uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Quem foi o primeiro?

“Quem é que começou isto tudo?” – é a pergunta que coloca um amigo meu, em tom meio divertido.Refere-se à cadeia de dívidas que se vão gerando. O Manuel não paga ao José enquanto não receber o que o Joaquim lhe deve. Mas este não pode liquidar a quantia até que o António lhe entregue o que está em atraso. Ou o canalizador não paga à loja porque o empreiteiro ainda não lhe entregou o dinheiro, uma vez que o dono da obra não tem feito os pagamentos. E assim sucessivamente. Todos dizem que têm dívidas em atraso porque são credores de quem não lhes paga.Num mundo de meias verdades, o meu amigo diz então que gostaria de saber quem foi o primeiro a falhar com os pagamentos.A história é semelhante à do ovo e da galinha: qual surgiu primeiro?No entanto, nem tudo são dramas para quem trabalha por conta própria. Por vezes, passa-se de uma situação de maior aperto para um panorama bem mais agradável.Conheci o Ricardo precisamente quando ele andava com sérios problemas. É electricista e tinha quatro ou cinco homens a trabalhar para ele. Mas não se encontrava a satisfazer os pagamentos às casas que vendem o material a crédito. Já lhe exigiam pronto pagamento em quase toda a parte.Um construtor civil tinha duas obras para o Ricardo. Entregava-lhe tudo o que fosse de instalações eléctricas. Contudo, propôs-lhe algo de curioso. Em pagamento, dava-lhe um terreno, que na altura não valeria mais do que o trabalho prestado. O electricista aceitou.Entretanto, o construtor até veio a falecer, depois de a obra estar concluída.Quando o Ricardo deu por isso – e não passaram muitos anos – tinha em mãos um terreno que valia uma pipa de massa. Vendeu-o. Pagou as dívidas. Adquiriu um belo automóvel de luxo. Construiu uma moradia para o filho.Ao satisfazer as dívidas, fez algo de especial. Segundo ele me contou, tinha entregue uma série de cheques pré-datados a um comerciante. Este foi apresentar queixa crime, dizendo que os cheques lhe tinham sido entregues na data de emissão. Estavam os dois mesmo muito zangados um com o outro. O comerciante porque tinha o calote. O Ricardo porque o outro tinha mentido. O devedor disse que pagava, mas só em seis prestações. O credor aceitou, mas com juros de mora. Cada um manteve a sua posição e o pagamento foi assim realizado.Diz-se por vezes que os tribunais são entupidos com processos colocados por prestadores de serviços de telefone, de televisão por cabo ou de Internet. Os valores exigidos são, por vezes, muito baixos.A razão de ser desta atitude não se relaciona apenas com motivos fiscais. Trata-se de uma questão psicológica. É necessário transmitir uma ideia. Quem não paga, tem à sua espera um processo em tribunal. Caso se soubesse que essas empresas não intentavam acções, as cartas enviadas a exigir pagamentos em atraso seriam ignoradas.Relativamente a dívidas, já ouvi muitas teorias quer da parte de quem as tem quer de quem é vítima de um calote.Aqui vão dois exemplos de devedores profissionais.“Em primeiro lugar, estão os impostos. Depois, paga-se o resto”. É a tese de que as execuções fiscais são sempre mais céleres do que a perseguição de outro credor.“Vale mais um inquilino como eu, que vai pagando menos com algum atraso do que uma pessoa que aceita uma renda elevada e só paga os primeiros meses. Depois, é um caso sério para despejá-la”. Já ouvi esta de um comerciante estabelecido em loja arrendada.* Juiz(hjfraguas@hotmail.com)

Mais Notícias

    A carregar...