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Funcionária “vivia num pânico permanente”

Tribunal ouviu testemunho de psicóloga de uma das assistentes no processo do ex-vereador António Fidalgo

Na última sessão do processo do ex-vereador da Câmara de Tomar, António Fidalgo, acusado de coacção sexual por quatro funcionárias, foi ouvida a psicóloga de uma das queixosas. A especialista acredita que as alegadas investidas do vereador provocaram uma depressão na sua cliente.

A psicóloga, que acompanha uma das quatro funcionárias da Câmara de Tomar que se queixaram de ser coagidas sexualmente pelo ex-vereador António Fidalgo disse, na última sessão do julgamento, que a sua cliente andava com uma “grave depressão”. Maria Olívia Magalhães explicou ao tribunal que as causas da doença podiam estar relacionadas com o alegado assédio do autarca. Maria Olívia Magalhães, doutorada em Psicologia Médica e professora na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, transmitiu o que a suposta vítima lhe contou quando a procurou no consultório. “Ela disse-me que o vereador lhe causava pressão (…) que estava a ser vítima de assédio sexual por parte do seu chefe”, sublinhou na sessão de segunda-feira, dia 20. Segundo a especialista - que fez o seu depoimento como testemunha qualificada e não como perita indicada no processo -, quando a queixosa a procurou, em Setembro de 2001, já tinha andado a ser tratada por outro médico. Mas resolveu mudar porque não estava a sentir-se melhor. A testemunha esclareceu ainda que chegou a aconselhar a assistente no processo judicial a não falar com o presidente da câmara sobre o assunto. Tendo justificado que o fez porque “isso não ia resolver nada”. “Os homens, entre eles, protegem-se mais uns aos outros que as mulheres”, acrescentou. Maria Olívia Magalhães, que prestou testemunho através do sistema de vídeo-conferência, comentou ainda que “é comum não se acreditar na palavra das mulheres que denunciam situações de assédio”. A médica disse ainda que há tendência para as vítimas se calarem porque têm medo de perder o emprego, entre outras situações. Desta forma tentou esclarecer porque é que a assistente demorou mais de um ano a apresentar queixa do antigo autarca. E adiantou: “A ideia que tenho é que ela nunca teve coragem para levantar o processo” contra António Fidalgo.A psicóloga acreditou sempre no que a sua cliente lhe contou, até porque nas diversas conversas que tiveram sobre a questão do alegado assédio nunca detectou nenhuma contradição. Revelando que a tratou com anti-depressivos e ansiolíticos, sublinhou que a assistente e demandante no pedido de indemnização cível “vivia num pânico permanente”. Para a mensagem que a assistente terá enviado para o telemóvel do arguido - que dizia: “Um verdadeiro amigo é aquele que sabe tudo acerca de ti e mesmo assim continua teu amigo” -, a testemunha tem uma explicação. Isso “demonstra que ela queria demarcar a relação” que pretendia ter com a pessoa em causa e que era de “amizade”. Questionada pelo juiz presidente, sobre os motivos que levam uma pessoa a cometer assédio apenas num local, a testemunha salientou que isso tem que ver com questões comportamentais. Esclarecendo de seguida que as pessoas agem de forma diferente consoante o espaço em que se encontram. “Há locais onde sentem que são dominadores, onde se sentem protegidos”. Sobre o actual estado da assistente, a médica referiu que ela se sente ansiosa devido ao desenrolar do julgamento e que ainda tem “sequelas psicológicas”. E justificou o estado de ansiedade da sua paciente com o que se estava a passar na audiência em que se sentia “massacrada” com perguntas, por vezes repetitivas, e em que “tudo é posto em causa”. As condições de som da vídeo-conferência não foram as melhores, com o sistema a provocar ruídos e ecos. A próxima sessão está marcada para 20 de Dezembro.

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