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A natureza em estado puro

A natureza em estado puro

Mação tem as carências e as potencialides das terras do interior

Mação é uma freguesia situada na transição entre o Ribatejo e a Beira Interior. As belezas naturais e a floresta são as suas maiores riquezas. A desertificação e o envelhecimento da população são flagelos comuns a outras zonas do interior.

Localizada na zona do pinhal, na freguesia de Mação são bem evidentes os efeitos da interioridade. As aldeias estão quase desertas, cada vez nascem menos crianças e só os mais velhos dão vida às casas de pedra construídas nas encostas acidentadas da serra. O turismo e o regresso dos naturais que emigraram na juventude podem dar outra vida a uma zona que tem na floresta a sua maior riqueza.Riqueza que tem sido regularmente devastada pelas chamas que originaram um cenário de terra queimada, com pequenas áreas verdejantes próximas das ribeiras. Apesar do relevo acidentado, Mação era uma freguesia de muitas hortas, bom vinho e muita carne. Produtos de qualidade que há ainda poucas décadas contribuíam para abastecer os mercados de Lisboa.Dizia-se que se Mação deixasse de mandar hortícolas e carne de porco para a capital os lisboetas começavam a passar fome. Actualmente é o contrário, já pouco se produz e a população consome o que vem de fora. Situada numa das encostas do Monte Calvário, a freguesia de Mação estende-se por uma área de 67,3 quilómetros quadrados, englobando para além da sede do concelho as aldeias de Castelo, Pereiro, Santos, Caratão, Casas da Ribeira, Carregueira, Rosmaninhal, Vale de Abelha e os povoados de Quinta Vale das Árvores e Ventosa. Segundo o último censos, a autarquia tem 2.276 residentes, dos quais 2.058 são eleitores recenseados. Cerca de 12,7 por cento dos habitantes são crianças e jovens, correspondendo 58,3 por cento a percentagem de adultos em idade activa. Os idosos, representam 29 por cento da população local. A alguns desses locais é difícil chegar. São estradas estreitas de encosta, por onde na maior parte dos casos os transportes públicos deixaram de circular. Os circuitos deixaram de ser rentáveis e as operadoras desistiram. A solução poderia passar pela introdução de mini-autocarros, apresentados há cerca de dois anos pela Rodoviária do Tejo, mas o poder local tinha de participar nos custos.Actualmente, à sede do concelho onde estão localizados todos os serviços do Estado, de apoio social e de saúde só se chega por meios próprios ou à boleia com os vizinhos, à excepção do Centro de Dia, pertença da Misericórdia, que tem carrinhas para transportar os idosos. Não há qualquer extensão do centro de saúde nas aldeias, embora se façam algumas visitas domiciliarias. Também as escolas primárias foram fechando pouco a pouco e a última, situada no Pereiro, actualmente com duas alunas, vai encerrar no próximo ano.O parque escolar situado na vila é composto por um infantário, com 64 crianças, três educadoras e três funcionários, duas escolas do primeiro ciclo do ensino básico, com 87 alunos. As crianças de Mação contam, ainda, com a Escola EB 2/3, frequentada por 450 alunos. Todas as aldeias têm água e luz, mas falta resolver o saneamento básico. Um problema de difícil resolução, segundo o presidente da junta, mas que se não forem feitas as infra-estruturas necessárias vai acarretar graves problemas nas ribeiras, por ora límpidas. Na maior parte das aldeias já não existe nem sequer uma taberna, das muitas que em tempos eram pontos de encontro dos homens da terra, resineiros, madeireiros, agricultores ou talhantes que se atarefavam na matança e feitura dos enchido dos porcos pata negra vindos do Alentejo. As camionetas de passageiros levavam para Lisboa os cabazes de verga cheios de carne acondicionada e vendida nas aldeias de Mação.Nas casas de pedra - porque Mação apesar de pertencer ao distrito de Santarém e à Comunidade Urbana do Médio Tejo, tem mais semelhanças com a Beira Interior - as mulheres teciam nos teares faixas e mantas para exportar e bordavam tapetes de Arraiolos.Apesar das vicissitudes, Mação mantém vivas algumas das suas tradições. A Feira Mostra que no próximo fim-de-semana se realiza na sede do concelho é a prova de que as populações locais continuam a ter para oferecer boa comida e um artesanato singular.Antes também havia moinhos de água e de vento aproveitando os recursos naturais, hoje estão em ruínas e outros ?moinhos? encimam o monte Calvário. São aerogeradores utilizados para a transformação da energia eólica em electricidade. O regresso de alguns filhos da terra que depois da reforma decidem recuperar as suas casas da aldeia tem mantido e dinamizado as colectividades locais e contribuído para estancar um pouco a completa desertificação. ?Já houve aldeias que estiveram quase a desaparecer e com a vinda dos reformados ganharam vida?, diz o presidente da junta Adílio Barbeiros, que acrescenta: ?O que vale às aldeias de Mação é o dinheiro dos reformados?.Perante este cenário as alternativas viram-se para o aproveitamento em termos turísticos dos recursos naturais. Na freguesia de Mação, perto do Castelo a caminho dos aerogerores, situa-se o parque de merendas do Brejo. Uma espécie de ex-libris da freguesia.Fica a meia encosta e tem água a jorros. A obra foi feita aproveitando uma velha mina aberta por um rico proprietário de Castelo para regar a sua horta. O agricultor morreu sem descendentes e coube à junta recuperar e adaptar o que já existia. Actualmente é local obrigatório para quem vai para aquela zona.Margarida Trincão
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