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Prenda de Natal envenenada

Árbitros do Inatel vão andar 20 quilómetros de borla

A arbitragem do Inatel continua em polvorosa. Os árbitros estão descontentes com os atrasos nos pagamentos, situação que não se costumava verificar em anos anteriores. Como um mal nunca vem só, os homens do apito estão contra a nova tabela de pagamentos, em que não recebem subsídio de deslocação pelos primeiros vinte quilómetros que percorrerem para apitar um jogo.

Os árbitros de futebol que actuam no Campeonato Distrital do Inatel receberam uma prenda de Natal “envenenada”. Depois de andarem, na sua maior parte, 17 jogos a arbitrar sem receberem os subsídios a que têm direito, receberam finalmente o primeiro cheque desta época, mas, com o pagamento de apenas três jogos, correspondente a uma jornada e meia.A situação “caiu” muito mal entre os árbitros, que estavam habituados a receber a tempo e horas. “Dos 17 jogos que tínhamos para receber apenas nos pagaram uma jornada e meia, ou seja três jogos. Fiquei revoltado. Isto é andarem a brincar com a nossa dignidade”, garantiu José Manuel Ramos, um dos árbitros que está nesta situação e que não teve receio de dar a cara e denunciar o caso.José Manuel Ramos já fez chegar a sua revolta por carta ao delegado distrital do Inatel, António Rôla. “Este será o princípio de uma despedida de uma causa de que tanto gosto e sempre defendi”, refere na missiva ao responsável do Inatel. Uma causa que no dia anterior à elaboração da carta, Rôla lhe disse defender com toda a força. “Por isso a minha revolta é ainda maior. Quando recebi o cheque de pagamento pensei que as coisas iam ficar em dia. Estava satisfeito não por mim mas pelos jovens que ajudei a vir para a arbitragem do Inatel. Mas quando vi que afinal só estavam a pagar uma jornada e meia, uma ninharia para quem anda aqui todas as semanas a adiantar dinheiro para deslocações e tem que pagar equipamentos”, referiu José Manuel Ramos.Mas os atrasos nos pagamentos não são o único problema. Segundo a nova tabela, a que O MIRANTE teve acesso, por cada actuação o árbitro principal recebe 20 euros e os assistentes 17 euros, 5,5 euros para complemento de alimentação se andarem mais de 100 quilómetros num percurso de ida e volta, ou 11 euros numa distância superior a 200 quilómetros.Até aqui tudo bem. O grande problema é que, para o Inatel, as deslocação só contam a partir dos 21º quilómetro. “E só partir daí começamos a receber 0,13 cêntimos por quilómetro percorrido. Os primeiros 20 são andados de borla. Isto não será uma forma de nos afastar e acabar com o futebol no Inatel”, questiona José Manuel Ramos.O árbitro garante que ao longo dos muitos anos em que faz parte dos quadros da arbitragem do Inatel nunca se sentiu tão revoltado, e que o apoio aos árbitros por parte dos anteriores delegados António Carmo e Fernanda Asseiceira, e dos responsáveis pela arbitragem Marques Dias e agora Manuel Abreu, nunca mereceu qualquer reparo. “É agora numa altura em que é um ex-árbitro que está à frente da delegação que nós nos sentimos realmente marginalizados. Na altura do Natal havia sempre o cuidado de fazer os pagamentos de forma a que a situação ficasse praticamente em dia”, recorda.“Não ganhamos nada de jeito e andamos nisto por gostarmos. Trouxe para a arbitragem alguns jovens e agora sinto-me envergonhado quando soube que esses jovens tinham recebido apenas um jogo. Penso que é uma boa maneira de quem começa ir logo embora”, referiu José Manuel Ramos, que garantiu que vai reunir com eles para lhes pedir desculpa.“Se tivesse possibilidades pagava-lhes do meu bolso, mas como não posso, vou ter que lhes dizer que se isto não se modificar me vou embora. Não tenho possibilidades de andar a subsidiar o futebol”, afirma o árbitro, que aponta o dedo aos seus colegas do apito: “Todos falam da questão dos primeiros 20 quilómetros, mas não têm coragem para tomar uma decisão conjunta para contestar a situação”, remata José Manuel Ramos.O MIRANTE tentou obter uma reacção de António Rôla a estas declarações, mas o mesmo recusou-se a prestar qualquer comentário. Recorde-se no entanto que na edição de 2 de Dezembro do nosso jornal, o delegado distrital do Inatel referiu que tinha feito uma exposição a solicitar o fim da cláusula dos 20 quilómetros e que era esse o motivo para o atraso nos pagamentos.

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