Feira de S. Martinho | 10-11-2004 03:05

“Estas são as minhas férias”

“Estas são as minhas férias”

Vem todos os anos de Setúbal para fotografar as figuras da feira. No São Martinho seguinte traz as imagens para entregar. Solteirão, monárquico e católico praticante, Fernando Antunes diz que a Golegã é a sua terra de adopção.

Quem habitualmente não perde um São Martinho, na Golegã, por certo conhece a figura de Fernando Sobral Antunes. Ou melhor, do fotógrafo de máquina em punho e um enorme saco a tiracolo. Há 18 anos que tira fotografias na feira e volta um ano depois para as entregar aos “modelos”.Chega à Golegã sempre um dia antes da Feira de São Martinho começar e parte um dia depois de acabar. “Estas são as minhas férias. O Algarve não me diz nada, não gosto de praia e aqui sinto-me bem. Chamo à Golegã a minha santa terrinha de adopção”, diz o fotógrafo amador, residente e natural em Setúbal, onde tem uma loja de loiças e vidros.Fernando Antunes define-se como uma pessoa tímida e introvertida, mas na Golegã ganha alma nova. “Quem me vir por aqui nem me conhece. Sinto-me bem, gosto do ambiente, gosto das pessoas, torno-me conversador e divertido”. Todos os anos gasta entre 20 a 30 rolos de fotografias, vai revelando-as ao longo dos meses e no São Martinho seguinte entrega-as. “Às vezes faço três cópias, uma para as pessoas, outra para entregar à câmara municipal e outra para a minha colecção particular, mas não cobro nada. Se as pessoas me quiserem dar alguma coisa por gentileza, aceito...”.Este ano a coisa correu mal. “A dona crise tomou conta de mim e não consegui revelar nem um rolo”, lastima. No entanto, a situação económica não o impediu de voltar à Golegã com mais umas dezenas de rolos no saco verde, onde transporta a máquina e as objectivas.Não gosta de flash, tenta sempre fotografar com a luz natural e ainda não se rendeu às máquinas digitais. “Sou muito conservador, gosto do papel”. Em tempos chegou a ter o seu próprio laboratório, mas isso causava alguns problemas em casa. “Era um pequeno laboratório montado na casa-de-banho e era uma complicação, ficava tudo zangado se precisavam de ir à casa-de-banho e não podiam entrar porque estava em câmara escura. Acabei por desistir”.Hoje manda revelar as suas fotografias tiradas com uma Canon analógica. “Estraguei a minha Olympus e houve uma pessoa que por gentileza me ofereceu esta. Mas gosto muito mais destas do que das digitais. Gosto de regular a luz e a velocidade, porque nunca disparo por disparar. Tenho a mania que sou um pouco artista”.Artista e conservador em tudo na vida. “Tenho quase 50 anos e sou um solteirão assumido. Penso que nunca faria uma mulher feliz, porque sou muito independente, não porque seja adepto de práticas modernas. Também não uso nem tenho telemóvel, sou incontactável”, afirma.A estas características comportamentais, alia as suas opções religiosas e políticas. O saco verde, onde guarda o material fotográfico, tem um grande auto-colante da Causa Monárquica. “Sou monárquico, pertenço à Real Associação de Setúbal e, por conseguinte, à Causa Monárquica”. Defensor da monarquia e da Igreja. “Sou católico praticante, sou um tradicionalista em tudo”.Até no cuidado com que caminha na rua. “Vou passar para o lado de fora, as senhoras andam do lado de dentro”, diz quando sem se dar conta se levantou e começou a andar, no seu entender, do lado contrário ao que “deve ser”.Margarida Trincão

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