na profissão, mas agora não podia discordar mais. “Cria-se uma amizade com os médicos que acaba por fazer com que os produtos passem, na altura, para segundo plano”.“O produto pode ser muito bom mas se o médico tiver uma melhor relação comigo se calhar vai lembrar-se mais depressa do meu laboratório”.A delegada trabalha apenas com os chamados medicamentos genéricos, um produto que, ao contrário do resto da Europa, ainda não está muito implantado em Portugal. Apesar de ser 35 por cento mais barato que o originador (o produto que originou a molécula e que é geralmente vendido pelo nome comercial que o laboratório que o concebeu lhe dá) e de ter mais dez por cento de comparticipação estatal.Marta Évora aponta três razões para a baixa prescrição dos genéricos – a desconfiança do utente por ser mais barato que o de nome comercial; o facto de ter uma embalagem diferente do medicamento comercial que está habituado a tomar; e uma grande taxa de analfabetismo da população portuguesa. “Se o médico costuma receitar a um doente comprimidos de cor laranja para a hipertensão, por exemplo, e se decidir passar a gora a prescrever um medicamente com princípio activo idêntico mas cujo comprimido já não é laranja, é vermelho, o doente pensa tratar-se de outro remédio que não para a hipertensão”, refere a delegada, salientando a falta de informação da população.Com apenas 23 anos, Marta Évora tem uma vida profissional agitada, percorrendo centenas de quilómetros por dia. Mas isso não a incomoda. É muito pior quando vou a um centro de saúde para visitar dez médicos e fico ali fechada o dia inteiro”, diz quem abraçou uma profissão onde a formação é constante. E boa para a saúde.Margarida Cabeleira

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