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Retoma a conta-gotas

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Empresários da região de Santarém ainda não vêem a luz ao fundo do túnel

Se a retoma económica chegou a Portugal os empresários da região de Santarém não deram por ela. Pelo menos a avaliar pelo pessimismo demonstrado em quase todos os sectores de actividade. Salvam-se honrosas excepções, para quem a crise parece ter passado ao lado.

Nos últimos seis meses a firma de construção civil João Salvador, de Tomar, perdeu dez por cento do volume de negócios perspectivado para o primeiro semestre. O empresário diz que o fosso criado pela crise foi demasiado profundo e que a retoma irá surgir lentamente. Uma opinião partilhada pela maioria dos empresários da região.Trabalho tem havido, mas “aos repelões”, não consolidado. Além de acusar as grandes construtoras de “sugarem” as mais pequenas, concorrendo e ganhando obras de menor envergadura, João Salvador põe o dedo na ferida falando dos atrasos nos pagamentos, nomeadamente por parte das autarquias.“As câmaras endividaram-se de forma acentuada, não podem recorrer a empréstimos bancários, e agora pagamos todos a factura”.Se quem constrói casas se queixa da crise quem as vende não vê também a luz ao fundo do túnel. “Retoma económica, só em filmes”, diz peremptório José Reis, da imobiliária Ormi, situada no Cartaxo.O responsável da empresa diz que Maio e Junho foram dois meses completamente parados em termos de vendas, talvez porque a oferta continua a ser maior que a procura. “Os construtores não deixaram de construir mesmo em tempo de crise e há por aí muitos andares vagos”.Além disso, reforça o agente imobiliário, o preço não desceu, a qualidade é que subiu. “Cada vez mais as pessoas querem casas apetrechadas com maior número de equipamento – aquecimento e aspiração central, cozinha com electrodomésticos, mais qualidade a preços antigos”.Além disso, os bancos retraem-se na altura de emprestar dinheiro e há também outros custos que têm de entrar para a contabilidade – as taxas camarárias, os projectos de gás e de electricidade. “É sempre a somar”.A diminuir só mesmo os quilómetros feitos no automóvel de família, que a gasolina e o gasóleo não param de subir. Na manutenção do carro é que as pessoas continuam a ser cautelosas, porque mais vale prevenir que remediar. João António Carlos, da Pneusol de Santarém, afirma que as pessoas continuam a comprar regularmente pneus na sua empresa e é raro ver alguém lá chegar com os arames a aparecer.Os pneus são mudados na altura recomendável mas o tempo que medeia a ida dos automobilistas à Pneusol foi esticado. “As pessoas andam menos, retraem-se a sair de casa, a gastar dinheiro em passeios”.Na empresa de Santarém, os clientes continuam a ser bons, pagam é mais tarde – em vez dos habituais 30 dias, agora recebe-se passados 90 ou mesmo 120 dias. “Tem de se saber gerir o negócio”, refere João Carlos, para quem a crise passou um pouco ao lado.Venda de automóveis estacionouApesar do anúncio do aumento do número de matrículas em circulação - o que houve foram aquisições por parte de empresas de aluguer (rent a car) devido a uma maior procura trazida pelo Europeu de Futebol - a venda de automóveis novos estagnou na região. Pelo menos na Pedro Lamy, concessionária Peugeot em Vila Franca de Xira.António Martinho, director geral da concessionária, referiu ao nosso jornal que as vendas dos primeiros seis meses ficaram rigorosamente iguais às verificadas em igual período do ano passado. Até Junho deste ano, a Pedro Lamy vendeu 270 viaturas, entre comerciais e de passageiros, e a gama 307 tem sido a mais procurada por quem compra.Enquanto se espera pela retoma, há que fazer opções e questionar prioridades. Quem gosta de aventura pode até nem deixar de a praticar, mas arranja maneira de conseguir manter algumas moedas no bolso. Que o diga a Aventur, empresa de animação turística e desportos de aventura de Torres Novas. Mesmo que Gonçalo Neves não se possa queixar do negócio – afinal os lucros da sua empresa subiram 200 por cento no último ano – as actividades foram reduzidas ao mínimo.“As pessoas procuram agora as actividades mais simples, de um só dia e muitas vezes sem almoço, preferindo trazer um lanche e fazer um piquenique”. Talvez porque o custo do almoço represente um terço do valor total a pagar pela actividade.É nos grupos de amigos que querem aventura que Gonçalo Neves sente um maior decréscimo – “as actividades promovidas por empresas, nomeadamente grandes empresas, têm-se mantido”.Mas já se “foge” às actividades complementares. Quem faz descida dos rios Zêzere e Tejo em canoa já dispensa pain ball ou actividades mais radicais.E mesmo onde geralmente não se pode poupar se faz contas à vida. É o caso dos medicamentos. Manuela Estevão, directora técnica da Farmácia Baptista, em Santarém, referiu a O MIRANTE que os clientes têm tido a preocupação de pedir medicamentos genéricos, mais baratos, aos médicos.“Estamos a vender muito mais genéricos”, diz, adiantando que essa situação advém de uma quase imposição do doente perante o seu médico.Relativamente aos chamados pequenos luxos, como a dermocosmética, Manuela Estevão diz que se continuam a vender cremes para rugas ou, mais nesta altura do ano, os famosos adelgançantes e “queimadores” de celulite. Mas a percentagem de clientes que pagam em dinheiro vivo é cada vez menor. “Usa-se muito o visa”. É deixar para amanhã o que não se pode pagar hoje.Também há excepçõesComo em todas as regras há sempre uma excepção e, neste mar de lamentos, há quem já consiga navegar a favor da corrente. A Prebesan, empresa sedeada em Almoster, Santarém, que se dedica ao sector das obras públicas hidráulicas tem trabalho garantido já para todo o ano e, como referiu o gerente da empresa, está-se à espera de outras obras de grande envergadura, como as redes de rega no Alqueva e na Cova da Beira, como fornecedora de material às empreitadas que serão ali realizadas.“Ao contrário da construção civil, este sector está a ter um forte investimento público e perspectivamos um aumento da actividade para 2005 e 2006”, afirmou ao nosso jornal Massano André.Mesmo que para a larga maioria dos empresários da região a retoma não se note ainda no horizonte, é essencial que o país não sofra agora qualquer instabilidade. É por isso que todos são unânimes em afirmar que novas eleições agora funcionariam como um recuo na vida empresarial. Margarida Cabeleira
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