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O fim de quatro anos de angústia

O fim de quatro anos de angústia

Corpo de Manuel Luís apareceu perto do local onde se afogou, no Tejo, em porto da Courela, Almeirim

Quase quatro anos depois de ter desaparecido nas águas do Tejo, o corpo de um trabalhador de uma firma de extracção de areias foi finalmente encontrado. A escassos metros do local onde havia sido tragado pelas águas, na zona de Almeirim. Terminaram os tempos de angústia e incerteza para a família.

O trabalhador de uma empresa de extracção de areias, desaparecido há quatro anos, foi encontrado terça-feira, dia 24. Manuel Luís tinha caído no rio Tejo, na zona de Porto da Courela, Almeirim, no dia 21 de Dezembro de 2000 quando o barco em que seguia se voltou. A descoberta acabou com a angústia da família que vivia entre a esperança de encontrar o corpo para fazer o funeral e a dor da perda de um ente querido. “Acabou a nossa angústia e finalmente pudemos fazer o funeral que ele merecia”, desabafou César Luís, um dos quatro filhos do trabalhador, na sexta-feira, dia em que o corpo foi sepultado no cemitério de Almeirim. Ao longo destes quatro anos César e a mulher viveram em sobressalto constante. Foram chamados para identificar três corpos, para além de dezenas de objectos de pessoas que iam aparecendo. “A última vez foi há três semanas. Fomos a Setúbal identificar, através de fotografias, um corpo que tinha sido encontrado na Moita. Chegámos a pensar que era ele porque a estatura era muito parecida, mas o resultado dos testes de ADN que foram feitos indicaram tratar-se de outra pessoa”, contou César Luís. “Depois desta vez já estava a mentalizar-me que o corpo do meu pai já não aparecia”, acrescentou. César Luís não consegue descrever o sentimento que teve durante estes quatro anos em que sabia que o seu pai estava morto, mas não tinha um corpo para fazer o funeral. Fala em sobressalto cada vez que o telefone tocava, cada vez que batiam à porta. “Estávamos sempre com aquela esperança de o encontrar, de virem dizer que o encontraram”.“Vivíamos entre a expectativa e a desilusão constantes. Quando passava na ponte sobre o Tejo olhava sempre lá para baixo para ver se o via. Se encontrava algum vestígio. Já fazia isso instintivamente”, recorda. O corpo de Manuel Luís, que morava em Almeirim, esteve durante estes quatro anos enterrado na areia perto do sítio onde morreu afogado, o que evitou a sua decomposição. “O corpo estava quase intacto”, confirma César Luís. Presume-se que o cadáver tenha vindo à superfície quando a draga de extracção de areia começou a operar naquela zona.Na altura, Manuel Luís, de 54 anos, estava com dois colegas a colocar mais um cabo de aço para reforçar o já existente e que prendia a draga de extracção de areia à margem. A necessidade de se efectuar aquele trabalho devia-se ao facto do caudal estar a aumentar e à forte corrente do rio. As buscas para encontrar o corpo do trabalhador iniciaram-se no próprio dia, quinta-feira, e foram suspensas no sábado à noite, devido às “más condições do rio, com alterações no nível do caudal e água muito barrenta, que impediam a utilização de mergulhadores”, explicou nessa altura o coordenador da Protecção Civil Municipal de Santarém, Pedro Carvalho. Nas operações participaram as corporações de bombeiros Municipais e Voluntários de Santarém, Municipais do Cartaxo e Municipais de Alpiarça. Foram utilizadas cinco embarcações e chegaram a estar envolvidos vinte elementos, entre mergulhadores e bombeiros. Manuel Luís trabalhava há mais de 20 anos na extracção de areia. Tinha um grande amor pelo Tejo, já que era natural da Tapada, aldeia ribeirinha do concelho de Almeirim. Nos tempos livres ia para o rio à pesca e chegava a trabalhar doente. “O que me levava, e leva, a aceitar melhor o que aconteceu era saber que ele tinha morrido a fazer aquilo que gostava”, sublinhou César Luís.
O fim de quatro anos de angústia

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