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GNR prende e Tribunal liberta

Confessou dezenas de furtos e está em liberdade

É viciado em roubar. Um homem de 27 anos é o autor confesso de quase uma centena de furtos mas continua em liberdade. O jovem de Samora Correia foi libertado por dois juízes depois de dois flagrantes delitos em cinco dias. A GNR está cansada de trabalhar para o boneco e os lesados ameaçam fazer justiça pelas próprias mãos.

Bruno Manaia Nunes, 27 anos, é viciado em roubar e as autoridades não têm cura para a sua doença. O jovem de Samora Correia, referenciado pelas autoridades como toxicodependente, é o autor confesso de dezenas de roubos mas continua em liberdade. Mesmo depois de ter sido apanhado por duas vezes (em cinco dias), em flagrante delito com dois carros roubados.Os juízes de turno dos juízos de instrução criminal dos tribunais de Vila Franca de Xira e Golegã decidiram dar-lhe o benefício da dúvida e aplicaram uma medida de coação mínima. O jovem não perdeu tempo e continuou a fazer o que melhor sabe, roubar. Na quinta-feira, 22 de Julho, o Núcleo de Investigação Criminal (NIC) de Coruche com a colaboração da GNR de Samora Correia apanhou o larápio numa bomba de gasolina onde conduzia um Renault Megane roubado dias antes no Entroncamento. O homem, que lançou o pânico na região onde consumou quase uma centena de assaltos, (como O MIRANTE noticiou no dia 1 de Julho) não ofereceu resistência e confessou os crimes de que era suspeito.No dia seguinte foi ouvido pelo juiz de turno do Tribunal de Instrução Criminal de Vila Franca de Xira. Bruno Manaia reafirmou a confissão dos furtos, pediu desculpa, prometeu recuperar-se e ir trabalhar para indemnizar dezenas de vítimas. O jovem acabou por ser libertado com uma medida de coacção mínima, a obrigação de se apresentar semanalmente no posto da GNR de Samora Correia.Horas depois, as autoridades perderam-lhe o rasto. Um militar da guarda disse a O MIRANTE que duvidava que o jovem se apresentasse e temia que voltasse à actividade que desenvolveu nos últimos meses em vários pontos da região e no Alto Alentejo.Bem dito bem certo. Na segunda-feira, 26 de Julho, Bruno Manaia fez novo assalto na Chamusca (ver caixa). Foi presente ao juiz do Tribunal da Golegã e acabou em liberdade.A libertação do autor confesso do furto de vários carros (três deles já recuperados pela GNR) e valores avaliados em milhares de euros, provocou uma onda de revolta nas autoridades e nas vítimas das investidas do jovem. Alguns lesados ameaçaram fazer justiça pelas próprias mãos.O MIRANTE sabe que os investigadores do NIC (coordenados pelo soldado Lucas) e outros militares da GNR passaram várias horas a reunir provas, a fazer reconhecimentos perante as vítimas e a elaborar os relatórios para enviar à juíza de Vila Franca de Xira. Alguns militares sacrificaram horas de descanso em nome da causa e estão desiludidos. Depois de conhecerem a medida de coacção aplicada, nem queriam acreditar e não esconderam a sua frustração. “O nosso trabalho foi feito, mas isto assim desmotiva-nos e deixa-nos a pensar”, desabafou um dos militares envolvido no processo. Uma das actuações do larápio foi numa fábrica de produtos farmacêuticos na Zona Industrial da Murteira, em Samora Correia. O homem entrou no espaço onde as funcionárias guardam os seus bens pessoais e levou uma dezena de malas com documentos, dinheiro, telemóveis e outros bens pessoais. Ficou tudo registado nas imagens que serviram de prova. O esquema utilizado nesta visita foi semelhante aos anteriores, Ricardo esteve na unidade para pedir trabalho e apercebeu-se das movimentações, voltando mais tarde para executar o plano.Um esquema semelhante serviu para furtar um carro a um funcionário da Companhia das Lezírias. Vários telemóveis e pequenos electrodomésticos foram furtados em várias empresas e um cofre foi levado dum consultório médico, entre outros. Nem um militar da GNR escapou aos furtos protagonizados por Bruno Manaia. O homem é ainda suspeito de vários crimes de burla devido à utilização de cheques furtados para fazer pagamentos. Um verdadeiro artistaAs autoridades referenciam o indivíduo como sendo discreto e capaz de improvisar as situações mais inesperadas. O jovem é magro, tem pouco mais de 1,70m, cabelo curto, pele morena, tatuagens no braço esquerdo, no pescoço e numa perna. É educado e tem um aspecto que não levanta suspeitas. O seu discurso é tão convincente que até emocionou uma advogada de defesa e algumas vítimas.A família vive em Samora Correia, é referenciada como normal e bem estruturada, e já fez tudo o que estava ao seu alcance. O desespero de pais e irmão é tão grande que colaboraram com as vítimas na tentativa de localizar o jovem para o entregar à justiça. O MIRANTE apurou que nem os pais e vizinhos de Bruno escaparam à sua investida tendo furtado da sua residência ouro e outros objectos que vendeu. O jovem terá aconselhado mais tarde o vizinho a comprar o mesmo ouro a um bom preço.Um casal de comerciantes, vendedores de farturas, disse que ficou sem 12.500 euros e um telemóvel furtados do interior de uma carrinha estacionada frente a um restaurante na EN 118 em Porto Alto. Bruno Manaia confessou o furto, mas desmentiu a existência da quantia declarada. O comerciante contou a O MIRANTE que estava descansado a ver o carro, mas bastou o tempo em que se levantou para pagar ao balcão, para o homem abrir a carrinha e levar a mala onde tinha o dinheiro e os documentos. O dinheiro desapareceu, mas os documentos foram recuperados. “Tenho de dar graças a Deus de ter os documentos, mas fiquei sem o meu dinheiro todo. Tive de pedir emprestado ao dono do restaurante”, lamenta. O comerciante declarou que tinha acabado de fazer o negócio da venda de uma roulote e tencionava depositar o dinheiro após o almoço.Na sexta-feira de manhã, o casal de comerciantes conferiu os seus documentos, cheques e outros papéis que estavam num monte onde estavam documentos de dezenas de vítimas de vários pontos da Grande Lisboa e Alentejo.A GNR recuperou também as cotas dos Bombeiros Voluntários de Samora Correia que tinham viajado num carro roubado ao cobrador da associação. A viatura (Opel Corsa) foi abandonada em Lisboa, na zona de Xabregas onde o jovem terá pernoitado num centro de apoio a toxicodependentes antes de furtar outro carro. O dinheiro, os telemóveis e os objectos em ouro é que não foram recuperados. O jovem terá confessado que vendeu os objectos e gastou o dinheiro na compra de estupefacientes. Uma fonte ligada ao processo contou que o larápio confessou ter gasto centenas de euros por dia em produtos estupefacientes para consumir. O centro de recuperação servia de hotel para pernoitar e proteger-se das autoridades.

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