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Prevenir antes que a terra trema

Prevenir antes que a terra trema

Plano de emergência distrital está a ser elaborado, sabendo-se que a zona sul é a mais vulnerável

O primeiro plano distrital de emergência, específico para a ocorrência de sismos, vai estar concluído no primeiro semestre de 2005. Um plano que surge quase cem anos após o grande terramoto de Benavente que destruiu a vila e provocou 39 mortos.

No dia 23 de Abril de 1909, um sismo fez tremer a região. Localidades como Benavente, Samora Correia, Santo Estêvão e Salvaterra de Magos ficaram parcialmente destruídas. Quase cem anos depois a possibilidade do cenário se repetir é elevada e as consequências muito maiores. Há mais edifícios e mais população. Por isso a protecção civil de Santarém espera ter pronto um plano distrital de emergência dentro de seis meses. Já que é impossível prever quando vai ocorrer um terramoto.Naquela altura, não existiam os meios que estão hoje ao alcance dos bombeiros. Os planos de intervenção eram uma miragem. Só seis horas depois do sismo chegaram ao local o governador civil de Santarém, o chefe da polícia, guardas cívicos e bombeiros. Morreram 39 pessoas. Só no dia 24 de Abril os feridos começaram a ser transportados num vapor para Lisboa.Se fosse hoje, a intervenção poderia ser muito mais rápida. Nos últimos tempos a região tem sido alvo de estudos sobre o edificado das localidades, as vias de comunicação, telecomunicações, meios de socorro, entre outros. O Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) dispõe de um simulador informático que permite traçar cenários de destruição consoante a intensidade do sismo. A área metropolitana de Lisboa dispõe já de um estudo científico específico para os sismos, com base nas variantes dadas pelo simulador. Nele se incluem os concelhos de Cartaxo, Salvaterra de Magos e Benavente. Aqueles onde se prevê que as consequências de um sismo sejam mais graves. Os concelhos vizinhos estão também a trabalhar em planos específicos de emergência e intervenção. A existência de sismos catastróficos nos últimos anos noutros países e o sismo recentemente sentido um pouco por todo o país fizeram despertar para a necessidade de Portugal se precaver. Sobretudo a zona do vale do Tejo, que, com base no registo dos vários sismos ocorridos antes e depois de 1909, se encontra num grau de risco entre o sete e o nove na escala de Mercalli, que vai até 12 (ver caixa).Segundo o coordenador distrital do SNBPC, o plano de emergência distrital, que deve ficar concluído no primeiro semestre de 2005, está a decorrer em paralelo com vários planos municipais. Joaquim Chambel esclarece que as situações de sismos já estão previstas nos planos municipais de emergência. O que se está a fazer agora é um plano mais específico para este tipo de ocorrências. O plano distrital tem por objectivo traçar a coordenação e a cadeia de comando numa situação de terramoto. Define também a resposta que deve ser dada, de onde pode vir o apoio e qual o tipo de reforço com que podem contar. Trata-se, segundo diz, de um plano “com cenários agregados que traçam efeitos próximos da realidade”. Para isso foi necessário fazer um demorado e exaustivo levantamento das características dos vários concelhos do distrito. Foram identificados e classificados os edifícios públicos, quartéis de bombeiros, centros de dia e lares, cresches, infantários, centros de saúde, hospitais, redes de energia e telefónicas, entre outras. O estudo incluiu a especificação do ano e tipo de construção e o número de pisos.O plano pretende ser um mecanismo que permite activar uma resposta rápida das zonas menos vulneráveis. No caso da região essa zona é a do norte do distrito de Santarém. Saber com que tipo de meios se pode contar e onde eles estão. No entanto, conforme diz o comandante dos Bombeiros Municipais de Santarém e responsável pela protecção civil no concelho, Pedro Carvalho, “um plano não dá resposta a todas as situações, porque pode haver muitos efeitos imprevisíveis. Quer seja aqui, quer seja em qualquer parte do mundo”.Os graus de risco na regiãoCom base nos mapas da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES) os graus de risco na região situam-se entre o grau 7 e o grau 9 na escala de Mercalli Modificada (MMI). Dentro da zona mais vulnerável está Benavente e as suas freguesias de Samora Correia e Santo Estêvão, com grau nove. À medida que se sobe em direcção a Almeirim o risco diminui para 8. Dentro desta intensidade, registada e sentida em 1909, está Muge (concelho de Salvaterra de Magos) e Almeirim. Azambuja está numa zona de transição do 8 para o 7. No grau 7 MMI estão Coruche, Santarém, Cartaxo, Alenquer, Castanheira do Ribatejo, Vila Franca de Xira, Alhandra, Alverca e Póvoa de Santa Iria. À medida que se caminha para norte a vulnerabilidade diminui. Com base nos registos da SPES, tendo em conta a intensidade do sismo de 1909 e outros, Tomar apresenta um risco de intensidade 6. Na escala de Mercalli Modificada o grau 9 é classificado como “Desastroso”. Neste índice ocorre o desmoronamento de alguns edifícios e há danos consideráveis em construções sólidas. No grau 7 – “Ruinoso” – são provocados danos acentuados em construções sólidas. Os edifícios de muito boa construção sofrem alguns danos. Podem cair campanários e chaminés de fábricas. O grau 7 é considerado “Muito Forte” e durante um sismo desta intensidade há estragos limitados em edifícios de boa construção, mas importantes e generalizados nas construções mais frágeis. É facilmente perceptível pelos condutores de veículos automóveis em trânsito e desencadeia pânico geral nas populações. Perante um sismo na escala 6 MMI, (Forte) ocorre pânico nas populações. Produzem-se leves danos nas habitações, podendo cair algumas chaminés. O mobiliário menos pesado é deslocado. A título comparativo, refira-se que no grau 1 os sismos apenas são detectados pelos aparelhos de precisão, ou sismógrafos. No grau 12, o máximo, identificado como “Cataclismo”, ocorre a destruição total. Este grau nunca foi presenciado.
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