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Esclarecido Serafim das Neves

Não me tentes com jericos que eu quando oiço zurrar fico logo com formigueiro nos cascos. Só me apetece escoicinhar. Eu a tentar fazer orelhas moucas aos discursos dos políticos e tu a dar-lhes. Apetece-me dizer como o José Régio: Eu não vou por aí. Mas não digo porque não gosto de prometer o que não cumpro. Mais tarde ou mais cedo irei zurzir numa ou noutra alimária. Eu sei. É fatal como o destino. Está-me na massa do sangue. No ADN escrevinhador. Mas falemos de coisas bem diferentes, como dizia a cantiga. Serafim, o que me dizes daquele marmanjo que gamou um camião do lixo da câmara do Cartaxo e que, quando foi apanhado pela polícia, disse que era para ir a um funeral? Está a ver o mânfio no cortejo fúnebre com uma bizarma daquelas??!! E o cheirinho a cascas de batata podres que aquilo devia mandar??!!Havia aquele gajo a quem a avó morria de quinze em quinze dias proporcionando-lhe fins de semana prolongados que não estavam programados. Mas roubar um camião do lixo e tentar enfiar o urso aos bófias dizendo que era a única maneira de chegar a horas ao funeral de um primo, é obra. Com tanta capacidade de imaginação a nível nacional não se percebe porque é que a nossa ficção é tão pobrezinha.Eu sugiro que contratem o homem do gamanço do camião do lixo para argumentista do próximo filme do cineasta Manoel de Oliveira. Acabava-se com aquela pasmaceira toda de horas e horas de película sem acontecer nada. Estou já a ver a cena. Nuvem de pó ao longe. Barulho de sirenes de carros da polícia. O camião do lixo aparece numa curva e acerta num carrinho de venda de castanhas e pipocas. O condutor perde o controle do mastodonte e entra pela montra de uma barbearia. Senta-se e pede um corte à David Beckem. Os polícias cercam o estabelecimento e entram de roldão. Há uma luta enorme entre os agentes para ver quem consegue chegar primeiro ao Correio da Manhã.À porta passa um cortejo fúnebre. Luís Miguel Cintra, que faz de morto, soergue-se e diz adeus ao primo ladrão de carros do lixo. A viúva pede-lhe, aos berros, que se porte bem porque há vizinhas a ver. O defunto volta a deitar-se e rapa de um livro de poesia. Lê dois versos e adormece...para sempre. As vizinhas calhandreiras discutem entre elas. “Estava a ler A Maria, digo-te eu”, ouve-se sobre fundo negro. Depois pode entrar o Figo com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima de calções e chuteiras. E por aí fora. Dá um desconto ao e-mail de hoje. A temperatura está amena mas ainda não consegui libertar-me dos efeitos psicológicos dos avisos da protecção civil sobre uma vaga de calor. Ou seria vaca de calor? Se calhar confundi tudo. Eles falavam no distrito de Santarém, disso tenho a certeza. E no distrito, realmente, é mais fácil encontrar vacas que vagas. As vagas formam-se no mar, se bem me lembro e a Nazaré já é distrito de Leiria. Raios partam a geografia!! Não queria despedir-me sem passar por Torres Novas. A maior parte do concelho não tem saneamento básico e onde há rede de esgotos não há estações que tratem a merda que é lançada aos ribeiros em estado puro. Tal qual é evacuada. Isso não impede o presidente da câmara de avançar para a construção de uma rotunda com uma cascata. Só espero que quando a água que vai abastecer o monumento não venha de nenhum curso de água dos tais. Se não fica tudo salpicado...de bosta.Um quebra ossos despoluído do Manuel Serra d’Aire

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