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Implacável Manuel Serra D’Aire

Escrevo ainda afectado pelas emoções vividas nos últimos dias. Foi linda a inesperada manifestação de patriotismo dos portugueses, que desataram a comprar bandeiras nacionais e a exibi-las por tudo o que é sítio. Num país em crise material e moral, dispensar uns euros para verde-rubras que não têm utilidade nenhuma é um sinal de redenção de um povo até agora classificado como consumidor desenfreado de telenovelas e adepto, na sua maioria, de um obscuro clube que não ganha campeonatos há mais de uma década.Pensava eu que o orgulho lusitano andava de rastos e se encontrava resumido ao professor José Hermano Saraiva e a meia dúzia de irredutíveis discípulos de D. Duarte de Bragança quando se dá este fenómeno. Julgava eu, na minha santa ignorância, que os portugueses só ligavam ao 10 de Junho por ser mais um feriado e mais uma oportunidade de ponte rumo ao Algarve, mas não... Este ano os portugueses resolveram celebrar o Dia de Portugal engalanando as casas e carros com o símbolo máximo da Nação. E o fervor foi tanto que as bandeiras ainda por aí continuam, como que a lembrar-nos que Dia de Portugal é quando um português quiser. Disse-me um amigo mais atento que esta prova de patriotismo teve a ver com as eleições europeias de domingo, onde a participação foi maciça e os portugueses mais uma vez se empenharam com o habitual voluntarismo, abdicando de umas horas de praia ou de convívio na tasca pela causa. Toda a gente sabe que até o mais analfabeto português está preocupado com o alargamento da União Europeia a mais 10 países e com a diluição da identidade nacional nesse caldo de culturas. Por isso, nada como demonstrar à estrangeirada, que anda por aí não sei bem a fazer o quê, que Portugal está bem vivo e é celebrado em cada esquina. Que Bruxelas não nos vai abafar com as suas directivas assépticas. Que vamos continuar a matar porcos fora do matadouro, a pescar e comer petingas e jaquinzinhos e a vender copos de três nas tabernas.Este é o rumo certo para que, no futuro, os nossos heróis nunca mais sejam esquecidos ou ignorados. Para que os nossos estudantes universitários não transformem Salazar no primeiro rei de Portugal ou Mário Soares em vice-rei das Índias. Para que preciosidades da nossa história contemporânea, como Linda Reis, Zé Maria de Barrancos e Teresa Guilherme, ou ilustres académicos como os professores Neca, Alexandrino ou Herrero fiquem para sempre cravadas na lapela da nossa memória.Manel são essas figuras que merecem ser condecoradas em cada 10 de Junho que passa. Tal como os Xutos & Pontapés ou o Carlos Fino o foram este ano. Aliás, esse é um sinal claro de que a nossa vez está a chegar. Pelo sim pelo não vou começar a engraxar o excelentíssimo Presidente da República nesta coluna, começando por dizer que não me lembro de nenhum Chefe de Estado Português com o cabelo cor de laranja, o que é sinal de distinção.E já agora penso meter-lhe uma cunha para medalhar mais algumas personalidades cá da zona. Como o mendigo que é mascote de alguns comerciantes do Entroncamento ou o pedinte de Santarém que foi condenado a trabalhar por ter posto um filho a pedir. São dois exemplos bem sucedidos da nossa iniciativa privada. Tanto um como o outro nunca buliram na vida e estão ali sãos e escorreitos graças ao negócio que criaram. Que se ponham os olhos nestas micro-empresas que também deviam ter direito a subsídios da Europa. Porque criam emprego e riqueza e porque andar sempre a comer sopa e arroz de atum ou de salsichas não é dieta que se recomende a empresários desta estirpe.E com um sentido Viva Portugal me vouSerafim das Neves

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