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O fogo levou-lhe tudo

O fogo levou-lhe tudo

Funcionário da Câmara de Almeirim ficou sem casa e vive da ajuda dos colegas

No dia 25 de Junho um fogo numa fábrica desactivada de Almeirim alastrou à casa de um funcionário da câmara municipal. Dimas Rodrigues, que vivia com algumas dificuldades, ficou sem nada. Até as recordações desapareceram nas chamas.

Ao olhar para os escombros queimados da casa, Dimas Rodrigues não consegue conter as lágrimas. O cabouqueiro da Câmara de Almeirim estava de férias na sua terra natal, na zona de Viseu, quando um fogo que começou numa fábrica desactivada na zona industrial da cidade alastrou à sua habitação. Foi no dia 25 de Junho e quando recebeu a notícia pelo telefone ficou em estado de choque. Já por duas vezes Dimas Rodrigues, 57 anos, tinha visto o seu lar feito de madeira e chapas de zinco ameaçado pelas chamas. Tal como agora, dessas vezes, dezenas de pneus armazenados no exterior da antiga fábrica começaram a arder. Mas os bombeiros conseguiram sempre salvar a casa situada no meio de uma vinha. Os poucos bens que conseguiu juntar ao longo de trinta anos ficaram reduzidos a cinzas. A cama, as roupas, fotografias do casamento fazem agora parte de um amontoado de ferros retorcidos. Dimas Rodrigues vivia no local há perto de 30 anos, quando começou a trabalhar para a autarquia. Foi lá que criou os seus dois filhos. A casa não tinha as mínimas condições, mas guardava muitas recordações de vida. Tinha sido emprestada por um agricultor de Almeirim que aproveitava a presença do funcionário da câmara para ter a vinha vigiada. Dimas Rodrigues morava sozinho, já que a mulher está em Viseu junto dos filhos. “Para além de ter perdido tudo, o que me custa mais é ver desaparecer as recordações. Quando os meus colegas da câmara começam a falar do assunto fico emocionado. Já chorei uma série de vezes”, conta, acrescentando que as poucas coisas que tinha foram adquiridas com sacrifício e muito trabalho.O fogo levou-lhe também todos os documentos. Como os papéis que tinha para tratar da reforma daqui por três anos. Declarações do período em que trabalhou no estrangeiro e do tempo em que foi tropa e combateu na guerra do Ultramar. Com o olhar inundado de tristeza, Dimas Rodrigues recorda que fazia sempre um aceiro de três metros à volta da casa. E este ano, pela primeira vez, não cavou o terreno pertencente à antiga fábrica, onde o feno dá pela cintura de uma pessoa. “Foi preciso ter azar”, desabafa. Sem ter para onde ir e sem grandes recursos económicos, já que grande parte do ordenado de cerca de 500 euros é enviado para a mulher, Dimas Rodrigues pernoita nas instalações dos serviços de águas da câmara. Dorme num sofá na sala de convívio dos fun-cionários do piquete das águas da autarquia, do qual também faz parte. “Sinto que estou a estorvar os meus colegas. Eles agora evitam ir à sala porque sabem que eu durmo lá e não querem incomodar”, sublinha. Entretanto a câmara está a recuperar uma pequena sala no edifício do serviço de águas, transformando-o num quarto onde o infortunado funcionário ficará instalado. No meio da desgraça, Dimas Rodrigues ainda encontrou uma pontinha de felicidade. Conseguiu salvar a bicicleta que é o seu único meio de transporte. Por sorte, antes de ir de férias para a terra, deixou-a guardada no local de trabalho. Aos poucos, o cabouqueiro vai agora tentando refazer a vida. Alguns colegas de trabalho já lhe deram roupa. Mas ainda lhe faltam casacos para o Inverno. Aos poucos tenta também esquecer a desgraça que se abateu na sua vida que, como descreve, tem sido sempre a “andar para trás”.
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