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O panorama das matas é “desanimador”

O panorama das matas é “desanimador”

Joaquim Chambel, coordenador distrital do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil

O coordenador distrital de Santarém do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil considera que a falta de limpeza das matas da região é desanimadora. Joaquim Chambel refuta as críticas de descoordenação no combate aos fogos, mas reconhece que há situações complicadas e elege a vídeo-vigilância das matas como uma prioridade.

As situações de instabilidade nas corporações do distrito têm sido frequentes ultimamente. Porque é que há tantas guerras nos quartéis?Não considero que haja hoje mais instabilidade dentro dos quartéis do que há 5 ou 10 anos. Se calhar há mais atenção para alguns problemas que vão surgindo. Os conflitos, por vezes, têm a ver com a falta de articulação de posições entre as pessoas que têm responsabilidades nos corpos de bombeiros. Com a capacidade de conseguirem acertar estratégias para um problema que é comum: manter os corpos de bombeiros a funcionar o melhor possível. Por vezes há diferenças de opinião que infelizmente não são superadas. Os meios são cada vez mais avançados tecnologicamente. Com as crescentes exigências técnicas ainda faz sentido haver uma estrutura de bombeiros essencialmente voluntária?Vai ter que haver sempre uma componente voluntária. O distrito de Santarém tem sobretudo problemas sazonais. Os incêndios e as cheias. O que obriga a grandes mobilizações de bombeiros durante períodos de tempo definidos. Não creio que uma estrutura fixa seja a solução para estas características mas entendo que deve haver nas corporações um núcleo de profissionais que garanta o funcionamento normal. Porque é que se fala tanta vez em desorganização no combate aos incêndios?O fogo florestal é extremamente dinâmico. Está em mutação permanente. Como um incêndio não é estático a organização também não pode ser estática. E há alguns períodos em que é complicado manter os parâmetros de organização, principalmente quando temos durante os incêndios casas e pessoas em perigo. Há necessidade de uma maior e mais exigente velocidade de movimentação e de actuação dos meios. Os comandantes estão preparados para estas situações?Este ano houve uma ênfase especial na formação dos elementos dos postos de comando. No distrito de Santarém houve dois cursos, até porque um dos monitores da formação é desta região. Por esses cursos passaram trinta elementos de comando. Quando os bombeiros falam nas causas dos incêndios dão a entender que estes têm origem criminosa. Não há outras causas?A intervenção da mão humana nem sempre é criminosa. Muitas vezes quando se fala em acção humana nos incêndios isso tem a ver com comportamentos desadequados nas áreas florestais. Situações de negligência. A maior parte dos incêndios resultam destas actuações. Qual é o panorama da limpeza das matas da região?É desanimador. Temos um problema grave que é a desertificação das áreas florestais, das zonas rurais. A maior parte das matas, sobretudo as de pinheiros, não são cuidadas. Verifica-se também um aumento significativo de terras agrícolas abandonadas que garantiam uma compartimentação das florestas. Actualmente existem muitas casas abandonadas no espaço florestal, algumas cobertas de vegetação, o que em situação de incêndio tem agravado a defesa das casas que ainda estão habitadas. É preciso mão pesada para resolver estas situações…Sem haver uma forte mobilização, um grande empenhamento, dos proprietários dificilmente esta situação se pode alterar. Porque é que continuam a existir viaturas de bombeiros com muitos anos de serviço? A Chamusca, por exemplo, tinha um autotanque com 30 anos que já não oferecia condições de segurança.A idade de um veículo de bombeiros não tem uma relação directa com o seu estado, nem com as suas condições para combater um incêndio. Na maior parte dos casos os carros não têm muita quilometragem. Por outro lado, ao longo dos anos têm sido feitas extensões de vida útil das viaturas e modernização dos equipamentos. Mas há algumas situações em que é precisos substituir veículos. Quando é montado o dispositivo de combate a incêndios as corporações são obrigadas a declarar a situação do veículo. Ou seja, tem que ter os documentos actualizados, a inspecção…Tem-se falado na vídeo-vigilância das florestas. Em que é que isso pode contribuir para a redução dos efeitos dos fogos?No distrito de Santarém está em fase de testes um sistema que cobre os concelhos de Chamusca, Alpiarça e Almeirim. Este equipamento permite, a partir da sala de operações do Centro Distrital de Operações de Socorro, ver como é que o incêndio está a evoluir. Isso é importante, não só para o alerta, mas para a tomada de decisões acerca do posicionamento dos meios no terreno. Faz sentido existir a protecção civil municipal quando algumas câmaras ainda não montaram os gabinetes desta área?O que é importante é que cada um dos municípios tenha mecanismos para, em situação de emergência, dar a resposta que a população espera. Isso felizmente tem acontecido. Todos os concelhos do distrito têm plano de emergência, alguns deles em fase de actualização. É evidente que há sempre algo a melhorar.Mais de 10 anos depois da explosão num laboratório é que a Escola Secundária do Cartaxo elaborou o seu plano de emergência. Este é o panorama geral do distrito?Neste momento toda a gente está preocupada com a segurança. O que não quer dizer que seja fácil resolver todos os problemas neste domínio. Em relação às escolas tem havido uma colaboração estreita no sentido de se tentar que a maior parte das escolas tenham os seus planos de intervenção aprovados. Durante o próximo ano lectivo julgo que a maior parte dos alunos do distrito vão estar em escolas com planos aprovados. A situação não é a ideal…Duvido que alguma vez a situação seja a ideal. Toda a problemática que tem a ver com a segurança, com a protecção civil, é muito dinâmica. Todos os dias estão a aparecer coisas novas. Passam pelo gabinete técnico de segurança de Santarém, por semana, uma média de 130 projectos de segurança para serem apreciados e vistoriados, que dizem respeito a estabelecimentos comerciais e outros. Hoje em dia as câmaras não autorizam a abertura de qualquer estabelecimento de restauração sem ter a vistoria do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil.Quando há um tempo foi feito um simulacro na central termoeléctrica do Pego (Abrantes) elogiou-se a atitude da empresa. A relação dos bombeiros com as empresas ainda não é a melhor?Edifícios, hospitais, escolas, estabelecimentos comerciais, alguns edifícios de habitação têm uma intervenção prevista na lei. No caso das indústrias a área da segurança não está na dependência dos bombeiros. Há unidades industriais que são factores de grande risco, mas isso não quer dizer que o Ministério da Economia não tenha parâmetros de segurança para essas fábricas. Tem havido um trabalho de aproximação entre corpos de bombeiros e empresas, com simulacros e planos prévios de intervenção. E o número destas empresas nesta situação já é significativo.
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