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Veiga Maltez fora de jogo

Veiga Maltez fora de jogo

Presidente da Câmara da Golegã não se recandidata zangado com as guerras políticas internas

Farto de críticas e deslealdades, o presidente da Câmara da Golegã decidiu não se recandidatar em nome de valores éticos e da estabilidade política no concelho. A decisão foi anunciada na sessão da assembleia municipal, que acabou por abandonar a meio indignado com o comportamento de alguns políticos.

O presidente da Câmara da Golegã não se vai recandidatar ao cargo nas eleições autárquicas de 2005. Veiga Maltez anunciou a sua decisão na sessão da assembleia municipal de 22 de Dezembro, apanhando de surpresa muita gente. À sua decisão não são alheias as quezílias políticas que vem mantendo com o seu ex-número dois no executivo - o socialista Vítor Guia, a quem retirou parte dos pelouros em Junho passado -, nem as críticas que lhe foram dirigidas no âmbito do processo de acerto de fronteiras entre os concelhos de Golegã e Santarém.Numa curta declaração lida na assembleia, que não mereceu reacção de nenhuma das bancadas, Veiga Maltez lançou críticas aqueles que desconhecem ou desvalorizam os “valores éticos e de serviço público” que diz ter sempre prosseguido “acima de quaisquer interesses”. Mesmo sem especificar os destinatários da mensagem, é óbvio que se trata de pessoas que foram seus colaboradores próximos quando refere: “Nem sempre fui acompanhado e seguido, reconheço. Mas os que ainda me acompanham supriram, e suprem, as faltas”.Foi em nome de alguma estabilidade política, e para evitar especulações futuras, que o autarca decidiu bater com a porta. “A projecção de um quadro político-institucional futuro em convivência com essa forma de ver e fazer política é insuportável. Não sou, por isso, candidato às próximas eleições autárquicas na Golegã”, afirmou.Antes, Veiga Maltez havia manifestado o “orgulho” pelo muito que contribuiu enquanto líder de um executivo que “muito contribuiu para a expressão local, regional, nacional e internacional que o nosso concelho granjeia”. E acrescentou: “Os munícipes usufruem de uma qualidade de vida de que, porventura, nem se apercebem”.O pano de fundo para esta decisão drástica remonta a Junho passado, quando Veiga Maltez retirou alguns pelouros ao seu número dois no executivo, Vítor Guia, que na altura se encontrava de baixa por doença. O que, na sua óptica, “potenciou o completo abandono” dos pelouros do Desporto, Tempos Livres e Transportes. Na mesma acta é ainda mencionado que Vítor Guia não informava o presidente das actividades e tarefas que lhe foram atribuídas, “em confronto” com o que estipula a lei.A resposta de Vítor Guia surgiu um mês depois, novamente em reunião camarária. O então número dois do executivo comunicou a sua aposentação e entregou o resto dos pelouros, mantendo-se no entanto como vereador. Já este mês, em entrevista a O MIRANTE, explicou que a entrega dos pelouros se deveu a discordâncias quanto à forma como Veiga Maltez vinha gerindo o município. Acusou mesmo o presidente da câmara de falta de lealdade e de omitir informação.Uma reacção potenciada pela entrevista dada em Novembro a O MIRANTE por Veiga Maltez, onde este explicava as mudanças no executivo com a aposentação de Vítor Guia e com a necessidade de remodelar alguns pelouros. “É uma remodelação que já estava prevista até pelo próprio senhor Vítor Guia, que no início não tinha a certeza de ficar até ao fim do segundo mandato”.A polémica gerada pela aprovação, pela Assembleia da República, da alteração dos limites dos concelhos da Golegã e Santarém, com a integração da freguesia de Pombalinho no concelho da Golegã, acabou por deitar mais uma acha para a fogueira. A população da Azinhaga - freguesia que no âmbito desse diploma fica amputada de 400 hectares de área -, contesta a posição neutral de Veiga Maltez, que afirmou tratar-se de uma decisão do Parlamento que não iria comentar.Numa reunião realizada no dia19 em Azinhaga, as críticas fizeram-se sentir: “O concelho da Golegã fica sempre a ganhar, mas a Azinhaga que é perde”, ouviu-se na sala, onde se considerou que a câmara e o seu presidente deviam tomar posição sobre o assunto. “Fomos nós que o elegemos”.A câmara acabou por tomar posição, unânime, na manhã de quinta-feira, 23, apelando ao Presidente da República que não promulgue o diploma proposto pelo deputado do CDS Herculano Gonçalves.Moção de solidariedade para Maltez Na assembleia municipal de quarta-feira, os membros do PS apresentaram uma moção em que defendem Veiga Maltez da “tentativa deliberada, por parte de algumas pessoas, de responsabilizar o presidente da câmara, acusando-o de intervenção no processo que levou à integração da freguesia do Pombalinho no concelho da Golegã e alteração dos limites das freguesias”.Manifestando a sua “total e completa solidariedade” para com o presidente da câmara, os subscritores do documento apelam ainda para “pararem de denegrir a imagem daquele que tem dado muito de si a este concelho”. O texto foi aprovado unicamente com os votos do PS, mas não de todos os elementos da bancada o que mostra que até nisso o PS está dividido. O presidente da Junta de Azinhaga, Francisco Asseiceira, e João Luís Santos abstiveram-se. Tal como os elementos do PSD e da CDU.Quem concorda inteiramente com a moção é a concelhia socialista. “Pensamos que é injusto imputar responsabilidades ao presidente da câmara”, afirmou Rui Medinas, acrescentando que a moção expressa a opinião da concelhia em todo este processo, podendo haver militantes do PS que individualmente tenham outras opiniões. Medinas atribuiu toda esta confusão a uma “má interpretação” que foi feita das palavras de Veiga Maltez.Tristeza e elogiosA decisão do presidente da Câmara da Golegã causou “tristeza e apreensão em relação ao futuro” na concelhia socialista da Golegã, disse a O MIRANTE o presidente daquele órgão, Rui Medinas. “É um autarca de excelência e o PS tem orgulho no trabalho que ele e a sua equipa tem desempenhado”, continuou. Em relação ao candidato socialista à presidência da câmara, esclareceu que o processo ainda não foi iniciado. Paulo Fonseca, presidente da distrital socialista, considerou o trabalho desenvolvido por Veiga Maltez “extremamente positivo” mas não se alargou em comentários justificando que neste momento as atenções estão viradas para as eleições legislativas de 20 de Fevereiro.
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