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O teatro é a sua vida

Carlos Aurélio, actor e encenador da Meia Via

Carlos Aurélio, 41 anos, sente o teatro como a sua própria vida. Nasceu na Meia Via, uma aldeia do concelho de Torres Novas onde o teatro sempre teve grande tradição. Actor profissional, formado pelo Conservatório Nacional, Carlos Aurélio vive entre Lisboa e Meia Via há mais de 20 anos. Na capital representa, na Meia Via encena os espectáculos que o Teatro Meia Via – Associação Cultural leva à cena.

Nasceu e cresceu na Meia Via, freguesia do concelho de Torres Novas, com a janela do seu quarto virada para o teatro Maria Noémia. Uma pequena sala de espectáculos mandada construir por um cidadão da terra que a deu de presente a uma das suas filhas.Talvez por isso, e também porque a Meia Via sempre teve grande tradição teatral, Carlos Aurélio cresceu a pensar na arte cénica. “Se tivesse nascido noutra terra, seria necessariamente outra pessoa”, afirma o actor profissional, formado pelo Conservatório Nacional, que desde os 20 anos vive entre a Meia Via e Lisboa. Na capital é principalmente actor e na Meia Via, onde juntamente com alguns amigos fundou o Teatro Meia Via – Associação Cultural, tem a seu cargo a encenação das peças que o grupo representa.No liceu seguiu a área de Ciências até ao 11.º ano – “pertenço aquela geração que apanhou todas as reformas e foi no meu ano que começou o 12.º” –, fartou-se da escola e partiu para a Europa. “Fiz o mapa da fruta da Europa, andei nas vindimas em França, apanhei laranjas em Itália, só me faltaram os pomares gregos e turcos”.Voltou e foi chamado para a tropa. Cumpriu o serviço militar na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, e azar dos azares foi PE (polícia do exército) . “Eu já não queria ir para a tropa, para PE muito menos. Quando apareceu uma vaga no plantão inscrevi-me logo”. Entretanto ia estudando à noite. Mudou de Ciências para Humanidades e a única área a que tinha acesso era Filosofia. “Fiz o 12.º e matriculei-me na faculdade, mas nunca lá entrei porque ao mesmo tempo candidatei-me ao Conservatório, sem grande esperança de ser aceite. Aquilo era só para génios”.Porém, teve a segunda melhor nota, para espanto seu, e não pensou duas vezes. “Tenho o bichinho do teatro comigo. Sempre me lembro de ir assistir ao teatro da catequese, escrevi uma peça quando tinha 12 ou 13 anos, encontrei-a outro dia entre os papéis, e a primeira peça que encenei foi ‘O Duelo’, de Bernardo Santareno, andava no primeiro ano do Conservatório”. A encenação foi feita na Meia Via, com actores locais e demorou meses a preparar. No teatro, Carlos Aurélio diz que sabe de tudo um pouco. Concebe o espectáculo, já fez cenários, guarda-roupa – “não domino muito bem a luz, mas sei exigir e dizer o que está mal” – mas é principalmente um actor. Estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, numa encenação de Ricardo Pais, já representou mais de 30 peças e tem o grande desgosto de nunca ter trabalhado com Luís Miguel Cintra. “Ele sabe disso, já me viu representar várias vezes, mas nunca fui convidado para trabalhar com ele”.Fez televisão e cinema, mas é o teatro que elege acima de todas as coisas. “O cinema é cuidado, a televisão é uma fábrica, se tivesse fortuna nunca trabalharia em televisão. O teatro é o mais completo, existe no momento e tudo tem de ser trabalhado ao pormenor.”O nervoso da estreia, o jogo de sedução entre actor e público e a riqueza do texto enchem a alma deste meiaviense. “Para haver teatro têm que estar reunidas três coisas: o texto, o espectáculo e o público. Sem este triângulo o teatro não existe”. Para Carlos Aurélio ser actor é muito mais confortável do que ser encenador. “É mais estimulante, mas muito mais duro. No dia da estreia o encenador sente o medo de todos os actores, o medo de todo o espectáculo e passado 15 dias fica sem nada”. Já encenou peças em Lisboa, mas na Meia Via esse trabalho árduo e estimulante está sobre os seus ombros. À sua frente tem um conjunto de actores amadores porque ninguém lhe paga para fazer teatro. “O empenho e a dedicação chega a ser emocio-nante”, confessa o encenador/actor que em Lisboa “é apenas mais um”, mas na sua terra Natal “sente-se útil”. O seu grande objectivo era conseguir trabalhar num projecto profissional a nível da região.Com a peça infantil ‘Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles’, que estreamos recentemente, trabalhámos quase a nível profissional. A peça tem 45 minutos e chegamos a fazer quatro representações”.Até Fevereiro, Carlos Aurélio vai ficar pela Meia Via, com umas pequenas incursões a Lisboa, para fazer curtas gravações. E na Meia Via há duas peças a serem trabalhadas - “As Três Irmãs”, de Anton Tchekov, e “O jogo do amor e do acaso”, de Pierre Marivaux.“Estamos a trabalhar mais a peça de Marivaux. ‘As Três Irmãs’ aguarda nova oportunidade”, esclarece. A escolha das peças a representar é também da sua responsabilidade e os textos clássicos são a principal opção “Escolho para a Meia Via o repertório que o D. Maria II podia escolher”, afirma considerando que o teatro contemporâneo é, por vezes, muito agressivo e dirige-se a um público mais específico. Margarida Trincão

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