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Um dos últimos resineiros de Mação

Um dos últimos resineiros de Mação

“Resineiro engraçado/engraçado no falar” dizia Zeca Afonso. E é engraçado o calão próprio de uma actividade que em tempos deu emprego a muitos rapazes da zona do pinhal. Mário Pedro, 72 anos, é um dos últimos profissionais dessa arte que, ao contrário do que se poderia pensar, exige técnica e saber apurado.Natural e residente em Castelo, aldeia da freguesia de Mação que apesar do nome não tem qualquer fortaleza acastelada no seu território, Manuel Pedro faz parte de um grupo de irmãos todos resineiros. Mário Pedro, sangrou pinheiros durante 44 anos, depois reformou-se mas não esqueceu os nomes das ferramentas, da técnica de cortar e das épocas.Em Fevereiro fazia o descarrasco do pinhal, ou seja o corte, em Março espetavam-se as bicas e as cavilhas que suportavam os púcaros, os vasinhos de barro que recebiam a resina, a seiva dos pinheiros.A recolha vinha duas a três semanas mais tarde. Cada púcaro dava um quilo de resina despejado para potes que os burros transportavam para fora dos pinhais. Era então a altura de fazer a renova, novo corte no tronco da árvore, sendo o primeiro curado com ácido sulfúrico a 45 graus, conta o resineiro.“Era uma vida dura mas alegre”, diz recordando os bailaricos, as cantigas e os assobios com que se chamavam uns aos outros: “Conhecíamo-nos a todos pelo relinchar”, graceja rindo de alma aberta.Apesar dos 72 anos, Mário Pedro é um homem corpulento e cheio de vida. Afirma que sempre foi uma pessoa bem disposta, o que não custa a crer pela forma como fala e ri.No Castelo, a pequena aldeia de casas de pedra a caminho do Brejo, parque de merendas em local paradisíaco, e dos aerogeradores, Mário Pedro vai fazendo a sua vida.Enviuvou há 12 anos, teve um problema de coração que não lhe permite comer gorduras, mas continua a rir e a recordar os tempos de juventude em que para “arrancar” um beijo a uma rapariga era uma carga de trabalhos.“Agora é tudo à descarada, dantes era uma trabalheira e quando roubávamos um beijo era uma festa. Faziam-se descamisadas à procura do milho rei para dar um beijo... Uma sardinha era para três, mas éramos alegres, estávamos sempre prontos a cantar e brincar”, diz.Para um bailarico não era preciso grandes preparativos. Juntava-se um grupo de rapazes e raparigas, mais as respectivas mães, um tocava acordeão, outro gaita-de-beiços e estava a música feita. E para que não se jure em falso, Mário Pedro ensaia uma melodia na sua gaita-de-beiços.“Volte sempre. Aqui há bom ar, bom vinho e água a jorrar por todos os lados”, despede-se, oferecendo um saco de laranjas que é impossível recusar.
Um dos últimos resineiros de Mação

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