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“A pintura é uma terapia”

Emília Daniel Leitão, uma mulher multifacetada com alma de artista

A pintura em seda de Emília Leitão é apenas uma das múltiplas facetas de uma mulher com alma de artista que segue no seu dia a dia um lema budista. “Para sermos felizes na vida devemos seguir o bem, o belo e a verdade”.

Os frutos, as folhas e as cores da floresta são alguns dos grandes motivos de inspiração de Emília Daniel Leitão, formada em silvicultura, que transpõe para delicados tecidos em seda minuciosas pinturas. A artista tem o dom de transformar simples écharpes, gravatas e lenços de seda em autênticas obras de arte. À noite, dobrada sobre o suporte de madeira que estica os tecidos, aplica tintas que às vezes salpica de sal, outras vezes polvilha de açúcar. Da mistura das substâncias nascem arco-íris de cores únicas que se misturam na sensualidade dos tecidos. Desde a seda selvagem à organza.“Pantanal”, “Lezíria”, “Folhas ao vento” e “Ondas e espuma” são algumas das criações. Mais de 60 trabalhos de pintura em seda da artista residente em Santarém poderão ser vistos na Galeria de Exposição da Ordem dos Engenheiros, na Avenida Sidónio Pais, em Lisboa, até 30 de Julho, já que em Santarém as galerias não se mostraram disponíveis para uma exposição deste tipo.“Pintura sobre sedas” é o título da mostra e venda que irá reunir as obras que inspiraram Milocas Daniel – o nome que coloca nas etiquetas das peças – durante o último ano.Emília Daniel Leitão, 58 anos, reside em Santarém mas é verdadeiramente uma cidadã do mundo. Nasceu em Arcozelo, Gouveia, mas com apenas um ano rumou a África com os pais. Chegou a Santarém há 19 anos, depois de uma demorada estada em Moçambique e de uma passagem pelos Açores, Lisboa e França. O marido, veterinário de profissão, foi convidado a trabalhar na Estação Zootécnica Nacional e a engenheira silvicultora acabou por exercer a sua actividade no mesmo local.Assim que chegou a Santarém procurou colaborar com a vida da cidade. Começou por participar activamente nas associações de pais e de moradores do bairro. Há quatro anos que integra também a direcção do Lar de Santo António, uma instituição de solidariedade que acolhe raparigas.No apoio ao lar deixou influenciar-se pela sua formação académica e criou um clube de floresta. Arranjou uma mochila, com t-shirt, boné e um lenço para ajudar a sensibilizar cada uma das jovens para a protecção do meio ambiente. No ano passado acompanhou-as às olimpíadas florestais e costuma organizar idas ao teatro. “Às vezes penso que sou benemérita por egoísmo porque o facto de ser simpática e agradável dá-me prazer. Tiro qualquer coisa disso”.Durante muitos anos trabalhou como chefe de divisão de conservação e protecção da natureza na Direcção Regional de Agricultura e Florestas e ocupou o cargo de coordenadora dos fogos florestais do Ribatejo e Oeste. “Na época dos fogos estava ao serviço 24 horas ao dia. Chegavam a telefonar-me às onze da noite porque havia um fogo nos arredores de Abrantes”, recorda. Artista autodidactaReformou-se há dois anos e desde essa altura que tem mais disponibilidade para dedicar-se a tempo inteiro à sua segunda vocação – a pintura em seda.Durante os quatro anos que esteve em França inscreveu-se num grupo cultural e recreativo do bairro de periferia e iniciou-se na arte de pintar seda. “A pintura em seda é muito diversificada. Tem técnicas muito simples que qualquer criança pode aprender e há a possibilidade de fazer uma fusão de cores”, descreve. A técnica do sal, que confere um matizado aos tecidos, foi um dos métodos que deslumbrou a artista. O pincel embebido em álcool também cria efeitos mágicos de cores, assim como o açúcar em ponto que por vezes espalha por cima do tecido. Uma professora ensinou-lhe os rudimentos da arte, mas nunca chegou a ter um verdadeiro mestre. Foi uma autodidacta que consumiu vários livros e revistas. Para Emília Leitão a pintura em seda é uma espécie de terapia que a faz desligar-se do mundo lá fora. Mas é sobretudo a paixão pela arte que a leva a continuar o seu trabalho de criação.“Para sermos felizes na vida devemos seguir o bem, o belo e a verdade”. O dito é de um budista japonês com quem Emília Daniel Leitão se cruzou um dia. A frase nunca mais lhe saiu da cabeça e desde aí que tenta adequar esta expressão ao seu dia a dia.Ana Santiago

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