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Sangue centralizado

Recolha nos hospitais de Santarém e Vila Franca vai passar para o IPS

Uma directiva comunitária que impõe mais exigências aos hospitais, relativamente à recolha e tratamento de sangue, acelerou a concretização de uma ideia antiga de centralizar a actividade no Instituto Português do Sangue. Santarém e Vila Franca ficam sem essa valência

Dois hospitais da região aceitam encerrar os serviços de recolha benévola de sangue, passando a actividade para o Instituto Português de Sangue (IPS). Santarém já comunicou essa intenção ao IPS. Vila Franca de Xira ainda não tomou nenhuma posição, mas tem consciência que o encerramento do serviço é inevitável. Só o Centro Hospitalar do Médio Tejo (que engloba as unidades de Tomar, Torres Novas e Abrantes) decidiu manter o serviço (ver caixa). O fecho da área de recolha de sangue nos hospitais vem sendo falada há vários anos. O Instituto Português do Sangue tem defendido a centralização das dádivas e tem vindo a tentar convencer as unidades hospitalares para essa necessidade. E pode ter agora o trabalho facilitado devido a uma directiva comunitária que estabelece normas de qualidade e de funcionamento dos serviços. Alguns hospitais não têm condições de cumprir as regras, já que é exigida a separação, a nível de espaço físico e de funcionários, das áreas de recolha das de tratamento e administração do sangue. A criação de um sistema de hemovigilância é outra das medidas previstas na legislação. Na prática trata-se de um procedimento que visa acompanhar o sangue desde que é recolhido até à fase posterior à sua administração. A falta de pessoal e a necessidade de se fazerem investimentos são as razões que levam os dois hospitais da região a ponderar o encerramento dos serviços de dádiva. No entanto continuarão a manter a secção de administração do sangue e de auto-transfusões. “Temos pouco pessoal disponível para o serviço. E esse é um problema difícil de ultrapassar”, justificou ao nosso jornal o director clínico do Hospital Distrital de Santarém (HDS), Pinto Correia. Aquele membro do conselho de administração do HDS esclareceu ainda que o hospital solicitou ao IPS, em 2003, a realização de uma auditoria às suas instalações. Uma medida que já pressupunha a eventual entrega do serviço ao IPS. Situação que, diz Pinto Correia, está neste momento a ser estudada e que deve ser decidida ainda este ano. Outro dos factores que pode contribuir para o encerramento dos serviços hospitalares de recolha de sangue é a imposição de que todas as unidades tenham certificação de qualidade. Uma situação difícil de cumprir pelo Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX), sobretudo devido às instalações antigas da unidade de saúde. “É impensável estar a avançar com um processo de certificação quando as instalações do hospital são pequenas e muito antigas. Uma situação dessas só com um novo hospital”, sublinhou a directora do serviço de sangue do HVFX. Dina Pereira acrescentou que ainda não foi contactada pelo IPS no sentido de encerrar a área da colheita. A par das questões técnicas, as despesas com os serviços também podem pesar no prato da balança que pende para o encerramento. “A existência de um grande centro que trate e distribua o sangue permite economia de escala, reduzindo-se por exemplo os custos relativos a análises”, sublinhou o director clínico do Hospital de Santarém. Pinto Correia comentou ainda que em grande escala o aperfeiçoamento técnico é maior. A centralização defendida pelo IPS, apesar de não ter a oposição dos responsáveis dos dois hospitais, levanta algumas dúvidas relativamente às reservas de sangue. Tanto Santarém como Vila Franca são auto-suficientes, com uma média de três mil unidades (saco de 400 mililitros de sangue) anuais e podem perder algum poder e capacidade de resposta. “Não estou em desacordo com a centralização, mas com as dificuldades que isso pode criar”, sublinhou Dina Pereira. É que estes hospitais ficam integrados no centro regional de Lisboa do IPS. E como os hospitais da capital têm grandes necessidades, teme-se que, neste novo sistema, seja mais difícil obter sangue.

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