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Em Mação também há gravuras rupestres

Uma exposição vai das paredes do museu até ao vale do Ocreza

A arte rupestre do vale do rio Ocreza é o mote para a exposição que está a ser preparada no Museu Municipal de Mação. Os achados integram um projecto mais amplo, ainda em fase embrionária: o Parque Arqueológico e Ambiental do Médio Tejo.

Em Mação, entre o Alto Ribatejo e as Beiras, está a nascer um museu que sai das paredes de um edifício, expandindo-se por uma paisagem imponente, num convite à descoberta da arte rupestre e da natureza.O percurso, que tem por base a arte rupestre do vale do rio Ocreza, começará na exposição permanente “Da Pré-História à actualidade: a arte e o sagrado no Vale do Tejo”, a inaugurar em meados de Março no Museu Municipal de Mação, um velho edifício que está a ser recuperado pela câmara municipal, apesar da recusa de apoio do Programa Operacional de Cultura.Daí, o museu, que a autarquia está a desenvolver com o Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo (CEIPHAR), do Instituto Politécnico de Tomar, passa para uma área de cerca de 14 quilómetros ao longo do rio Ocreza, alvo de um concurso internacional de ideias, cujo projecto vencedor, dos 22 concorrentes, vai ser publicado este mês na revista da Ordem dos Arquitectos.O projecto esboça os passos e as estruturas que permitirão descobrir e interpretar as dezenas de pequenas figuras picotadas há dezenas de milhares de anos em pedras escuras nas margens do rio Ocreza, desde a barragem da Pracana até à Barca da Amieira, numa paisagem que remete a imaginação do visitante para a Pré-História.Além da exposição permanente, o edifício do museu terá uma sala para exposições temporárias (nomeadamente com as reservas de colecção do museu) e ainda espaços para ateliers de experimentação, destinados aos mais jovens, laboratório de conservação e restauro, gabinetes para investigadores e uma biblioteca especializada em Arte Rupestre.Fora de paredes, o museu prolongar-se-á pelo Centro de Aprendizagem e Observação, na Barca da Amieira, pelo vale do Ocreza (figuras rupestres), pelo Pego da Rainha (pinturas rupestres), pelas estações arqueológicas da Anta da Foz do Rio Frio, termas romanas e Castelo Velho do Caratão, ou pelo futuro museu etnográfico e das profissões e pela galeria de artes plásticas (contraponto actual da arte do Ocreza).Sara Cura, uma das responsáveis do Museu que tem acompanhado muitos dos grupos de estudiosos e curiosos que visitam a zona, sublinha o objectivo subjacente a este museu, o da valorização do património num sentido “muito lato”, que vai do histórico ao natural.“É um conceito de museu para além das paredes, é todo um território de vestígios que não são musealizáveis. Obviamente que há objectos no museu, mas eles remetem para o enquadramento e a implantação no local”, afirmou à Agência Lusa.Além do vale do Ocreza, Sara Cura destaca a imponência da paisagem no Pego da Rainha, de onde se vislumbram, nas escarpas, os abrigos que escondem as pinturas rupestres, também aqui próximo da água, que jorra numa pequena cascata.“Quando falamos da Pré-História não podemos só mostrar os objectos, é preciso dar também a conhecer a dimensão mais social e mais comportamental daquelas sociedades”, disse, sublinhando a importância de pôr os visitantes em contacto directo com os locais, na premissa de que as pessoas “não podem preservar o que não conhecem”.Daí a aposta também nos serviços educativos do museu, em particular nos ateliers de arqueologia experimental, que “aguçam muito a curiosidade e dão outro significado às visitas”, disse.Texto de Maria de Lurdes Lopes (Lusa) – Foto de Paulo Novais (Lusa)Parque Arqueológico e Ambiental do Médio Tejo em marchaO museu, que está a ser reestruturado desde 2001, quando foram descobertos dezenas de painéis de arte rupestre no vale do Ocreza, insere-se num projecto mais vasto, o Parque Arqueológico e Ambiental do Médio Tejo, que tem em Mação um pólo fundamental mas que se estende por todo o Alto Ribatejo.Numa fase ainda embrionária, esse projecto atrai já cerca de 15.000 visitantes por ano, apostando na articulação entre as várias valências disponíveis na região.O director do museu, Luiz Oosterbeek, destacou a investigação, centrada no CEIPHAR, os centros de interpretação de Arqueologia (Barquinha) e da nascente do Alviela (Alcanena), os futuros museus do Almourol ou de Alvaiázere, as pegadas de dinossauros (Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros), além de um vasto conjunto de vestígios que remetem para épocas remotas da nossa História (desde a Pré- História ao início da nacionalidade).Luíz Oosterbeek sublinhou também o carácter internacional do projecto, que tem contado com a colaboração de peritos da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e o envolvimento em parcerias com apoios da União Europeia.A abertura do museu em Mação deverá coincidir com a realização de um seminário internacional sobre o impacto dos riscos naturais na arte rupestre que trará ao concelho especialistas de todo o Mundo.A redescoberta da arte rupestre no vale do Ocreza (aquando das obras de construção da A23), a zona mais a jusante do complexo de arte rupestre do Vale do Tejo - conhecido há três décadas mas impedido de ser valorizado pela barragem do Fratel -, veio permitir mostrar “um pouco desse património”, afirmou Luíz Oosterbeek.Para o presidente da Câmara Municipal de Mação, José Saldanha Rocha, apesar da falta de apoios do Ministério da Cultura, a autarquia decidiu avançar, porque está convencida da grande importância do projecto não só para a região mas também para o país, até pela massa cinzenta que já atrai, incluindo de outros países europeus.“Gostava que o Ministério da Cultura compreendesse isto e que o interior do país também consegue fazer coisas boas”, afirmou à Lusa.

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