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Um trabalho de paciência e minúcia

Samuel Barradas, 31 anos, aprendiz de relojoeiro

Samuel Barradas, por circunstâncias familiares, trocou o curso de administração e marketing pela relojoaria. Trabalha com o pai no estabelecimento que têm na Golegã, mas diz que é um mero aprendiz na arte de consertar os mecanismos que marcam o tempo.

Estudante trabalhador, actualmente com o curso suspenso, Samuel Barradas trabalha na relojoaria do pai, na Golegã, e tenta aprender um ofício, cada vez mais raro e que requer grande paciência e saber.“Por enquanto trato dos relógios de quartzo, os mecânicos que são mais complicados é o meu pai que arranja”, conta este goleganense que, por motivos particulares, decidiu interromper o curso de Administração e Marketing no Instituto Português de Administração e Marketing, em Lisboa, para vir ajudar o pai. A figura do relojoeiro, a trabalhar numa pequena mesa cheia de relógios esventrados com uma infinidade de pinças, fios metálicos e miniaturas de rodas dentadas, é quase um achado.Actualmente, a maioria dos relógios são de quartzo, com uma parte mecânica reduzida e um arranjo muito mais simplificado. “Os relógios de quartzo são um bloco fechado mais fácil de trabalhar”, diz Samuel Barradas que sempre se lembra de ver o pai a trabalhar na arte minuciosa de devolver aos relógios, que tinha para arranjar, a precisão das máquinas suíças. A aprendizagem foi sendo feita ao longo dos anos. “Como sempre vi o meu pai a trabalhar e ele deixava-me mexer - e estragar alguma coisa – fui aprendendo. Mas não me arrisco a afinar um relógio mecânico”.A profissão de relojoeiro é bem paga, embora pouco vulgar, pois cada vez se vendem menos relógios. Dantes era um objecto que se comprava com frequência para oferecer, actualmente só os pais continuam a comprar para oferecer às crianças, ou são os próprios a adquirir as máquinas que ajudam a medir o tempo e a chegar a horas.Por outro lado, os relógios “descartáveis” invadiram o mercado. Servem como brindes publicitários e conseguem fazer vista nos pulsos de quem os usa. “Esses não vale a pena mandar arranjar, o relógio vale menos do que o conserto. E não são só os que são oferecidos quando se compra um par de calças. Nas feiras há relógios à venda por 10 euros, o equivalente ao custo da pilha e da bracelete”, diz o jovem relojoeiro, acrescentando que só compensa mandar arranjar relógios caros, ou seja os que estão marcados acima de 70 euros.“Um relógio demora a arranjar umas duas horas, mas um mecânico não demora menos de quatro e se tiver cronómetro pior ainda”, explicita para justificar que muitos dos vistosos relógios são mesmo de usar e deitar fora.Os consertos, que requerem habilidade e concentração para se conseguir, com a ajuda de uma grossa lente, colocar os minúsculos parafusos nos devidos locais, são feitos depois do encerramento da loja ao público. “É só à noite que fazemos os consertos, durante o dia estamos ao balcão e tratamos dos assuntos relacionados com a loja”.Agregada à relojoaria, a família de Samuel Barradas tem uma ourivesaria e também neste ramo o negócio já conheceu melhores dias. “Dantes as pessoas investiam muito em ouro. Agora em vez de um fio de 400 euros, optam por uma medalhinha de 20 euros”, continua. A quebra nota-se, principalmente, nos meses de Verão. Agosto era um grande mês para as ourivesarias por causa dos emigrantes. Vinham passar férias a Portugal e compravam muito ouro. Hoje em dia, o que conseguem amealhar é para gastar a gozar férias.Samuel Barradas ainda não decidiu se quer continuar a ser relojoeiro e especializar-se numa profissão cada vez mais rara, ou voltar para Lisboa e acabar o curso do IPAM. Por enquanto é este o seu trabalho e a decisão final virá mais tarde “quando for grande”.

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