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Médico recuperou memórias de Samora

Jacinto Gonçalves apresentou “Raízes na Terra”

“Foi o Chico, o maioral das Silveiras. Foi apanhado pela cheia, morreu afogado. Viemos trazê-lo para o senhor doutor fazer o que for preciso”. A citação relata a memória de um jovem filho de um médico e faz parte do capítulo IV do livro Raízes na Terra apresentado na sexta-feira, 13 de Agosto, em Samora Correia.

Jacinto Gonçalves, médico e professor da Faculdade de Medicina, é filho do saudoso médico Manuel dos Santos Bernardo Gonçalves, um João Semana que serviu a comunidade de Samora Correia a partir dos anos 30.A figura do pai do autor, o seu prestígio, o seu espírito solidário, generoso e profundamente humanitário estão bem marcados no livro que se lê com um entusiasmo crescente e deixa no final uma vontade enorme de ler mais. A edição com prefácio de Urbano Tavares Rodrigues é uma viagem ao passado, em jeito de romance autobiográfico, que recupera memórias e obriga-nos a reflectir como era dura a vida das comunidades da lezíria ribatejana. “...qualquer mulher tinha uma dúzia de filhos, dos quais apenas três ou quatro chegavam à idade adulta”. As crianças andavam descalças, mal agasalhadas, a brincar na lama ou na poeira dos caminhos. Os mais velhos tomavam conta dos mais novos, mas as crianças passavam fome e muitos não resistiam apesar da atenção e do esforço do médico da terra. Na cerimónia de apresentação do livro não faltaram amigos de infância do Tatin (a forma carinhosa como o autor era tratado pelas crianças da sua idade) que com ele brincaram no largo da igreja e na rua do Vento. “Ainda tem os traços que sempre lhe conheci”, comenta Luciana Serrano, uma amiga de infância que não evita uma lágrima de saudade no canto do olho. Os samorenses surpreenderam o médico e , mesmo em dia de festa na vila, com os toiros na rua, mais de uma centena de pessoas encheu o auditório do Palácio do Infantado e só partiu quando conseguiu o livro autografado por Jacinto Gonçalves.“Regresso a Samora 50 aos depois de ter partido, reencontro os lugares da minha infância e da minha adolescência, revejo os meus amigos, mais velhos como eu”, disse.O tempo não pagou a memória do médico que às primeiras palavras que trocou com os convidados reconheceu as suas ligações familiares e afectivas. “A senhora Albertina do talho do Tonho Menino” ou “a Luciana sobrinha do Zé da Esquina” foram expressões utilizadas neste reencontro 50 anos depois.Jacinto Gonçalves ficou encantado ao percorrer as principais ruas do centro da vila e ao verificar que os traços principais resistiram às recuperações que foram feitas em alguns edifícios, como o Palácio do Infantado, onde brincou, ou a farmácia Central.O médico enalteceu ainda a manutenção das tradições bem vincada nas festas tradicionais que decorreram de 13 a 16 de Agosto. “As memórias ficaram e reencontro as tradições preservadas”, disse.O lançamento do livro foi apadrinhado pelo presidente da Câmara Municipal de Benavente que manifestou a intenção da autarquia de apoiar uma segunda edição desta obra, uma vez que esta edição limitada da Dom Quixote já está esgotada para desespero de muitos samorenses que não conseguiram um livro.

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