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De pedreiro a técnico de laboratório

De pedreiro a técnico de laboratório

Bruno António trabalha actualmente no Instituto Politécnico de Tomar

Bruno Filipe António esteve quase para não se inscrever no curso de técnico de construção civil ministrado pelo Centro de Formação Profissional de Tomar. Na altura trabalhava nas obras e, apesar da dureza do trabalho, ganhava bom dinheiro. Hoje, o técnico de laboratório na área da construção civil acredita ter feito a escolha certa.

Desistiu de estudar quando terminou o 11º ano. E começou a trabalhar nas obras porque queria ganhar algum dinheiro. Dois anos depois surgiu a oportunidade de frequentar um curso de formação profissional na área da construção civil. Hoje, com 26 anos, Bruno António é técnico no laboratório de engenharia civil do Instituto Politécnico de Tomar. Foi uma escolha difícil mas certeira.Quando o Centro de Emprego de Tomar, onde estava inscrito, o questionou sobre o curso, Bruno António pensou não uma ou duas, mas muitas vezes. Por um lado o curso, de três anos dava-lhe equivalência ao 12º ano, o que era muito bom, além de uma formação específica. Por outro deixava de ganhar 600 euros e passava a ter uma bolsa de formação de 75 euros.Foi o construtor civil para quem trabalhava quem lhe deu a maior força. “Disse-me que era um desperdício eu não aproveitar, que podia continuar a trabalhar para ele aos fins de semana e sempre que pudesse”, refere.Acabou por se inscrever, mas sem grande convicção. Tanto que faltou aos três primeiros dias do curso para ir trabalhar nas obras. Ao quarto dia, a decisão estava definitivamente tomada.Durante três anos revelou-se um aluno aplicado, fez muitas contas, orçamentos e medições. Conheceu o lado mais teórico do sector da construção civil, estagiou em várias empresas, mas sem grandes resultados práticos. “Nunca ligavam muito aos formandos, estava-se para ali quase esquecido”.O seu pior receio era acabar o curso e voltar novamente para as obras. Foi por isso que ganhou coragem e, no final de uma das aulas, falou com um dos seus professores, responsável pelo laboratório de engenharia civil do Instituto Politécnico de Tomar (IPT).“Ganhei coragem e perguntei-lhe se não estavam a precisar de ninguém aqui no laboratório, para um estágio de nove meses”, confessa Bruno, adiantando que o professor ficou receptivo aso seu empenhamento. Apesar da receptividade as coisas não eram fáceis. O centro de emprego tinha de ter uma intervenção necessária, solicitando o estágio ao Politécnico. E até podia nem ser Bruno António a frequentá-lo mas um outro colega de turma. Falou com o director do centro de emprego e expôs-lhe a questão, tendo tudo ficado resolvido.Três meses depois de concluir o curso, em Dezembro de 2001, o técnico começou a estagiar no laboratório de engenharia civil do IPT, tendo depois entrado para os quadros da instituição.Desde há três anos que o trabalho de Bruno António assenta na execução de ensaios de materiais para empresas exteriores e no apoio às aulas.Os ensaios de inertes (areias, britas), betão, solos, betuminosos, são essenciais para saber se o produto está ou não conforme a qualidade exigida. Os clientes são empresas que exercem a sua actividade no sector da construção, desde fornecedores a construtores.Cada empresa solicita ensaios específicos. Por exemplo, as construtoras pedem geralmente ensaios ao betão, para averiguar o seu nível de resistência, consoante a sua utilização. O nível de resistência de um betão para edificação de um prédio é diferente do nível de resistência exigido na construção de uma estrada.O cliente traz uma amostra do material – tirando os inertes vêm em cubos normalizados – que é colocada numa máquina – prensa – que dá o nível de resistência de cada material. Bruno António afere o nível, escreve-o no cubo e faz o respectivo relatório.Parece uma actividade monótona, embora Bruno não concorde. “Hoje posso ter dois os três ensaios de solos para fazer, amanhã posso ter de inertes e por aí fora”, refere, adiantando que cada ensaio é diferente, consoante o material.Além disso, dá também apoio às aulas, porque o professor não consegue dar explicação sobre os ensaios a todos em simultâneo. “Se for para tirar dúvidas mais complicadas chama-se o professor. Se forem coisas simples, nós damos o apoio necessário”.Apesar de esta ser agora a sua profissão, o técnico de laboratório continua a sujar as mãos, a pegar numa pá e a carregar baldes de massa. “Sempre que é preciso lá em casa ou aos fins-de-semana, quando os amigos me pedem uma ajuda, não digo que não”.Não porque goste especialmente – “ninguém gostar de dar serventia a pedreiro” – mas porque lhe faz impressão estar sem fazer nada. Principalmente no Verão, quando os dias são maiores.E porque o seu horário de trabalho o permite. Bruno pica o cartão às nove da manhã, geralmente almoça na cantina porque a comida é boa, e sai às 17h30. O que lhe dá tempo para fazer ainda muita coisa. Por exemplo tomar um banho na albufeira de Castelo do Bode, a poucos quilómetros de sua casa.Margarida Cabeleira
De pedreiro a técnico de laboratório

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