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Terra de padeiros e oleiros

Terra de padeiros e oleiros

Lamarosa ainda possui enormes casas senhoriais que recordam os áureos tempos do latifúndio agrícola

A freguesia de Olaia deve o seu nome a uma árvore de grande porte que terá existido profusamente na zona. É uma terra com muita coisa feita pela metade e carências ao nível da terceira idade. Mas nos tempos áureos da agricultura a freguesia chegou a abastecer o mercado de Torres Novas.

“Oh, senhor presidente, venha cá ver os esgotos que correm ali naquele quintal”, diz uma habitante à passagem do presidente da Junta de Freguesia de Olaia, concelho de Torres Novas. António Martins deixa o convívio dos seus compinchas de fim de tarde para se meter na conversa – “ponha é os olhos nesta estrada, isto devia levar umas lombas, qualquer dia morre aqui alguém”.Helder Rodrigues sabe que os moradores de Lamarosa, localidade sede da freguesia, têm razão. Já o disse centenas de vezes ao presidente da Câmara de Torres Novas mas muita coisa continua por resolver.Os esgotos e as estradas são o “calcanhar de Aquiles” da freguesia. Há mais de uma década que os colectores foram feitos e as tampas notam-se bem nas vias. O problema é que “toda a porcaria”, como diz António Martins, vai desembocar em quintais e ribeiros. Porque as duas estações de tratamento de águas residuais, há muito prometidas, nunca chegaram a ser feitas na Lamarosa e na aldeia vizinha de Árgea.Quem mora em Lamarosa e trabalha em Torres Novas tem outro martírio diário. Os sete quilómetros que separam a aldeia da sede de concelho são feitos quase sempre aos solavancos por uma estrada esburacada, estreita e de curvas perigosas. É uma estrada nacional (EN358) que o Instituto de Estradas de Portugal quer passar para competência camarária. Só que enquanto o IEP não avança com as obras de melhoramento e a autarquia torrejana não a aceita. As obras de requalificação da Linha do Norte só vieram piorar a situação. Os camiões atravessam a rua estreita da aldeia com uma cadência assombrosa e as buzinas não param enquanto não se faz o troço. É que a estrada é estreita, com as casas coladas ao alcatrão.“A Câmara de Tomar já garantiu que a Refer irá repor os estragos feitos, aqui ainda não há nada”, lamenta Helder Rodrigues, adiantando ter já enviado vários ofícios para o presidente do município, para sensibilizá-lo em relação a esta questão.Instituída como freguesia entre 1708 e 1758, Olaia deve o seu nome a uma árvore com a idêntica denominação que terá existido profusamente naquela zona. Ainda hoje, junto à igreja matriz, há uma dessas árvores de grande porte. A desertificação da população é evidente e a que ficou está envelhecida. O que expõe a necessidade real de um centro de dia que tarda em chegar. Salva-se o apoio domiciliário que é dado pelo centro de dia da freguesia vizinha de Meia Via.Estar a sete quilómetros de Torres Novas e à mesma distância do Entroncamento é bom e mau. Bom porque os habitantes têm uma variedade de consumo perto, mau porque deixa a freguesia mais vazia. Boa parte da população, principalmente os mais jovens, tem escolhido as duas cidades para residir.Terra de antigos latifundiá-rios, Lamarosa teve sempre grande ligação à agricultura, com muita gente a trabalhar nos campos. Chegou até a ser a principal abastecedora do mercado de Torres Novas. Hoje salvam-se apenas duas ou três quintas, como a da família Vale e Azevedo. O campo de milho situado pouco antes de chegar à aldeia é pertença de um primo do advogado e antigo presidente do Benfica, o “nativo” mais mediático da freguesia.A aldeia vizinha de Árgea, terra de oleiros, ficou também conhecida pelos encontros de ilustres membros da esquerda nacional. Chamavam-lhe a Comuna de Árgea. Apesar do bairrismo de antigamente ter desaparecido, há colectividades que tentam dar vida às localidades que compõem a freguesia – Lamarosa, Árgea, Barroca, Pé de Cão, e Valhelhas têm associações recreativas. Só não existe em Chícharo, o lugar mais pequeno e isolado.Há ainda um núcleo de cicloturismo, uma escola de música, um clube columbófilo, um rancho folclórico. A freguesia tem farmácia, centro de saúde, quatro escolas primárias e três jardins-de-infância, um posto de abastecimento de combustíveis, e algumas padarias, não fosse aquela uma terra de padeiros.O posto de correio funciona agora na junta e o objectivo do presidente é transformar o antigo edifício dos CTT numa bi-blioteca e espaço multimédia. Margarida Cabeleira
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