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O Inferno repetiu-se

O Inferno repetiu-se

Fogo queimou casas e animais nos concelhos de Torres Novas, Alcanena e Santarém

A história repetiu-se. O fogo encontrou um aliado de peso nas altas temperaturas que se fizeram sentir e deixou um rasto de destruição nos concelhos de Torres Novas, Alcanena e Santarém. Nos últimos dias, as chamas lavraram por toda a região.

“Não tenho sorte nenhuma”, lamenta-se Luís Marques inconsolável. O fogo entrou pelo telhado da sua moradia e queimou quase tudo o que possuía. A casa de Luís, no centro de Parceiros de São João, freguesia de Parceiros da Igreja (Torres Novas) foi a única que ardeu na aldeia.O incêndio deflagrou no domingo perto do meio-dia em Vale da Serra e Casais Martanes, na freguesia torrejana de Pedrógão, a meio da tarde chegou a Parceiros e espalhou-se pelos concelhos de Santarém e Alcanena. Luís, padeiro de profissão, fazia alguns trabalhos de carpinteiro e todas as ferramentas estavam guardadas no sótão da casa. “Fiquei sem nada”, dizia numa calma contida olhando para o que o rodeava. Estava a recuperar a casa e a refazer a sua vida. Tinha construído uma placa a separar o sótão de telha vã e barrotes velhos. “Veio de repente, fez explodir uma televisão e queimou tudo. As minhas coisas estavam quase todas ali, para ir arranjando a parte de baixo da casa”.Em Parceiros o fogo veio pelo vale e entrou pelos quintais. Os bombeiros não podiam circular pelas ruas estreitas. Paravam nos largos e tentavam aproximar-se recuando os carros até tocar nas paredes. Os moradores munidos de baldes combatiam as chamas como podiam. A água faltava nas torneiras e com a luz cortada era impossível ligar as bombas ou motores dos poços.Durante algumas horas, Parceiros de São João esteve isolada, todas as estradas de acesso foram cortadas. Quem tinha familiares na aldeia viveu o pânico de não saber o que se passava, de não poder ajudar.“Não podem passar”, informavam os homens da GNR com os jipes atravessados. O vale da Nogueira estava em chamas, o fogo entrou nos armazéns da Parceria de Azeites. O viaduto sobre a A 23 ardia dos dois lados. Casais Romeiros (concelho de Alcanena) estava a arder, na estrada de Santarém (EN 3) o cenário era o mesmo. Nada a fazer. O fogo saltava de um lado para outro incendiando as bermas.Um homem velho chorava no quintal dos vizinhos. Refugiou-se ali pensando que tinha perdido tudo, a casa os haveres e, sobretudo o seu gatinho. Soluçava só de imaginar que a sua companhia de todos os dias tinha morrido. A filha veio sossegá-lo, mas o susto demorou a passar.O drama era vivido com a mesma intensidade em Casais Martanes, Vale da Serra, Casével, Gouxaria, Moitas Venda, Zibreira ou Videla. Nada parecia impedir a progressão das chamas em fúria impelidas por um vento forte e as populações em pânico tentavam salvar as suas casas.Condutores presos na A 1O fogo começou ao fim da manhã em duas frentes, Vale da Serra e Casais Martanes, na freguesia de Pedrógão. Depois da uma da tarde, o lume apontou no cimo do monte em direcção à Videla (Zibreira). “Vai demorar uma hora a chegar aqui”, diziam os populares. Demorou bastante menos a cercar casas e fábricas na beira da estrada para Moitas Venda. Passou a via e antes que os bombeiros começassem a despejar os tanques, o fogo já tinha atravessado A 23.Enquanto consumia os campos, encaminhava-se ao longo da A 23, entrou pela A 1, obrigando ao encerramento das duas vias rápidas. O país ficou cortado ao meio. Quem vinha no sentido de Abrantes para as portagens da A1, a única hipótese era sair em Torres Novas e tomar a estrada da Chamusca (EN 243) para seguir para o sul, ou a de Ourém Tomar (EN 349) para o Norte. O trânsito era um caos e filas de quilómetros estendiam-se ao longo da A 23. A situação dos que circulavam na A1, para norte ou para sul era bem pior e antes que as informações chegassem as saídas de Santarém ou de Fátima, muitos condutores ficaram retidos na via rápida a ver o fogo caminhar pelas bermas e separador central das faixas.Margarida Trincão
O Inferno repetiu-se

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