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Quando o trabalho mata

Quando o trabalho mata

Apesar dos acidentes estarem a diminuir no distrito, os números ainda são negros

A incúria, a falta de formação e a associação dos equipamentos de segurança à falta de virilidade são os principais factores que levam à morte no trabalho. Os últimos dados disponíveis, referentes a 2002, registam 12 mortes.

Os acidentes de trabalho no distrito de Santarém têm vindo a diminuir. Mas ainda há um longo caminho a percorrer na mudança das práticas e das mentalidades que podem evitar mortes. A incúria e a falta de formação dos empresários e trabalhadores são os principais problemas que o inspector da delegação de Santarém da Inspecção Geral do Trabalho (IGT), Carlos Gabirro, tem encontrado na região. Carlos Gabirro, que participou no sábado, em Santarém, num seminário da Delegação Sul da Ordem dos Engenheiros, elegeu também o consumo do álcool como um factor que leva a acidentes graves no local de trabalho. O inspector exemplificou que na construção civil está instituída a mentalidade de que não beber vinho ou cerveja é sinónimo de ser “maricas”.Não admira que, apesar de ter havido um decréscimo em relação ao ano anterior, em 2002 tenham morrido 12 pessoas no local de trabalho no distrito de Santarém. Aos quais se juntaram quatro com ferimentos graves. Do total dos 16 acidentados, seis exerciam funções em regime de contrato sem termo (efectivos) e 11 eram contratados a prazo. Os dados estatísticos são da Inspecção Geral do Trabalho (que antes se chamava Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho – IDICT). E dizem respeito a acidentes de trabalho que foram do conhecimento da IGT, que ainda não tem disponíveis os números do ano passado. O relatório deve estar pronto dentro de algum tempo, mas segundo uma fonte da IGT há uma estabilização do número de ocorrências.Em 2001 o cenário era muito mais negro, com um total de 33 acidentes, dos quais 23 resultaram na morte do trabalhador. Quatro empregados sofreram ferimentos graves e os restantes tiveram a sorte de ter apenas ferimentos ligeiros. Do total dos acidentados, em 12 situações a IGT não conseguiu apurar qual era a sua situação laboral, presumindo-se que fossem trabalhadores em situação ilegal em termos de emprego. Considerando que o sector da construção civil é o pior em termos de sinistralidade, Carlos Gabirro ressalvou que o número de acidentes mortais tem vindo a baixar porque as entidades patronais “estão a perceber que estas situações representam custos muito elevados”. E começa, nesse sentido, a haver uma maior aposta na prevenção. E só não é maior porque os trabalhadores muitas das vezes não querem usar os equipamentos de protecção individual (capacetes, luvas, botas de biqueira de aço…), associando a sua utilização à falta de virilidade. Mas também existem casos em que os funcionários não os sabem usar correctamente. Em parte porque também ninguém os informou e treinou nesse sentido. Informando que ultimamente tem havido um aumento de casos na área da instalação de electricidade, o inspector comentou que a “incúria” é a pior inimiga da segurança. E mostrou-se preocupado com as actividades de montagem e levantamento de estruturas de andaimes, sector onde se têm registado alguns acidentes graves. Para o inspector, que em tempos fez um estudo sobre os acidentes de trabalho no distrito, o facto de haver muitas pequenas e médias empresas (PME) também representa um factor que potencia a existência de acidentes. “As grandes empresas têm pessoas responsáveis pela segurança, que estudam os riscos e fazem cumprir as normas para evitar os acidentes. As PME não têm capacidade nem conhecimentos suficientes para implementar sistemas de segurança e actuar numa lógica da mentalidade preventiva”, concluiu Carlos Gabirro.
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