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Uma mulher maquinista

Uma mulher maquinista

Carla Menau faz serviço na linha suburbana de Azambuja

O anúncio no jornal de um concurso para maquinistas da CP despertou-lhe o interesse para a carreira ferroviária. Há três anos Carla Menau aprendeu a conduzir comboios e hoje transporta centenas de passageiros nas linhas suburbanas de Azambuja e Sintra.

Uma mulher dirige-se a uma das composições da CP e abre a porta da cabina de maquinista. Senta-se frente aos manípulos de freio e tracção e prepara-se para mais uma viagem a todo o vapor. O gesto que Carla Menau, 33 anos, repete com naturalidade há mais de três anos, continua a ser motivo de espanto para as centenas de passageiros que transporta diariamente nas linhas suburbanas de Azambuja e Sintra.“Há pessoas que fazem questão de esperar que saia do comboio para me dar os parabéns pela minha profissão”, conta Carla Menau, residente na margem sul do Tejo, nos arredores de Almada.Um anúncio de jornal que divulgava um concurso para maquinistas, recortado pela tia, chamou-lhe a atenção para a carreira ferroviária. Carla Menau, que na altura se encontrava desempregada, decidiu arriscar o envio de mais um currículo.Foi chamada para fazer os testes psicotécnicos e as várias etapas de selecção sucederam-se naturalmente. Em Setembro de 2000 iniciou a formação teórica e o estágio na movimentada linha de Sintra. No dia 1 de Junho estava a conduzir a primeira composição.“Foi uma coisa inesperada. Sempre tive gosto por comboios, que usava com uma certa frequência, mas nunca me passou pela cabeça seguir esta profissão”, confessa, garantindo que se apaixonou pela actividade.A relação entre chefias e colegas de profissão não podia ser mais saudável. Carla Menau nunca se sentiu discriminada por ocupar um espaço que até há pouco tempo era exclusivamente masculino e garante que os colegas consideram que as mulheres maquinistas vieram dar uma lufada de ar fresco à profissão.“Hoje em dia já não se podem catalogar as profissões, dizendo que determinado trabalho é para homens e determinado trabalho é mais para as mulheres. Com força de vontade conseguimos fazer tudo”, afirma.Os profissionais recebem formação em desempanagem e sempre que é necessário também as mulheres maquinistas estão aptas a retirar o comboio da linha em caso de avaria. No turno da noiteNa sala de convívio dos maquinistas, na Estação do Rossio, mulheres e homens convivem naturalmente. Foi lá que Carla Menau conheceu o seu namorado, também maquinista.A proximidade profissional permite que compreenda melhor do que ninguém a necessidade de trabalhar por turnos. Tal como os homens, também as mulheres maquinistas cumprem os turnos da noite. Carla Menau nunca se sentiu insegura. Pode fechar a cabina de maquinista e no interior existem várias formas de contacto com o exterior. “Sinto mais receio quando vou como passageira”, confidencia.A maquinista admite que antigamente seria mais difícil para uma mulher exercer a profissão. “Os meus colegas dizem que saiam de casa com a trouxa atrás e lençóis para pernoitar nos dormitórios. Isso seria mais complicado para uma mulher. Mesmo em termos de material, hoje já não exige tanto a força física”, descreve.Mulheres maquinistascontam-se pelos dedosCarla Menau foi a mais recente maquinista a integrar os quadros da CP, que só em 2000 admitiu as primeiras mulheres nesta função. Mas o número de mulheres que enveredaram por esta carreira em Portugal nos últimos anos ainda se contam pelos dedos das mãos. Quatro fazem serviço na Unidade de Suburbanos da Grande Lisboa e outras tantas na região do Porto.Até há alguns anos as condições não permitiam que a CP contratasse mulheres para este tipo de profissões, mas hoje as infra-estruturas existentes, como é o caso dos vestiários e casas de banho, já permitem a coexistência de homens e mulheres nesta actividade.“No caso dos maquinistas, existe um convívio perfeito entre as maquinistas mulheres e homens, tal como de outra profissão se tratasse”, explica o assessor da CP, Waldemar Abreu.Durante o recrutamento são sempre solicitadas pessoas de ambos os sexos para ocupar os lugares de maquinistas, mas o número de mulheres continua a ser diminuto. A profissão ainda não desperta muito o interesse de pessoas do sexo feminino, mas Waldemar Abreu refere que tem aumentado o interesse das mulheres por estas profissões que até aqui estavam demasiado conotadas com o sexo masculino. Ana Santiago
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