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Uma relação apaixonada com a terra

Uma relação apaixonada com a terra

Bruno Gomes, 26 anos, engenheiro agrário

“Troquei Lisboa pelo Alentejo e agora troquei o Alentejo pelo Ribatejo. Comprei casa em Almeirim e tenciono ficar por cá. Há muito mais qualidade de vida e estamos a uma hora de Lisboa”, diz Bruno Gomes, 26 anos, engenheiro agrário natural de Lisboa, licenciado pela Universidade de Évora e residente em Almeirim.

Nasceu e cresceu em Lisboa, bem longe do mundo rural, mas não hesitou em escolher um curso ligado à agronomia. As férias passadas em casa dos avós, num monte alentejano, perto de Estremoz, foram alimentando em Bruno Gomes o gosto pelas coisas da terra e quando chegou a hora a opção foi engenharia agrária, na Universidade de Évora.Boa opção, porque nos tempos que correm arranjar emprego logo depois de acabar a formação académica é uma sorte, principalmente em determinadas áreas. A sorte aumenta quando se consegue trabalhar na área de que se gosta e fazer o que se ambicionava. Aos 26 anos, Bruno Gomes conseguiu tudo isso, ainda por cima sem grande esforço.“Acabei o curso em Junho, comecei a enviar currículos e, em Agosto, estava a trabalhar na fábrica da DAI, em Coruche”, diz, acrescentando que durante a faculdade as suas perspectivas não era muito optimista, embora ambicionasse como meta difícil de atingir ter um trabalho em que lhe fosse possível seguir uma cultura da sementeira à colheita. E foi isso que lhe aconteceu.Como técnico da fábrica de açúcar de beterraba, Bruno Gomes acompanha a cultura desde a sementeira até à entrada das suculentas raízes na fábrica. “Exactamente aquilo que eu ambicionava e, ainda por cima, a beterraba, talvez por ser uma cultura ainda nova, é mais entusiasmante. Quando se juntam vários técnicos ou agricultores é inevitável falar de beterraba”.Bruno Gomes tem a seu encargo, como acontece com os outros engenheiros da fábrica, as searas de 70 a 90 agricultores, numa zona que se estende pelos concelhos de Torres Novas, parte da Golegã, Chamusca e Abrantes. Campos que visita semanal ou quinzenalmente até à colheita. “Faço um agendamento e todas as semanas ou de duas em duas semanas percorro os campos e vejo o que é necessário fazer. Se houver um problema o agricultor contacta-me, mas o objectivo é andarmos sempre à frente e antecipar os problemas”, esclarece.São os tratamentos fitossanitários feitos a tempo e horas, as regas e as adubações devidamente reguladas para atingir boas produções e evitar gastos desnecessários. “Às vezes é preciso um certo jogo de cintura porque o agricultor nem sempre entende que é necessário actuar. E outras vezes diz que faz e não fez nada. Isso ainda é pior, mas creio que se estabelecem boas relações e é muito agradável trabalhar nesta cultura”.Com a campanha a decorrer o trabalho aumenta e não há mãos a medir. Para além de apoiar tecnicamente, Bruno Gomes tem de organizar a logística para a beterraba entrar na fábrica a tempo e horas e nas melhores condições. Depois há sempre os problemas difíceis de prever, avarias mecânicas, chuvas fora de época ou outros imprevistos.Toda uma azáfama bem diferente da das grandes cidades, que Bruno Gomes prefere sem sombra de dúvida. “Troquei Lisboa pelo Alentejo e agora troquei o Alentejo pelo Ribatejo. Comprei casa em Almeirim e tenciono ficar por cá. Há muito mais qualidade de vida e estamos a uma hora de Lisboa”. Fins-de-semana ou férias são coisas em que não se pensa na altura em que as máquinas trabalham de sol a sol e os camiões estão sempre a circular dos campos para a fábrica. As dificuldades são as do dia a dia. “A experiência não é muita. Estou, realmente, na minha primeira campanha. Mas tenho aprendido muito tanto na cultura da beterraba como de outras culturas”.A produção calculada em toneladas tipo, ou seja o grau de açúcar por tonelada, também está a correr bem. Este ano, o calor de Fevereiro provocou o espigamento das plantas e foi necessário cortar o espigo manualmente para não haver produção de semente. Além disso, a fábrica para que Bruno Gomes trabalha iniciou a cultura e produção integrada da beterraba, o que levanta novos problemas. “Os agricultores têm de saber atempadamente que terras é que vão cultivar, o que é difícil com os seareiros. As grandes casas agrícolas não têm problemas desses porque podem decidir onde vão cultivar e o quê. Depois só podem utilizar produtos. Mas tudo se resolve”, confessa.E o principal factor é o gosto que dá ver crescer o que se semeou: “Parece que faz parte de nós, há uma relação apaixonada com tudo isto. Ver crescer as plantas a partir da semente até atingirem o crescimento completa dá um enorme gosto”, conclui. Margarida Trincão
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