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Quando o telefone toca

Hélder Fráguas
Os tribunais contam com um bom sistema informático. Quem já pediu um certificado de registo criminal sabe disso. É só exibir o bilhete de identidade e, de imediato, leva o documento.Há um ou outro aspecto que poderia ser melhorado. Não se compreende que os ratos ópticos ainda não tenham sido adoptados. Eu adquiri um com dinheiro do meu bolso e também não foi com grande sacrifício, porque o preço é reduzido. A produtividade é obviamente maior.Ainda menos se explica que os computadores dos tribunais não tenham gravadores de discos compactos. Continuam a utilizar-se as velhinhas disquetes. Gasta-se tempo e dinheiro inutilmente.Mas de um modo geral, os equipamentos de informação e comunicação são de qualidade e contam com uma boa assistência técnica.Só por brincadeira se pode explicar o que fez o meu amigo Miguel.Era fácil ter pedido que lhe reparassem o telefone.A cena passou-se no Tribunal de Almada, de excelente ambiente de trabalho e onde reina a boa disposição. O que se passava com o telefone do procurador-adjunto era o seguinte. O fio de ligação do auscultador ao aparelho tinha a ficha RITA quebrada. A patilha que assegura a prisão do cabo tinha-se partido. De modo que tocava o telefone e ao levantar o auscultador, ficava-se com ele na mão, porque o fio soltava-se. Ainda por cima, o cabo encontrava-se muito embaraçado e o seu comprimento encurtado.A solução foi à moda do Miguel, com o melhor do seu espírito gozão. Chegou cedo ao tribunal e pediu que lhe abrissem a porta do gabinete da sua colega Susana, que ficava mesmo junto ao dele. Rapidamente, trocou os auscultadores e a questão ficou resolvida.Duas ou três horas depois, assisti ao diálogo entre os dois. Eu que tinha assistido à permuta.Veio a Susana, solteirona, típica mulher que já entrou nos quarenta e se sente algo desamparada, a queixar-se de que, sem saber como, o seu telefone tinha-se avariado. Agora cada vez que queria atender uma chamada, não conseguia porque o auscultador separava-se do aparelho. Ainda tinha tentado fazer a operação com algum cuidado, mas não havia remédio. Aquilo estava tudo desarranjado. Ainda por cima, o fio tinha-se enrolado todo, sem ela perceber como. Nunca lhe passou pela cabeça que alguém lhe tinha feito uma malandrice.O Miguel, responsável por tudo, olhou para mim com um sorriso matreiro e depois encarou a colega:- Não te preocupes, Susana, que eu estou habituado a telefones avariados. Fazes assim. Quando tocar o telefone, não levantas logo o auscultador. Com uma mão, seguras a ficha, para ela não se soltar. Depois, baixas a cabeça para aproximá-la do telefone e puxas o auscultador sem brusquidão.A magistrada agradeceu muito e resignou-se com o novo método para atender as chamadas.Dias depois, fui eu a vítima do Miguel, que actuou em coautoria com um colega.Tinha entrado ao serviço uma nova funcionária, que eu já conhecia de outro tribunal. Era jovem e vistosa, usando sempre mini-saia. Vinha ela a entrar no edifício. O Miguel e eu saíamos, para tomar café. Cumprimentei-a com dois beijinhos na face e desejei-lhe as boas vindas ao novo local de trabalho.À tarde, recebi um telefonema. Era uma voz desconhecida. Avisava-me para eu ter cuidado e nada de conversar com a nova funcionária. Era o namorado dela. Lembrou-me que ela era moça de respeito.Não me sentia na necessidade de dar explicações, dado estar de consciência tranquila. Mas aqueles ciúmes doentios incomodavam-me. Até que ouvi em surdina, uma mal contida gargalhada. Mais uma do Miguel...* Juiz(hjfraguas@hotmail.com)

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