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Fábricas não dão escoamento ao tomate

Fábricas não dão escoamento ao tomate

Federação dos Agricultores do Distrito de Santarém queixa-se da morosidade do atendimento e de perdas na produção

Alguns produtores de tomate chegam a estar 24 horas à porta das fábricas para deixar as suas cargas. Uma situação insustentável que levou a Federação dos Agricultores do Distrito de Santarém a reclamar a abertura das unidades transformadoras ao fim de semana.

O encerramento das fábricas de transformação de tomate ao fim de semana está a fazer com que vários produtores da região cheguem a esperar quase 24 horas para descarregar. Uma situação “menos clara no sector”, diz a Federação dos Agricultores do Distrito de Santarém (FADS) que defende a laboração a cem por cento de todas as fábricas, para evitar que 60 por cento da produção que está por escoar não apodreça. O presidente da FADS, Amândio de Freitas, diz que a indústria transformadora não acompanhou a produção depois de ter sido quase imposto aos agricultores que desenvolvessem técnicas como a apanha mecânica, que está a funcionar em pleno.Sessenta por cento da produção de tomate está por escoar, sendo a oferta bem maior que o ritmo a que as empresas transformadoras estão a laborar. “Três a quatro por cento é quanto se oferece por refugo (sobras) pelo tomate que vai apodrecendo”, referiu. Na base desta opção das indústrias transformadoras está, de acordo com Amândio de Freitas, interesses que diz ter denunciado na Comissão Consultiva dos Transformados. “Quem domina as grandes organizações de produtores são os donos das indústrias, que assim dominam toda a gente. E o Ministério da Agricultura é conivente com isto” destacou. Na conferência de imprensa realizada sexta-feira junto à Recta do Cabo, Vila Franca de Xira, o presidente da FADS, Amândio de Freitas, denunciou a existência de compadrios entre a indústria do tomate e as organizações de produtores associadas à Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), salientando que em alguns casos é a mesma pessoa ou familiares que estão à frente dessas entidades. O dirigente associativo reclamou a criação de uma comissão do INGA que faça a fiscalização no terreno, para que os contratos estabelecidos entre indústrias e produtores sejam cumpridos.“O INGA determina a quota das fábricas que, por sua vez, dão as quotas às organizações de produtores e, estas, aos produtores individuais. O problema é que, com as fábricas fechadas ao fim de semana, os contratos não vão ser cumpridos”, aventou. Em ritmo lento mas a laborarO MIRANTE passou por algumas fábricas da região na sexta-feira e sábado. Na tarde de sexta-feira, junto à Tomatagro, em S. João da Ribeira (Rio Maior), o movimento de entrada de camiões e tractores com tomate era reduzido mas o parque interior encontrava-se com dezenas de viaturas em espera. João Pereira aguardava a vez para descarregar 11 toneladas de tomate provenientes de uma produção de Tremês (Santarém). Tinha chegado às oito da manhã desse dia e perto das 16h30 ainda estava para descarregar. “Costumo vir duas vezes por dia e há sempre um tempo de espera, mas não se tem notado grande confusão”, referiu a O MIRANTE. Junto à fábrica IDAL, em Benavente, não havia a confusão habitual dos dias de semana com veículos estacionados de um lado e outro da Estrada Nacional (EN) 118. Os tractores e camiões carregados de tomate chegavam com uma cadência de cerca de cinco minutos, entravam e dirigiam-se ao parque interior daquela unidade. No sábado de manhã o cenário era um pouco diferente dos agitados dias de semana e, nas duas fábricas que visitámos, havia laboração. À entrada da fábrica Sugal, em Azambuja, vivia-se um movimento razoável. O que não inviabilizava que a espera fosse muita.Albertino Agostinho foi ali descarregar cerca de dez toneladas de tomate de uma pro-priedade com cerca de 20 hectares em Aveiras de Cima. Um trabalho que costuma fazer diariamente em três ocasiões. Mas a espera era longa. “Não tem dado vazão. Estou à espera à 14 horas”, contava cerca do meio-dia. Também Manuel Ferreira, que transportava tomate da zona de Reguengo (Marinhais), esperava pelo fim de longas horas de inactividade. Chegou às 16 horas de sexta-feira e perto do meio-dia de sábado ainda estava em fila de espera. Demasiado tempo para quem tem “limpar” cerca de 70 hectares de área.Manuel Ferreira disse ainda que “têm acontecido situações em que é acordado determinado número de toneladas que, sem aviso, é diminuída a meio do dia, sem qualquer explicação”. As horas intermináveis são passadas a falar com outros transportadores e a dormir no tractor, porque às quatro horas da madrugava de sábado já tinha de entrar com outro carregamento.
Fábricas não dão escoamento ao tomate

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