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“Dois anos muito difíceis”

“Dois anos muito difíceis”

Acidente e acusação a ex-vereador marcaram pela negativa mandato de António Paiva

António Paiva viveu momentos “muito difíceis” no actual mandato, após o acidente que o envolveu e onde faleceu uma criança. O presidente da Câmara de Tomar reconhece que essa tragédia ainda o afecta na sua vida pública e pessoal. Diz ainda que a acusação de coacção sexual que pesa sobre o seu ex-vereador António Fidalgo “são coisas que acontecem” devido à mistura entre relações profissionais e pessoais.

Até que ponto algumas situações menos agradáveis que surgiram no decorrer do actual mandato, como o acidente em que esteve envolvido e a acusação que pesa sobre o seu ex-vereador António Fidalgo, afectaram a sua intervenção política?Claro que o acidente me afectou. O lugar em que estou, por mais que as pessoas achem que é pouco exigente, exige uma exclusividade total. Ou seja, não é possível exercer o lugar de presidente da câmara sem haver uma dedicação total e profissional à causa. Já fiz um mandato sem nenhum desses problemas pessoais e sei o que é ter a cabeça ocupada com dificuldades pessoais e ter de exercer o lugar de presidente. Isso afectou-me e infelizmente ainda me afecta. É uma coisa com que tenho de aprender a viver. Tive dois anos muito difíceis.Não sentiu vontade de deixar de ser uma figura com tanta exposição pública, de largar a política?Isto não tem que ver com a exposição pública. Não distingo a minha vida por ter mais ou menos exposição. A pessoa está bem consigo própria ou não está. E isso foi um abalo terrível que não tem descrição.Relativamente ao que se passou com o seu ex-vereador?São coisas que acontecem.Quando uma pessoa perde um colaborador próximo, seja ou não verdade a acusação que pesa sobre António Fidalgo, isso não mexe com o funcionamento da equipa?Incidentes desses, de divergências entre funcionárias e um vereador, ninguém nas minhas funções pode dizer que não esteja sujeito a eles. Temos de estar preparados para tudo e para alterações de elenco de ve-readores a qualquer momento. Preferia que não tivesse acontecido a situação. Procurei sempre salvaguardar a imagem da câmara, enquanto institução, durante todo o processo.Esse caso não afectou o trabalho em equipa?Não me afectou, embora qualquer saída de um vereador afecte o trabalho em equipa. Mas se esse trabalho estiver a ser bem feito nem a saída do presidente deveria afectar significativamente. O vereador Fidalgo e os seus serviços estavam a fazer um bom trabalho na educação, a determinada altura optou por sair e nós fizemos as adaptações necessárias.Ainda no anterior mandato, numa entrevista ao nosso jornal, dizia que iria mexer na sua equipa, mas o vereador Fidalgo acabou por ser reconduzido. Está arrependido dessa decisão? Se soubesse o que sabe hoje teria pensado duas vezes? Não, porque as circunstâncias não tiveram que ver com a eficácia ou eficiência dos serviços no exercício da sua função de vereador. Para mim a questão está muito localizada e é resultado da mistura de questões pessoais com questões profisionais. Felizmente para a câmara municipal acho que o caso do António Fidalgo não teve repercusões directas na eficiência dos serviços. O que houve efectivamente foi um problema entre várias pessoas que ainda não tem solução. Essa situação não causou mau ambiente entre os funcionários?Não. E se calhar constitui uma experiência. Porque as más experiências são também úteis para que todos percebamos que uma coisa é o exercício da nossa profissão e outra é o exercício das relações pessoais. Tem-se visto um certo aumento de protagonismo de alguns dos seus vereadores, em contraponto com algum apagamento da sua parte. É estratégia?Isso tem que ver com o que falamos há pouco. Uma coisa é exercer a função em reuniões, na vida pública. Outra é comparecer em acções sociais que devo reconhecer que ainda me custa um bocado fazer. Mas não é nada que não consiga ultrapassar.“Nunca fui convidadopara o Governo”Falou-se na possibilidade de poder ir para o Governo, aquando da remodelação feita pelo então primeiro-ministro Durão Barroso. Teve convites nesse sentido?É natural que o nome de algumas pessoas que estão mais ligadas aos responsáveis actuais pelo PSD seja falado nos jornais, ou até entre dirigentes. E eu sou amigo do Miguel Relvas há anos, foi ele que me convidou para ser candidato a presidente da Câmara de Tomar. Acho que posso ser útil aos outros, mas cada coisa na altura certa.Foi convidado ou não foi convidado?Não fui convidado para o governo.Mas veria um convite desses com bons olhos?Não. Qualquer um de nós sabe qual é a sua função em determinado momento. E qualquer pessoa percebe que o meu lugar é este agora. Não há nenhuma dúvida. Aliás sempre entendi que era fundamental existir um organismo supramunicipal. Hoje existe e tenho funções nele. Tenho muito a fazer aí.Para o ano há eleições autárquicas. Já sabe o que vai fazer?Ainda não sei. O que temos de discutir é as condições em que nos candidatamos aos mandatos seguintes. Porque os mandatos estão cada vez mais exigentes, é preciso dar respostas adequadas àquilo que são as necessidades das pessoas, e eu acho que tenho conseguido fazê-lo.Tem cerca de um ano para decidir.Sim, mas pelo caminho temos muito para concretizar. Para se criar condições de avançar para mandatos seguintes. Aquilo que depende da câmara municipal está tudo em marcha. Que condições são essas e quem é que as pode garantir?As minhas condições nunca são pessoais. Têm sempre que ver com o desenvolvimento do concelho e com o respeito que se deve ter por quem está nos lugares e quer fazer o melhor pela sua região. O respeito por políticas que estão perfeitamente definidas. O PSD disse que o desenvolvimento do interior do país era fundamental. E eu sou um dos representantes do interior do país. O Miguel Relvas, com esta descentralização, já deu um grande passo e estou convicto que neste Governo há pessoas que darão outros passos significativos. Se os desafios valerem a pena cá estaremos.As questões que se prendem com o financiamento das autarquias estão entre essas condições?Acho que se está a cercear o desenvolvimento do interior do país em nome de um mito chamado endividamento das autarquias, que está muito mal entendido por muita gente. Esse assunto tem de ser discutido com muito rigor. Se for assim, alguém na administração central perceberá e os projectos que estão em marcha continuarão. Porque se não conseguirmos fazer determinados projectos não conseguimos levar a cabo a nossa política.A questão do Polis é uma das que lhe está atravessada, dado que vai ser prolongado no tempo e a câmara vai ter de suportar custos acima dos previstos?As questões do Polis, da educação ou das acessibilidades que nos estão atravessadas. Nós acreditamos que a questão da educação é fundamental. No primeiro mandato fizemos três centros escolares, temos mais três para candidatar e não temos lugar onde os possamos candidatar porque não existe uma linha de financiamento específica. Foram abertas excepções para o Euro 2004, a verdade é que o assunto está arrumado, correu muito bem e teve repercussões na economia. Mas ninguém me venha dizer que o financia-mento para escolas não tem repercussões na economia. Pode não ser no ano seguinte, mas a dez anos tem.Continua a ser um autarca independente eleito pelo PSD. Continua sem pensar em filiar-se no partido?A minha oportunidade para me filiar no partido foi quando tinha 20 anos. Não o fiz na altura porque discordava de algumas questões e nunca mais senti a necessidade de o fazer.Gosta de ter alguma margem de manobra, como aconteceu quando apoiou a recandidatura do Presidente da República Jorge Sampaio?E não estou nada arrependido, antes pelo contrário... Mas ser filiado não nos retira a possibilidade de sermos independentes nas nossas ideias. Há pessoas que optam por pertencer a uma estrutura partidária porque gostam da actividade partidária, de participar nela. Neste momento não me sinto com essa apetência. Talvez um dia a sinta. Mas também não é por ser independente que deixo de participar nas campanhas onde entendo que devo participar, como fiz agora nas Europeias. E houve muitos filiados do PSD que não mexeram uma palha.João Calhaz
“Dois anos muito difíceis”

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