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“Foram momentos inesquecíveis”

Bruno Valentim conquistou duas medalhas de prata nos Jogos Paraolímpicos de Atenas
Bruno Valentim nasceu em Moçambique mas veio viver para Santarém quando ainda era uma criança de tenra idade. Ficou por cá toda a adolescência e juventude, até que migrou para o norte do país, mais propriamente para o Porto. Cidade onde reparte a sua vida entre a docência no ensino secundário, a investigação na Universidade do Porto e a prática desportiva, na modalidade de boccia, onde em representação de Portugal, conquistou duas medalhas de prata nos Jogos Paraolímpicos de Atenas 2004.Com 38 anos, Bruno Valentim é deficiente motor, mas tem uma força de vontade impressionante que o leva a bater recordes todos os dias, quer na sua vida profissional, como na vida de atleta. “Vivi sempre intensamente a minha vida de atleta e como em tudo na vida, este ano fui recompensado com a ida aos Jogos Paraolímpicos de Atenas e com a conquista de duas medalhas de prata. Foram momentos inesquecíveis que vivi em Atenas”, refere com um brilho de felicidade nos olhos.Há oito anos que Bruno Valentim é praticante de boccia, uma modalidade ligeiramente parecida com o jogo da malha, mas jogada com bolas. O objectivo é colocar bolas de cor (seis para cada lado) o mais perto possível de uma bola alvo que é lançada estrategicamente por um primeiro jogador para dentro de um campo de 10 metros por 6 metros.Embora a modalidade se adapte às suas possibilidades, não é de fácil desenvolvimento. É necessário treinar muito, duas ou três horas por dia, e para chegar aos Jogos Olímpicos, foi necessário abdicar de muitas coisas e fazer muitos sacrifícios. “Isto não é chegar, atirar umas bolinhas e já está. Foram muitas horas de treino, foram as férias hipotecadas e foram muitas ajudas da família e dos amigos”, diz agradecido o atleta.Mas nos últimos anos os atletas deficientes viram o seu valor reconhecido pelas entidades oficiais e passaram a contar com o estatuto de alta competição. “Fomos nós, atletas, treinadores e dirigentes, que com as nossas conquistas, «obrigámos» essas entidades a olharem para nós com olhos de ver”, garantiu.Para Bruno Valentim, o estatuto de alta competição é tão importante para o desenvolvimento dos atletas chamados normais como para os deficientes. “Nós temos tantas ou mais despesas do que os atletas chamados normais, e por isso temos que ter algumas regalias, porque para já o desporto para-olímpico começa a sofrer dos mesmos problemas do normal. Não sei o que é que nos vai acontecer nos próximos jogos em Pequim. Penso que não vai ser para melhor, descurou-se muito a preparação nos últimos seis anos e o desfavorecimento de que fomos alvo, vai de certeza ter repercussões nos jogos de Pequim”. Mas, embora reconheça que a manutenção das bolsas seja importante para a continuação do trabalho dos atletas, Bruno Valentim reconhece que é necessária a formação de um Comité Paraolímpico para gerir e organizar a modalidade. “É uma situação que se arrasta há longo tempo, que é preciso resolver, porque a federação já não consegue dar resposta a todas as exigências dos atletas”.O apoio da família é de capital importância para o desenvolvimento do atleta. “Vivo no Porto e para praticar a modalidade o apoio da minha família é muito importante. Portugal não é um país de voluntariado e por isso temos que ter o apoio dos familiares e dos amigos. Felizmente conto com o apoio incondicional do Boavista Futebol Clube, o meu clube de sempre, e posso dizer com satisfação que nunca senti falta de nada”, garantiu Bruno Valentim.A finalizar a conversa com O MIRANTE, Bruno Valentim fez questão de referir que a distinção que veio receber a Santarém, cidade onde viveu a maior parte da sua vida, e onde antes da doença neurológica o tornar deficiente praticou várias modalidades, foi importante para si. “Porque foi um sinal de que não fui esquecido e os meus pais tiveram também o prémio de me verem receber um troféu de mérito, que os enche de satisfação”, concluiu.

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