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O fotógrafo voador

António Miguel passa horas dentro de um helicóptero a tirar fotos de aldeias, vilas e cidades de Portugal

Aos 28 anos António Miguel Ricardo Afonso já terá mais horas de voo que muitos pilotos. A sua profissão, fotógrafo de fotos aéreas, leva-o a percorrer o país de lés a lés e a olhar de cima para baixo. Com um olhar fotográfico.

A vida de António Miguel Afonso é passada em grande parte dentro de um helicóptero, a tirar fotografias a casas, terrenos, aldeias, vilas e cidades. Não o faz por desporto, mas para ganhar dinheiro. A profissão do jovem residente no Entroncamento é tirar fotos aéreas. Depois, já com os pés assentes no chão, anda de casa em casa a vender o produto final.Sempre teve gosto pela fotografia. E também algum jeito. Desde a adolescência que era sempre o escolhido quando a família queria ficar com recordações de momentos especiais, para a posteridade. Aos 14 anos entrou num curso básico, dado nos tempos livres da escola onde estudava. Aprendeu o básico, mas a apetência, sensibilidade e olho clínico para a fotografia já ele tinha.Apesar de adorar o que faz, António Miguel nunca pensou fazer desta actividade a sua profissão. Até há oito anos atrás quando conheceu um amigo do pai que passava o dia a fazer fotos aéreas e que o convidou para ingressar na empresa...como vendedor.Ao fim de pouco mais de um ano a sua situação mudou. Pelo simples facto de ter decidido levar uma máquina fotográfica no seu baptismo de voo. As fotos ficaram tão boas que decidiu levar a actividade mais a sério. E a abrir o seu próprio negócio com um colega de profissão que, algum tempo depois acabou por desistir de passar grande parte da semana longe da terra que o viu nascer.António Miguel Afonso confirma que a vida que leva não é fácil. E que a família é a mais prejudicada. Quanto mais não seja pelo facto de na maioria das vezes só a ver aos fins-de-semana. “Costumo sair de casa à terça-feira de manhã e só regressar no sábado”.O resto da semana é passado a pesquisar cada zona que será posteriormente fotografada lá de cima. “Antes de voar vou passar cada zona a pente fino, praticamente rua a rua”, diz quem tem uma memória fotográfica. Depois há que procurar também locais onde possa aterrar e levantar o helicóptero, heliportos comerciais ou muitas vezes de corporações de bombeiros.O que menos o preocupa é arranjar previamente alojamento. “Encontra-se sempre uma residência por perto e quando não há eu e o piloto recorremos aos bombeiros da zona. Quantas vezes já dormimos em quartéis”, relata o fotografo.Além do investimento no equipamento – uma máquina fotográfica analógica da Canon, várias objectivas e uma infinidade de rolos – António Miguel tem ainda a seu cargo o aluguer do helicóptero a uma empresa privada e as horas que o piloto anda no ar, cujo valor varia entre os 600 e os 800 euros por hora.Com tantos encargos, a fotografia aérea parece ser mesmo assim um negócio rentável, uma vez que a empresa de António Miguel já tem sete anos de vida. “Se não desse alguma coisa há muito que já tinha desistido”, diz, adiantando que algumas vezes “estica-se” um bocadinho e anda a voar apenas pelo prazer, para desanuviar a mente, sem pensar nas fotos.Em terra António Miguel tem dois funcionários que o ajudam a vender o produto final – a fotografia no tamanho que o cliente pretende, já emoldurada. O valor mínimo de uma foto aérea é 75 euros, o máximo é o que o cliente quiser. “Já fiz uma fotografia de um por dois metros, tipo painel, que custou cerca de 200 euros”, refere.Apesar dos modernos equipamentos digitais, o fotógrafo continua a preferir as velhas máquinas analógicas. Porque lhe dão a garantia de um melhor trabalho. “Não se pense que tirar fotos em terra, com os pés assentes no chão é a mesma coisa que tirar fotos de um helicóptero, não há comparação possível”, diz, adiantando que as máquinas digitais são muito boas mas é para quem não as usa a 500 ou quatro mil pés acima do solo.Para exercer a sua actividade António Miguel tem de ter uma autorização da Força Aérea, que é revista de dois em dois meses. A própria empresa de aviação comercial que lhe aluga o helicóptero também tem de possuir uma autorização específica para o efeito.Para António Miguel qualquer hora serve para voar, desde que se possam tirar boas fotos. E se for a seguir a uma almoçarada, que seja. Nem que apanhe uma valente indisposição durante o voo. O fotografo gosta tanto de voar que ainda não desistiu de um sonho – tirar o brevê de helicóptero. “Estou à espera que o preço baixe um bocadinho”...Margarida Cabeleira

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