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Nem Deus valeu aos gestores da Fundação Padre Tobias

Nem Deus valeu aos gestores da Fundação Padre Tobias

Conselho de administração cai em bloco

Os “graves erros” de gestão na Fundação Padre Tobias, em Samora Correia motivaram o afastamento do padre José António Gonçalves. O presidente da instituição, António Birrento pediu a demissão e a instituição está sem gestores. O Arcebispo de Évora já nomeou um sacerdote e vai escolher o novo presidente.

O padre José António Gonçalves, pároco de Samora Correia desde 1994, foi afastado do conselho de administração da Fundação Padre Tobias pelo Arcebispo de Évora, D. Maurílio Gouveia na sequência de novas irregularidades detectadas pelo conselho fiscal da instituição. Entretanto o presidente António Birrento demitiu-se e a administração caiu por falta de quórum, um vez que só restava o presidente da junta, Carlos Henriques, que era o tesoureiro.A instituição com cerca de duas centenas de crianças, outros tantos idosos nas valências de lar, centro de dia e apoio domiciliário e dezenas de funcionários está entregue a si própria. “Isto está cada vez pior. Está mesmo à deriva”, comentou uma fonte interna do Centro de Bem Estar Social.No domingo, 19 de Setembro, o sacerdote deu a sua última missa em Samora Correia. O Padre José António despediu-se, em lágrimas, de todos os fiéis que têm acompanhado, nos últimos anos, o seu trabalho religioso. O pároco reconheceu alguns erros e disse que não tinha vocação para ser gestor da instituição porque a sua formação era noutra área. A demissão do sacerdote prende-se com alegados erros de gestão ocorridos na Fundação Padre Tobias, onde o padre era secretário, “mas tinha mais poder que o presidente”, garantiram várias funcionárias. Segundo O MIRANTE conseguiu apurar, a decisão terá sido tomada depois de D. Maurílio Gouveia ter recebido o último relatório do conselho fiscal, referente ao ano de 2003, no qual as contas foram chumbadas. Por arrasto, o presidente do conselho de administração, António Birrento, que foi indicado para o cargo pelo próprio padre, acabou por pedir a sua demissão.Na homilia do passado sábado, dia 18, o Padre José António Gonçalves disse que “o senhor arcebispo lhe retirou a confiança como gestor na instituição”. O sacerdote admitiu que “era o principal culpado de tudo o que aconteceu”. Acrescentou que aquela homilia, que era aplicada a ele próprio, podia caracterizar-se com a seguinte frase: “um empregado que não geriu os bens como deve ser e acabou por ser despedido pelo patrão”. Disse sentir-se também “culpado por escolher determinadas pessoas para a gestão da instituição”. Na instituição Padre Tobias, os erros de gestão começaram a ser detectados e tornados públicos o ano passado. Na altura, o conselho fiscal (CF) alertava para o facto de terem sido pagas facturas rasuradas duas vezes, e outras terem sido lançadas sem ser incluído o IVA. A inexistência de um controlo rigoroso por parte do conselho de administração foi também outro dos factos apontados. A ausência de contas correntes que permitam o controlo eficaz dos saldos disponíveis e a existência de pagamentos que não tinham sido aprovados pela administração foram também referidas no relatório. O documento falava ainda de um controlo insuficiente da carteira de seguros, das rendas dos imóveis da instituição e das mensalidades dos mais de 300 utentes das diferentes valências. O ano passado, o conselho fiscal declarou ainda não concordar com a redacção de um contrato de arrendamento em que o rendeiro é o filho do presidente do conselho de administração, Manuel Birrento, “uma vez que o mesmo não defendia os interesses da instituição”. Apesar de todas estas recomendações, o conselho fiscal voltou, este ano, a detectar graves erros de gestão. No documento a que O MIRANTE teve acesso, pode ler-se que “o conselho de administração não controla as compras nem as facturas de fornecedores”. E que “há lançamento de facturas através de fotocópias e segundas vias”. Em termos de tesouraria, o CF refere também que os tesoureiros Rogério Pernes e Paulo Português (antigos presidentes da junta) “não conferiram as folhas de caixa nem os valores de tesouraria ao longo do seu mandato”. Em termos de contas correntes, “há diferenças entre os valores de caixa e os valores do registo contabilístico”. Além disso, não existem extractos de fornecedores para comparar com os extractos da contabilidade”. No documento pode ainda ler-se que “o saldo de fecho (Caixa Geral de Depósitos) em 31 de Dezembro de 2003 não corresponde ao que está inscrito nos documentos da contabilidade e no relatório apresentado pelo conselho de administração”. O relatório, que é o resultado de meses de trabalho do presidente do conselho fiscal, Sérgio Perilhão, e dos secretários Felismina Pederneira e Paulo Esfola, acaba por referir que “tendo em conta as irregularidades encontradas, o CF não aprova as contas da Instituição Padre Tobias nem o relatório do contabilista apresentados pelo conselho de administração em 2003.”Hoje, quinta-feira, serão conhecidos os dois restantes elementos. Tal como dizem os estatutos, um dos directores será o novo pároco da freguesia, que deverá ser um dos padres colocado em Benavente e o outro será uma pessoa nomeada pelo Arcebispo de Évora depois de ouvir a paróquia local. A situação da Instituição Padre Tobias vai ser analisada numa reunião extraordinária da Assembleia de Freguesia de Samora Correia, que se vai realizar no Porto Alto, amanhã, sexta-feira, dia 24. Também com o objectivo de esclarecer os erros de gestão, na próxima segunda feira, o conselho fiscal vai reunir com o conselho de administração e com o contabilista da instituição. Padre viveu entre o amor e o ódioNa freguesia de Samora Correia, o Padre José António viveu quase sempre entre o amor e o ódio. Enquanto, por um lado, conseguiu que dezenas de fiéis voltassem todos os domingos a encher a Igreja Matriz de Samora Correia, e que muitas crianças fizessem a sua catequese (como não há memória em toda a freguesia), a sua passagem pelo Porto Alto ficou marcada pela negativa.O Padre José António recusou a fazer a procissão, nos últimos cinco anos, naquela lugar da freguesia de Samora Correia e a população nunca lhe perdoou. Em causa, estiveram uns alegados atritos provocados por ocasião de uma procissão, em 1999, nas festas dos Santos Populares do Porto Alto. Na altura, o padre terá começado a procissão antes da hora marcada, o que provocou uma revolta na população. Segundo o próprio, “foi agredido e insultado por populares”. A partir de então, alegou que a procissão “foi profanada” e perdeu o carácter religioso.Ao longo destes 10 anos, o sacerdote negou várias vezes realizar casamentos e baptizados e obrigou várias famílias a procurarem paróquias vizinhas. Na instituição foi acusado por pais de crianças e por idosos de ser demasiado materialista e de revelar incapacidade para gerir a instituição, o que de resto acabou por reconhecer.Ao que conseguimos saber, o Padre José António Gonçalves vai ser colocado na paróquia de Coruche. No entanto, em Samora Correia, está a ser constituída uma comissão para tentar demover o arcebispo da sua decisão, e pedir o regresso do sacerdote à vila. O MIRANTE tentou falar com o Padre José António Gonçalves e com António Birrento, no entanto, não foi possível comentarem as suas saídas da Instituição Padre Tobias. O mesmo aconteceu com o Arcebispo de Évora, D. Maurílio Gouveia. Mário Gonçalves
Nem Deus valeu aos gestores da Fundação Padre Tobias

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