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Portugal precisa dos média regionais e locais

São vários os estudos realizados em Portugal e no estrangeiro que consideram que a comunicação social regional e local tende a ter uma redobrada importância como suporte informativo e publicitário. O crescente interesse manifestado por estes meios indica um desejo de conhecer preferencialmente o que acontece na envolvente geográfica mais próxima, em detrimento do que acontece em âmbitos mais distantes. Os próprios meios de comunicação social de difusão nacional, estão a perceber isso. Por esta razão, estão a fazer uma segmentação geográfica dos seus produtos de media. O caso mais evidente observa-se ao nível da imprensa com a criação de edições regionais. Não tenho qualquer dúvida da crescente importância deste segmento dos media, nem da (r)evolução que, apesar das dificuldades existentes, se tem observado no sector. Muitas dessas dificuldades não teriam sido ultrapassadas, se, em muitos casos, não tivesse havido uma atitude de “amor” à causa. Não podemos deixar de reconhecer o enorme esforço de uma geração que contribuiu (ou tem contribuído) para que muitos destes meios tenham sobrevivido às adversidades económicas, sociais e políticas. Tenho observado uma nova geração de profissionais determinada a continuar alguns desses projectos na expectativa de conseguirem consolidar o seu lugar no mercado da informação. A médio prazo, parece vir a existir um contexto social e económico favorável ao consumo da informação de âmbito regional e local. Não é apenas uma questão de fé, mas uma evidência dos factos. Por isso, é necessário as empresas de media regionais e locais anteciparem essas oportunidades e organizarem-se empresarialmente. Hoje em dia já não é possível continuar com estes projectos apenas com uma atitude voluntarista. O “amor” à causa e o espírito voluntarista continuará a ser uma vantagem competitiva, desde que seja complementado com uma maior racionalidade na gestão da actividade. Num mercado cada vez mais concorrencial, é necessário juntar ao voluntarismo um maior nível de profissionalização dos directores e dos colaboradores, desde as áreas da gestão às áreas de redacção. Nesse sentido, e de acordo com a informação que tenho tido acesso sobre a reforma “Barreiras Duarte” para os média regionais e locais, parece-me extremamente importante a filosofia que lhe está subjacente porque analisa o sector numa perspectiva integrada e estratégica. Esta reforma tem um conjunto de medidas que poderão ter um efeito mais estruturante do que o Porte Pago. Foi concebido um novo sistema de apoios com uma perspectiva integrada e estratégica para o sector; e foi criado um plano específico de emprego e formação para o sector.A filosofia da reforma parece inspirada num conhecido provérbio chinês: “em vez de dar um peixe, é preferível ensinar a pescar”. No entanto, o projecto de reforma ainda vai mais além do referido provérbio: durante um período de três anos, o Governo não só irá dar a cana como também o peixe. Neste sentido, o esforço que o Estado irá fazer nos próximos três anos – através da criação de apoios “extraordinários” – deverá ser acompanhado de um maior esforço de reorganização empresarial e maior qualificação dos recursos humanos. Neste projecto, o Governo reconhece que, no contexto actual, o Porte Pago constitui um apoio importante para alguns jornais. Por isso vai mantê-lo, embora com algumas alterações ao nível do modelo de atribuição e comparticipação. No caso da expedição postal para o estrangeiro, a compartição do Estado será de 95%. Contudo, não se pode ignorar a necessidade da imprensa regional começar a desenvolver políticas próprias de distribuição complementares aos CTT. Por seu lado, o cenário de privatização dos CTT irá inviabilizar a continuidade do Porte Pago dentro dos moldes actuais. No futuro, com uma maioria de accionistas dominado por entidades privadas, não irá ser possível o Estado endividar-se junto dos CTT como tem acontecido até aqui. Isto tem sido possível em virtude da relação privilegiada que o Estado tem tido na sua qualidade de principal accionista. Esta é uma questão séria para a qual é preciso despertar.É necessário que os responsáveis dos jornais regionais e locais tenham em conta esse aspecto no desenvolvimento dos seus projectos a médio prazo. Aliás, na maior parte dos países desenvolvidos não existe nenhum apoio similiar ao porte pago. E mesmo nos países onde existe, como é o caso de França, a comparticipação do Estado não é tão elevada como a que se verifica em Portugal. A própria população portuguesa parece ter um opinião bem formada sobre o papel e comparticipação do Estado nos apoios à comunicação social. De acordo com um estudo recentemente (Maio, 2004) realizado pelo Instituto de Opinião e Pesquisa de Mercado (IPOM), uma significativa maioria dos portugueses considera que os apoios à comunicação social regional e local, no caso de existirem, devem ser sempre parciais e não totais. Nesse estudo também foi possível concluir que os portugueses consideram que os apoios à formação e ao emprego são os mais importantes, embora o Estado nunca deva conceder esses apoios a 100%. Neste sentido, sou daqueles que defende que o Estado deve, na medida do possível, desenvolver políticas para ajudar a comunicação social a desenvolver-se, sobretudo os media regionais e locais, mas sem que isso signifique que a actividade jornalística não deva ser encarada com espírito empresarial. Apesar da evolução positiva e do grande esforço feito por muitos dos principais responsáveis e colaboradores das empresas de média regionais e locais, é necessário ter conciência de que ainda estamos muito longe dos níveis da comunicação social regional e local de outros países europeus. Se olharmos para os meios de comunicação social da nossa vizinha Espanha, facilmente percebemos a distância que nos separa ao nível da gestão e organização emprearial e, consequentemente, ao nível da qualidade do produto É claro que não deveremos fazer uma comparação tout court (porque somos também um país com mais debilidades estruturais), mas o fosso existente - entre a nossa imprensa e a emprensa espanhola, por exemplo – é tão grande que deve fazer-nos pensar. Não vai ser possível alguns meios de comunicação social regional e local sobreviverem no futuro se não encarem a sua actividade como uma empresa - com especificidades, é certo – que necessita de conquistar o mercado de leitores e de anunciantes. A maior parte destas empresas estão demasiado personalizadas na figura do seu director ou proprietário; porém, hoje é cada vez mais difícil estar sozinho no mercado. Estas empresas necessitam de ganhar dimensão, pelo que é necessário cooperarem mais entre si para o desenvolvimento de novos projectos. Mãos à obra. Portugal precisa de vocês!*Doutorando em Comunicação Social (especialização gestão dos media) na Universidade Complutense de Madrid

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